Planeta sob tensão: além da Síria, veja 10 guerras travadas mundo afora
Colaboração para o UOL*
14/12/2024 05h30
A Guerra Civil na Síria vive um novo capítulo desde o domingo (8), com a queda do regime de Bashar Al-Assad, que governava o país desde 2000, e sua subsequente fuga para a Rússia. Rebeldes agora assumiram o poder no país, mas é incerto quando o país deverá estar efetivamente pacificado.
Este não é o único conflito que causou mortes e instabilidades políticas nos últimos anos. Entenda essa e veja outras guerras em andamento - lembrando que há ainda lugares com muita tensão, como Venezuela x Guiana, China x Taiwan e as Coreias:
Síria
Protestos contra o presidente Bashar al-Assad da Síria, em 2011, se transformaram em uma guerra civil que já dura mais de uma década. O confronto já deixou mais de 380 mil mortos, 200 mil desaparecidos, arrasou cidades e envolveu outros países estrangeiros.
A Guerra na Síria foi deflagrada após denúncias de corrupção no governo do país. Em março de 2011, vieram os protestos ao sul de Derra em favor da democracia. A população revoltou-se contra a prisão de adolescentes que escreveram palavras revolucionárias nas paredes de uma escola. Centenas de grupos rebeldes surgiram e não demorou muito para que o conflito se tornasse mais do que apenas uma batalha entre sírios a favor ou contra Assad.
Países como Rússia, Estados Unidos, Reino Unido e França também tomaram partido no conflito, enviando dinheiro, armas e combatentes. Além disso, organizações jihadistas, como o grupo extremista autodenominado Estado Islâmico (EI) e a Al-Qaeda, também se envolveram.
A guerra na Síria tinha diminuído sua intensidade nos últimos anos, com Assad conseguindo dominar boa parte do país, mas a resistência persistiu — e tomou o poder em 8 de dezembro, após cerca de duas semanas de ofensivas. Assad fugiu para a Rússia desde então e os rebeldes assumiram o governo do país. No entanto, instabilidades seguem e o presidente Lula deu ordem para que a Embaixada do Brasil em Damasco seja evacuada.
Por outro lado, com a queda de Assad, Israel passou a realizar mais ofensivas militares em território sírio — um esforço que o Hezbollah considera uma tentativa de ocupação de territórios nas Colinas de Golã, enquanto Israel afirma ser uma medida preventiva de destruição de armas que poderiam ser usadas por rebeldes.
Palestina
Aa situação em Gaza ainda é delicada e recebe menos atenção no Ocidente do que sua gravidade impõe. Desde que o Exército de Israel iniciou uma ofensiva na região após os ataques terroristas do Hamas em 2023, que deixaram mais de 1.200 mortos — o maior massacre de judeus desde o Holocausto —, a infraestrutura de suas cidades foi destruída.
Mais grave do que isso, mais de 43.700 civis palestinos foram mortos, o que levou a ONU (Organização das Nações Unidas) a acusar o Estado de Israel de genocídio. Contudo, Israel considera sua operação justificada, já que há cerca de uma centena de reféns israelenses feitos nos ataques de 2023 que segue em poder do Hamas, de acordo com estimativas do seu governo.
Além disso, o objetivo da administração de Netanyahu seria destruir a milícia islâmica, e seus oficiais defendem que o Hamas ainda mantém seu comando na Faixa de Gaza. O arquiteto dos ataques de outubro de 2023, Yahya Sinwar, foi morto em Rafah por forças israelenses em outubro deste ano.
Líbano
Israel iniciou ofensivas contra o país em outubro de 2024, violando a resolução 425 do Conselho de Segurança da ONU de 1978, que determina que apenas os cerca de 9.500 membros das forças de paz das Nações Unidas (Unifil), além do exército libanês, podem atuar na região. Em 2000, a Unifil estabeleceu a "linha azul", uma faixa de 120 quilômetros ao longo do sul do Líbano para garantir a retirada completa das forças israelenses e garantir a autonomia do governo libanês.
No entanto, Israel prometeu atacar "sem piedade" o Hezbollah, milícia islâmica que atua no Líbano e é parte do chamado "Eixo da Resistência", grupo de inimigos israelenses financiados pelo Irã que estaria envolvido nas ações terroristas de outubro de 2023, que levaram à guerra em Gaza. Hassan Nasrallah, o número 1 do Hezbollah, foi morto durante um bombardeio em Beirute. No fim de novembro, Israel havia anunciado um cessar-fogo na região, mas voltou a atacar o sul do Líbano na primeira semana de dezembro.
Ucrânia
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022. Sem um fim à vista para o conflito, os russos ocupam áreas significativas no leste e no sul do país.
As forças russas tomaram grandes partes do território na região de Kharkiv nos primeiros dias da invasão. Desde então, o Exército ucraniano recuperou parte do território fronteiriço durante uma ofensiva-relâmpago lançada no final do ano passado.
A guerra da Ucrânia provocou uma grande mobilização internacional como poucas vezes se viu na última década. Mas, apesar dos esforços diplomáticos para resolver a situação, o conflito continua a ser uma fonte de instabilidade na região.
Etiópia
Uma guerra que dura mais de dois anos já deixou milhares de mortos na Etiópia, leste da África. As forças pró-governo e os rebeldes da região de Tigré duelam no norte do país desde novembro de 2020, quando o primeiro-ministro Abiy Ahmed enviou o exército federal para expulsar as autoridades da área, governada até então pela TPFL (Frente de Libertação do Povo Tigré), movimento que contestava sua autoridade.
As tropas da TPLF foram derrotadas, mas, em 2021, os rebeldes tomaram o controle da região e, desde então, avançaram para locais próximos de Amhara e Afar.
Em março deste ano, o governo etíope e os rebeldes da região de Tigré anunciaram um cessar-fogo. Mas uma nova frente de batalha, na região de Afar, colocou em risco as negociações de paz e o conflito foi retomado em agosto de 2022. O segundo cessar-fogo foi acordado em novembro de 2022 e, desde então, a região está em relativa paz.
Apesar da suspensão dos confrontos que já dura dois anos, as forças da Eritreia ainda ocupam a área ao longo da fronteira na Etiópia, mostrou o canal France 24 em novembro.
Iêmen
O Iêmen vive hoje um dos períodos mais violentos desde 2014, quando iniciou a guerra civil no país que coloca em embate direto duas potências do Oriente Médio. De um lado estão as forças do governo de Abd-Rabbu Mansour Hadi, apoiadas por uma coalizão sunita liderada pela Arábia Saudita. Do outro, a milícia rebelde houthi, de xiitas, apoiada pelo Irã, que controla a capital, Sanaa, e partes do oeste do país.
O conflito foi motivado pelo fracasso da transição política após a Primavera Árabe, que obrigou o antigo presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, a entregar o poder ao seu vice, Abdrabbuh Mansour Hadi, em 2011.
A ONU (Organização das Nações Unidas) classifica o Iêmen como a pior situação humanitária do mundo. Até o momento, a guerra já causou 233 mil mortes, incluindo 131 mil por causas indiretas, como falta de alimentos, serviços de saúde e infraestrutura. Mais de 10 mil crianças morreram como consequência direta dos combates.
Mianmar
Em fevereiro de 2021, o exército de Mianmar derrubou o governo eleito do país, prendeu líderes políticos, fechou o acesso à internet e suspendeu os voos internacionais. Isso resultou em uma guerra civil que já dura mais de um ano entre militares e grupos organizados de civis armados.
De acordo com a ONU, os confrontos estão espalhados por todas as regiões do país e mais de 5.300 civis foram mortos desde que os militares tomaram o poder em 1º de fevereiro de 2021.
Os grupos que lutam contra as forças do governo são conhecidos coletivamente como PDF (Força de Defesa do Povo, na sigla em inglês), uma rede informal de grupos de milícias civis composta em grande parte por jovens. Em 9 de dezembro, rebeldes de Mianmar tomaram as fronteiras do país com Bangladesh, em um novo avanço do conflito.
Sudão do Sul
O Sudão do Sul é o país mais novo do mundo. Foi reconhecido em 2011, após a separação com o Sudão. Mas a nova nação enfrenta uma guerra civil desde 2013, em que mais de 17 mil crianças atuaram como soldados, e está mergulhada em um quadro de violência político-étnica e instabilidade crônica.
De acordo com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, das 12 milhões de pessoas que habitam o Sudão do Sul, 6 milhões estão em situação de fome e necessitam de assistência alimentar.
Um acordo de paz assinado em 2018 pelos inimigos Riek Machar e Salva Kiir encontra enormes dificuldades de ser implementado. Em 2021, o país passou por suas primeiras eleições, mas conflitos localizados dentros de comunidades, entre fronteiras e milícias seguem eclodindo. Mais de dois milhões de sul-sudaneses já fugiram do país, constituindo a "maior crise de refugiados da África", segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
Militantes Islâmicos na África
Após a queda do Estado Islâmico no Oriente Médio, em 2017, grupos de militantes islâmicos se voltaram cada vez mais para a África, onde governos fragilizados não possuem força suficiente combater a sua influência.
Esses grupos jihajistas tentam dominar várias regiões em países como Mali, Niger, Burkina Faso, Somália, Congo e Moçambique.
Em setembro, militantes atacaram Bamako, capital do Mali, pela primeira vez em quase uma década — demonstrando sua capacidade de executar missões de grande porte. Segundo a AP, em agosto pelo menos 100 moradores e soldados já haviam sido mortos na região central de Burkina Faso durante um ataque no fim de semana de jihadistas ligados a Al-Qaeda.
Existe o temor de que esses conflitos possam ser prolongados, gerando inúmeras mortes e problemas humanitários.
Afeganistão
O Afeganistão já foi palco de um dos conflitos mais noticiados do mundo, após os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos. O governo norte-americano invadiu o país sob a acusação de que o Talebã esteve por trás dos atentados. Foram quase duas décadas de intensos combates e milhares de mortes, até que o Talebã voltou ao poder no ano passado.
Inicialmente, o nível de violência caiu no país, mas a nação enfrenta uma das mais graves crises humanitárias que já se viu por causa das sanções e isolamento impostos por grande parte do mundo, além de retrocessos em direitos das mulheres e em campos como a educação. Na quarta, 11 de dezembro, houve uma escalada nas tensões: o primeiro ataque por homem-bomba desde a retomada do poder pelo Talebã matou o Ministro para Refugiados, Khalil Haqqani, membro do grupo que governa o país.
Nagorno-Karabakh
Armênia e Azerbaijão lutaram pelo controle de Nagorno-Karabakh até setembro de 2023, quando o exército do Azerbaijão tomou a região separatista e os armênios foram expulsos. Desde então, a Armênia afirma que já recebeu mais de 50 mil refugiados. O país agora acusa o Azerbaijão de "limpeza étnica" nos órgãos internacionais.
Para os habitantes que deixaram Nagorno-Karabakh, esta região faz parte da Grande Armênia, um teórico conjunto de áreas historicamente povoadas pelo grupo étnico armênio cristão ortodoxo. Já o Azerbaijão é um território de maioria muçulmana. Para os sucessivos dirigentes de Baku, a região montanhosa de Nagorno-Karabakh mais a extensa faixa adjacente do sul da Armênia provocam uma descontinuidade territorial indesejada.
Apesar da dissolução do governo local e da entrega do território aos armênios, a presença militar segue na região — assim como a sensação de instabilidade, devido à destruição da herança cultural armênia.
*Com reportagens publicadas em 12/04/2022 e 09/10/2023