Abalado pela violência, Equador espera eleição apertada; conheça candidatos

Em 9 de fevereiro de 2025, o Equador realizará eleições gerais para eleger presidente, vice-presidente, membros da assembleia e parlamentares. Para a presidência, o atual chefe de Estado Daniel Noboa e Luisa González lideram as pesquisas, e enfrentam um contexto alarmante de violência política e do narcotráfico.

O que aconteceu

Eleição deste ano é protagonizada pelos mesmos políticos da última corrida presidencial, em 2023. Em meio a um processo de impeachment, o presidente da época, Guillerme Lasso, dissolveu a Assembleia Nacional e convocou eleições antecipadas no país - que terminaram com o candidato Fernando Villavicencio morto com três tiros.

A partir disso, assumiram a liderança Luisa, de centro-esquerda, e Noboa, de centro-direita, que levou a presidência no segundo turno. ''Essas eleições vão ser uma continuação das eleições do segundo turno de um ano e meio atrás. Isso indica que o Equador ainda está parado no mesmo patamar da disputa política e agora vai ser mais um round disso'', entende Thiago Rodrigues, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Noboa, que busca a reeleição, lidera com uma intenção de voto de 36,1% contra 33% de Luísa González. Os dados são da pesquisa Comunicaliza, realizada entre 8 e 11 de janeiro entre mais de 5.200 pessoas em 24 províncias do país. O terceiro lugar, ainda pouco competitivo com 2%, é do ativista e líder indígena Leonidas Iza.

Em alguns levantamentos, ambos aparecem empatados. Uma pesquisa do Cedatos, realizada em dezembro do ano passado, colocou Noboa e González como favoritos na mesma ordem

Segundo analistas, com o país em crise, a população equatoriana tende a escolher o candidato que tiver o discurso mais duro de combate à violência. A violência do crime organizado transformou nos últimos anos o Equador, que era considerado uma ilha de paz em relação a Colômbia e Peru, em um dos maiores produtores mundiais de cocaína.

A população está muito exausta dessa questão da violência do narcotráfico. Por isso, está se inclinando a um candidato que tem um discurso mais duro, mais pesado de combate ao crime. Há a ideia de que precisa ter uma mão forte do Estado para acabar com esse problema, porque querem voltar a viver normalmente. Flavia Loss, coordenadora do curso de Relações Internacionais da Fespsp

Com 18 milhões de habitantes, taxa de homicídio no Equador é de 38 mortes a cada 100 mil habitantes. A professora Flavia traça um paralelo com o Brasil, que tem uma população de 216 milhões: '' A nossa taxa de homicídios é de 22 por cada 100 mil habitantes. O Equador é um país muito menor, com uma população muito menor e com uma taxa de homicídios maior que a nossa, para você ver o tamanho da gravidade desse problema''.

Violência política também é uma preocupação latente na campanha deste ano. ''A questão central dessa eleição novamente será a violência política, e é bastante provável que ela aumente como já aconteceu nas vésperas das eleições passadas quando um dos candidatos foi assassinado em um comício'', relembrou Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM.

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Junto com a violência do narcotráfico, houve um recrudescimento da violência política - em um ano foram assassinados 30 prefeitos no Equador. No mês passado, foram assassinados 2 prefeitos. Esse dado mostra a mistura entre a luta do narcotráfico e violência política, os dois processos se acompanham. Leonardo Trevisan

Demandas importantes têm sido ofuscadas pela crise de violência. No ano de 2024, o país sofreu diversões apagões e alguns locais ficaram 12 horas sem energia, problema que segue ainda neste ano. Além disso, com um quarto da população extremamente jovem, entre 18 e 29 anos, o Equador também enfrenta a falta de empregos.

Mas como violência é a preocupação maior, acaba passando um pano, digamos assim, nas outras questões urgentes que o Equador atravessa. Flavia Loss

Quem é Daniel Noboa?

Nascido em Guayaquil, de 37 anos, ele é filho da médica Anabella Azin e do magnata Álvaro Noboa, o empresário mais rico do país cuja fortuna começou com o comércio de bananas, do qual o Equador é o principal exportador mundial. Hoje, o conglomerado da família soma 128 empresas em dezenas de países.

Estudou administração de empresas na Universidade de Nova York e administração pública na Harvard Kennedy School. Também tem pós-graduação em governança e comunicação política na Universidade George Washington.

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Praticamente um desconhecido na política e apresentou-se como uma ''novidade''. Noboa chegou ao poder no Equador em novembro como um dos dirigentes mais jovens do mundo, com o compromisso de enfrentar um tráfico de drogas encorajado e de deter a onda de violência no país, que teve 2023 como seu ano mais violento, com cerca de 7.800 homicídios e uma taxa de assassinatos superior a 40 para cada 100.000 habitantes.

Noboa iniciou sua gestão com a promessa de ''repressão total'' ao crime. Apesar de em pouco mais de um ano ter militarizado a segurança interna e decretado estados de exceção, especialistas entendem que medidas não reduziram efetivamente a violência, como foi prometido.

A população percebeu com muita clareza que as propostas de Noboa não se consubstanciaram na prática, não ocorreu essa repressão. Pelo contrário, a guerra entre os dois grandes cartéis, Sinaloa e Jalisco Nueva Generación, até aumentou. Leonardo Trevisan

Em 2023, recebeu apoio da direita. Ainda durante a corrida presidencial, a direita e as elites empresariais equatorianas também estabeleceram como objetivo impedir a todo o custo o retorno de Correa —e a rival de Noboa, Luisa González.

Quem é Luisa González?

Luisa, de 46 anos, é advogada. Ela é formada pela Universidade Internacional do Equador, possui mestrado em Alta Administração pelo Instituto de Estudos Superiores Nacional e mestrado em Economia e Desenvolvimento Internacional pela Universidade Complutense de Madrid.

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Candidata já fazia parte da vida política. Ela foi secretária nacional do Parlamento Andino, secretária geral da Administração de Empresas de Quito, secretária nacional da Administração Pública e ministra do Trabalho. Além disso, foi secretária-geral da Presidência da República de Rafael Correa.

Ela é do partido socialista Revolución Ciudadana (Revolução Cidadã) - do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017). Durante a campanha, a advogada e ex-deputada prometeu restaurar os programas sociais implementados pelo seu padrinho político.

Apesar do apadrinhamento, ela disse que não pretende conceder perdão judicial para Correa. O político foi condenado por corrupção e atualmente em exílio na Bélgica.

Com visão social-democrata, González insiste que irá atacar as ''raízes do problema do crime organizado''. Para ela, é necessário investir no desenvolvimento de programas sociais e educacionais que gerem oportunidades para os jovens e reduzam a violência estrutural.

Em comparação com as propostas de Noboa sobre o tema, González menciona o conceito de segurança cidadã, que pressupõe ênfase na prevenção ao crime e não apenas na repressão, Com preparação das forças em Direitos Humanos e de revalorização da Policía Nacional. Thiago Rodrigues, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF)

Professores, no entanto, enxergam falta de propostas sólidas para a problemática. ''A chapa da Luísa Gonzalez não tem propostas suficientes para essa temática, ela tem uma dificuldade de passar uma imagem de alguém forte, não só pela questão de ser mulher, mas o partido dela também, ela é herdeira do Correísmo no Equador'', argumenta a professora Flavia.

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Luiza vai trazer novamente sua visão e proposta social-democrata, ela é advogada, tem uma visão de pressão sobre o narcotráfico, mas de manter uma economia com alguma presença do estado. Leonardo Trevisan

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