Deportações e tarifas: promessas de Trump devem gerar avalanche de decretos
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, assume a Casa Branca hoje (20) para iniciar seu segundo mandato como líder da nação mais poderosa do mundo. O republicano se tornará o primeiro condenado a assumir a presidência, e o segundo a retornar ao cargo sem reeleição.
Trump prepara para as primeiras horas de governo medidas para ampliar os controles sobre a fronteira e supostamente fechar o cerco contra a imigração, além do início dos contornos de uma deportação em massa.
Cerimônia acontece em palco do 6/1
O destino reservou para a posse uma frente fria que exigiu que a cerimônia ocorra dentro do Capitólio. Mais precisamente na Rotunda, um espaço que foi o principal palco da invasão de aliados de Trump há quatro anos.
Cercada pela liderança de extrema direita de todo o mundo, a posse ainda será marcada por uma avalanche de decretos presidenciais que vão dar o tom de seus primeiros meses de governo. Os primeiros decretos devem ainda focar em imigrantes que cometeram crimes, assim como medidas administrativas que ampliem os poderes de agentes federais para prender estrangeiros sem documentos.
Promessa de campanha: o cerco à imigração
Fontes diplomáticas indicaram ao UOL que a equipe de Trump informou a aliados que está elaborando uma declaração de emergência nacional em relação à imigração. Isso permitiria mobilizar recursos para que o novo governo implemente sua promessa de deportar milhões de estrangeiros.
Nos decretos, Trump criaria uma situação na qual ficaria mais difícil para que um imigrante seja solto, depois de ser identificado. Os instrumentos de deportação acelerada serão ampliados e reforçados.
Outra medida é ainda a de recriar programas que exigem que refugiados esperem no México para que seus casos sejam processados e dificultando o pedido de asilo nos EUA. Há ainda a possibilidade de que Trump declare cartéis de drogas como organizações terroristas. Para completar, um dos decretos pode acabar com o direito de cidadania por nascimento.
Republicano quer expulsão de 11 milhões de pessoas dos Estados Unidos. Calcula-se que 4% da população do país viva ilegalmente em território norte-americano. Para isso, Trump quer encurtar os processos de deportação, realizando as expulsões sem a realização de audiências, exigidas por lei atualmente.
Para cumprir a promessa, Trump gastaria bilhões de dólares. O custo para deportar um milhão de imigrantes ilegais por ano custaria mais de US$ 88 bilhões (R$ 502,3 bilhões em valores de hoje), totalizando US$ 967,9 bilhões (R$ 5,5 trilhões) ao longo de mais de 10 anos, de acordo com relatório do Conselho Americano de Imigração.
Trump quer invasão de locais de trabalho para identificar e prender imigrantes ilegais. A estratégia desestimularia indústrias a contratarem essa mão de obra e beneficiaria trabalhadores americanos. A medida, porém, afetaria economias locais e resultariam em caos social, com a separação de famílias e piora da vulnerabilidade de populações inteiras de imigrantes.
Outra prioridade do presidente eleito é expandir o muro na fronteira com o México. Durante seu primeiro mandato, Trump construiu 804 km na fronteira de 3,1 mil km com o país vizinho. "Nós completaremos o muro da fronteira", diz seu programa de governo, que pretende usar dinheiro militar para levantar a barreira.
Brasileiros ilegais nos Estados Unidos são 230 mil, segundo pesquisa. Um levantamento do Pew Research Center publicado em julho de 2024 aponta que 230 mil brasileiros estavam vivendo ilegalmente no país, em 2022. O número inclui um aumento de 30 mil em relação ao ano anterior.
Trump também prometeu tarifas e posição protecionista
Presidente eleito prometeu tarifas contra México e Canadá já no primeiro dia de governo. Em publicação na sua rede social, o Truth Social, Trump afirmou que assinará uma ordem executiva que coloca uma tarifa de 25% sobre todos os produtos mexicanos e canadenses importados pelos Estados Unidos.
Mais tarde, a China foi incluída na lista de países a serem taxados. Embora as taxas para os chineses devem ser menores, de apenas 10%, o país é o maior fornecedor geral dos Estados Unidos - e por isso as tarifas devem pesar muito mais para o bolso do americano médio.
Blocos econômicos também sofreram ameaças. O presidente eleito disse que taxaria a União Europeia caso não comprassem mais petróleo e gás americano. Mais tarde, exigiria que os países do Brics (bloco do qual o Brasil faz parte) se comprometessem a não criar uma nova moeda para trocar o dólar em suas transações, sob a pena de tarifas de 100% nos produtos exportados aos EUA. "Podem esperar dizer adeus às vendas para a maravilhosa economia dos EUA", disse.
Presidente eleito afirma que países taxados pagarão as tarifas. Entretanto, as tarifas são aplicadas nos bens que entram no país - o que significa que o dinheiro virá dos bolsos dos importadores. Alguns economistas alertam que o custo dessas medidas pode acabar sendo repassado para os consumidores, que poderiam pagar preços mais altos por itens de consumo final.
Em novembro de 2024, ameaçou aumentar tarifas contra México caso imigração não cesse. Trump afirmou que começaria com uma tarifa de 25%, mas subiria para 50%, 75%, e até 100% sobre todos os bens importados do país vizinho.
México é o segundo maior fornecedor dos Estados Unidos. Conforme o Escritório do Representante Comercial dos EUA, o México forneceu 454,8 bilhões de dólares em bens para o mercado estadunidense, abaixo apenas da China. Os Estados Unidos, por sua vez, são os maiores parceiros comerciais do México -- cerca de 78% das exportações mexicanas são direcionadas ao país vizinho.
Republicano venceu eleição presidencial com folga
Donald Trump conquistou 312 delegados e venceu em todos os estados-chave. Embora as pesquisas eleitorais tivessem mostrado equilíbrio entre o republicano e sua adversária democrata, Kamala Harris, Trump venceu com alguma tranquilidade. Republicano venceu no voto popular pela primeira vez em vinte anos. Donald Trump recebeu 77 milhões de votos - 1,7 milhão a mais que Kamala Harris.
Vencedor em 2016, o magnata perdeu as eleições de 2020 para Joe Biden. Ele volta à Casa Branca após 4 anos, consolidando-se como "dono" da direita norte-americana. O vice-presidente é JD Vance.
Campanha foi marcada por atentado
Trump foi alvo de um ataque a tiros. Em julho, Thomas Matthew Crooks, de 20 anos, atirou contra Donald Trump durante um comício na Pensilvânia. O candidato foi atingido de raspão e uma pessoa da plateia morreu. O atirador foi morto pelo Serviço Secreto.
Candidato quase sofreu outro ataque armado. Em setembro, Ryan Wesley Routh foi preso com um rifle AK-47 enquanto se preparava para atirar em Trump.
Maiores temas de campanha foram imigração e impostos. Trump prometeu deportação em massa de 15 a 20 milhões de estrangeiros sem documento, embora o número estimado seja de 11 milhões de pessoas. Na economia, quer nacionalização, redução de importações, de impostos e de regulação sobre o mercado.
Ataques contra Kamala Harris e Tim Walz foram constantes. Durante toda a campanha, Trump focou em ofender seus adversários políticos com narrativas falsas e apelidos depreciativos.
Xingamentos se tornaram pessoais. Trump chamou Kamala de "burra", "mentalmente debilitada" e "com QI baixo". Em uma entrevista, questionou se Harris era negra, e se tinha "mudado sua identidade" por vantagens políticas.
Apoio de Elon Musk. Em outubro, Donald Trump levou o bilionário sul-africano a um comício em Butler, na Pensilvânia, onde ele discursou pedindo votos ao ex-presidente. Mais tarde, no meio de outubro, Musk pagou usuários do X, sua rede social, para responder favoravelmente uma pesquisa sobre Trump.
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