Conteúdo publicado há 29 dias

Economia, imigração são desafios para Trump em meio à polarização

Com o segundo mandato iniciado, o presidente dos EUA Donald Trump deve por a prova diversas promessas de campanha, incluindo restrições mais pesadas para a imigração no país e maiores barreiras tarifárias. No entanto, apesar da vitória contra Kamala Harris, o republicano precisará liderar para todo o país —e entregar resultados na mais latente preocupação dos eleitores americanos: a economia.

Como está a economia dos EUA agora

Trump vai precisar levar "números positivos" da economia às prateleiras de supermercados e melhorar a comunicação sobre o assunto. A professora Flávia Loss de Araújo, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, diz que os índices de recuperação do país após a pandemia não se refletem nos bolsos dos americanos, principalmente dos mais pobres, o que justifica a insatisfação.

O Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos (FED) tem a meta de baixar a inflação do país a 2% ao ano. Em 2022, ela ficou em torno de 8%, atingindo os maiores números em quatro décadas. Agora, ela está pouco abaixo dos 3%.

Você tem hoje uma taxa de desemprego de mais ou menos 4%, analisando o histórico mensal de 2024. Também há um crescimento no PIB em relação a 2023. São bons índices, mas a percepção dos americanos é de que a economia vai mal. O governo Biden tem uma dificuldade de se comunicar com a população para explicar que, na verdade, o que eles estão vivendo é uma recuperação do cenário pós covid e que está indo bem.
Flávia Loss coordenadora da pós em Relações Internacionais da FESP

Trump defende a ampliação de barreiras tarifárias como uma maneira de punir os países por déficits comerciais. Durante a campanha eleitoral de 2024, Trump ameaçou tarifas gerais de 10% a 20% sobre todos os produtos que entrarem nos EUA e até 60% sobre os produtos chineses, implementados no seu primeiro dia no cargo. "A palavra tarifa é a palavra mais bonita do dicionário", disse ele em outubro.

Mais recentemente, ele também citou taxar em 25% todos os produtos do México e do Canadá. O México prometeu entrar na disputa fazendo o mesmo para produtos americanos. A China deve fazer o mesmo. O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, visitou Trump na Flórida para tentar evitar o desarranjo comercial.

Para empresas com cadeias de suprimento globais, o aumento das tarifas seria uma má notícia. Esses impostos prejudicariam os vizinhos dos EUA e provavelmente romperiam o Acordo Estados Unidos-México-Canadá, um tratado de livre comércio fechado durante o primeiro mandato de Trump. Atualmente, cerca de 80% das exportações do México e mais de 75% das do Canadá vão para os EUA. Mais da metade das importações dos EUA de frutas e vegetais vêm do México, e os EUA importam madeira e milhões de barris de petróleo bruto diariamente do Canadá.

Dois grandes pacotes na área da economia e da saúde passarão por revisão. A professora de Relações Internacionais da PUC-SP, Luiza Mateo, explicou que o TCJA (Tax Cuts and Jobs Act), que mudou a tributação de empresas dos EUA desde 2018, e o Affordable Care Act, que mudou o acesso dos americanos aos seguros de saúde desde 2010, têm medidas emergenciais que acabarão em 2025.

Imigração e aborto também serão temas importantes e indicações à Suprema Corte podem mudar como decisões sobre os assuntos serão tomadas. Foi uma escolha da Suprema Corte que derrubou, em 2022, decisão "Roe contra Wade", que garantia o direito nacional à interrupção da gestação. Com isso, alguns estados aproveitaram para proibir ou dificultar o aborto, enquanto outros decidiram manter o acesso às clínicas.

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Será importante acompanhar as eventuais nomeações para a Suprema Corte dos Estados Unidos, considerando-se a probabilidade de abertura de três posições a serem nomeadas pela próxima presidência.
Luiza Mateo, professora de Relações Internacionais da PUC-SP

Cenário internacional

Na política internacional, guerras que estão em curso serão desafios para o segundo governo Trump. Os EUA são considerados "peça chave" no conflito entre Rússia e Ucrânia e na incursão de Israel na Faixa de Gaza, que chegou a um cessar-fogo que dificilmente irá encerrar a tensão no Oriente Médio. A mudança de governo não alterará esse cenário de protagonismo, projetam especialistas.

Ao olhar para a América Latina, presidente precisará pensar sobre o que fazer com a Venezuela. Os EUA compram petróleo do país comandado pelo ditador Nicolás Maduro, que assumiu um novo mandato apesar das acusações de fraude. Além disso, relação com El Salvador, Guatemala e Honduras, países de ondem partem parte dos imigrantes que chegam aos EUA, também ficará em foco.

Tensão no mar do Sul e guerra comercial da China também serão assuntos importantes. O conflito bélico iminente entre China e Taiwan pode escalar e a "continuação" da retaliação financeira ao país liderado por Xi Jinping deve continuar, tanto em um governo democrata quanto em um governo republicano.

A guerra comercial [contra a China] começou com Trump, mas não acabou com Biden. Biden manteve tarifas contra a China, aplicando novas tarifas. A gente vai ver, independente de quem ganhar, uma continuação dessa disputa comercial China-Estados Unidos. Por serem as duas principais potências, pelo menos no nível econômico, a gente vai ver aí uma repercussão para o resto do mundo.
Flávia Loss coordenadora da pós em Relações Internacionais da FESP

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O republicano também vem ameaçando uma retirada dos EUA da OMC (Organização Mundial do Comércio). A ação poderia levar ao colapso do sistema de negociação comercial multilateral.

Busca por protagonismo em debates globais de governança será desafio. Para a professora Luiza Mateo, o meio ambiente é um tema no qual o próximo governo pode tentar se sobressair em debates internacionais. Os Estados Unidos deixaram o Acordo de Paris sobre o clima durante o governo de Donald Trump e voltaram em 2021, durante o governo de Joe Biden.

Relembre as preocupações dos eleitores

Economia ficou entre os três maiores problemas para republicanos e democratas. Segundo pesquisa do Pew Research Center, o assunto liderou os temas citados pelos trumpistas (93%) e afligia 68% dos apoiadores de Harris na hora de escolher o voto.

Republicanos elencam imigração e segurança pública como os outros dois problemas mais importantes. Preocupações refletem discursos de Trump durante a campanha, marcada por críticas à chegada de estrangeiros no país e pela conexão preconceituosa entre o aumento de imigrantes e o aumento da violência nos EUA.

Para os democratas, o acesso à saúde e as indicações à Suprema Corte são as questões que mais chamam atenção. Em comícios, Kamala afirmou que "o acesso ao sistema de saúde tem que ser um direito" e sugeriu que a eleição de Trump colocaria em risco o Obamacare (Affordable Care Act), criado em 2010 para melhorar o acesso dos americanos a tratamentos de saúde.

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*Com informações da Deutsche Welle

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