'Escolha de aliado é piada': a reação ao novo premiê na França
A nomeação de François Bayrou para o cargo de primeiro-ministro da França dividiu opiniões de deputados e líderes partidários da direita, que evitaram críticas sem sinalizar apoio direto à escolha de Macron, e da esquerda, que reagiram com aversão ao novo nomeado.
O que aconteceu
Menos de 10 minutos após o anúncio, França Insubmissa disse que entraria com ação para questionar indicação de François. A presidente da legenda de extrema-esquerda, Mathilde Panot, anunciou que protocolaria uma moção de censura, que na prática funciona como uma contestação da responsabilidade do governo. A aprovação do mecanismo em votação foi o que motivou o pedido de demissão do premiê anterior.
"Piada com franceses", diz criador do partido Picardie debout. O deputado François Ruffin, fundador do partido de extrema esquerda Picardie debout, classificou como piada o fato de Emmanuel Macron ter escolhido um aliado de sete anos para o governo após o parlamento "ordenar mudanças". Ele também mencionou a censura como alternativa.
Partido Socialista pediu que Bayrou abrisse mão de artigo da Constituição para não mover censura contra ele. Em carta, a legenda pediu que o novo premiê desista do artigo 49.3, ferramenta que permite que o governo adote leis sem passar por votação na Assembleia Nacional. O partido também afirmou que Macron "piora a crise política e democrática do país" com a escolha.
Porta-voz da extrema direita disse que partido não vai apoiar censura. O eurodeputado Jordan Bardella, do partido Reagrupamento Nacional, afirmou que o novo primeiro-ministro precisa "levar a situação política do país em consideração". A moção também foi descartada por Eric Ciotti, representante do partido União da Direita da República.
Marine Le Pen pede que Bayrou "escute a oposição". Em publicação nas redes sociais, a ex-candidata da extrema direita à presidência criticou a demora de Macron para indicar o novo presidente, mas pediu que o novo indicado fizesse um orçamento "razoável e ponderado". A ex-candidata à presidência pelo partido conservador Republicanos Valérie Pécresse, por sua vez, parabenizou o novo premiê, afirmando que ele deve ter como prioridade "ordenar as finanças" do país.
Ex-ministros sinalizaram positivamente à indicação. Entre os que parabenizaram Bayrou estão o ex representante da pasta de Relações Internacionais da França, Jean-Noël Barrot, e o ex-primero-ministro Gabriel Attal, que serviu ao governo em 2024. "Ele tem as qualidades necessárias para defender o interesse de todos e construir a estabilidade que os franceses esperam", disse Attal em publicação nas redes sociais.
Macron está zombando dos franceses. Eles exigem mudança, mas ele escolhe seu aliado de sete anos. O guardião de seu legado. É uma loucura para o país, para sua democracia. Haverá censura, a menos que haja uma epifania.
François Ruffin, sobre nomeação de François Bayrou
Pedimos a ele que faça o que seu antecessor não quis: ouvir as oposições para montar um orçamento sensato e bem pensado. Qualquer outra política que seja apenas uma continuação do macronismo, rejeitado duas vezes nas urnas, só vai levar a um beco sem saída e ao fracasso.
Marine Le Pen, sobre nomeação de François Bayrou
Nomeação de Bayrou
O nome do novo primeiro-ministro foi divulgado em comunicado à imprensa nesta sexta-feira (13). Anúncio ocorre pouco mais de uma semana após a demissão de Michel Barnier.
Nomeação foi feita após "trabalho para convencer" Macron e ameaça de romper relações políticas, diz jornal. Segundo o Le Monde, a reunião que o presidente teve com o novo primeiro-ministro nesta manhã foi para informar que ele não seria indicado para o cargo e para oferecer uma posição de "número dois" em um governo liderado por Roland Lescure.
Bayrou teria ameaçado deixar a coalizão governamental da já fragilizada presidência. O centrista ocupava o cargo de Alto Comissário do Planejamento, encarregado de liderar e coordenar o trabalho de reflexão e planejamento das políticas públicas, levando em consideração aspectos demográficos, econômicos, sociais, ambientais, de saúde, tecnológicos e culturais.
Quem é François Bayrou
O líder centrista já foi ministro da Segurança de Macron. Ele decidiu se demitir em 2017 após investigações contra o partido criado por ele. Na ocasião, legenda era suspeita de utilizar dinheiro recebido por eurodeputados para contratar assistentes parlamentares que trabalhavam para o próprio grupo. Bayrou também já foi líder da pasta de Educação.
Político disputou eleições presidenciais três vezes - em 2002, 2007 e 2012. Com posicionamento "moderado", ele é considerado um nome apreciado pelos franceses, com uma série de mandatos parlamentares e uma passagem como deputado do Parlamento Europeu.
Atualmente, Bayrou é prefeito da comuna de Pau. O político ocupa o cargo há 10 anos na região dos Pirineus, no sudoeste da França, onde também ocupou vários cargos na administração regional nas últimas décadas.
Vida pessoal. Aos 73 anos, o novo primeiro-ministro é casado, tem seis filhos e 21 netos.
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