Falas de Trump não preocupam nem surpreendem governo Lula e Itamaraty

As falas do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o Brasil e a América Latina não surpreenderam nem alarmaram o Itamaraty.

O que aconteceu

A atitude mais agressiva do norte-americano já era esperada pelo governo Lula (PT). Segundo representantes, falas polêmicas e que fujam do decoro do cargo estão precificadas desde que ele foi eleito, em novembro do ano passado —o que importa, eles ponderam, é como a diplomacia vai atuar.

Após a posse, Trump disse que "não precisa" do Brasil e da América Latina. "Eles que precisam de nós", afirmou, em entrevista na Casa Branca, sede do poder norte-americano. Ele assumiu nesta segunda (20).

A embaixadora Maria Laura da Rocha, secretária-geral do Ministério das Relações Exteriores, não mostrou surpresa. "O presidente Trump pode falar o que ele quiser, ele é presidente eleito nos Estados Unidos. Nós vamos analisar cada passo das decisões que forem sendo tomadas pelo novo governo", disse a número 2 do Itamaraty, em entrevista nesta terça (21).

Ela ponderou, no entanto, que a busca é por consenso. "Nós vamos trabalhar não as nossas divergências, mas as nossas convergências, que são muitas", afirmou a embaixadora.

Este tem sido o mesmo tom do presidente Lula (PT), de quem Trump é crítico, e de todo o governo. O brasileiro parabenizou o norte-americano nas redes sociais na segunda e disse que a relação dos dois países é marcada por "cooperação mútua".

O Planalto já espera um efeito político sob Trump. O republicano tem prometido radicalizar ainda mais o protecionismo comercial norte-americano, uma marca do seu governo anterior, e é uma das principais vozes ligadas à extrema direita atualmente, com falas e críticas duras a governos de esquerda, incluindo o brasileiro.

Para o Itamaraty, a questão é com que intensidade essas declarações fortes chegarão às negociações. Em 2024, as exportações brasileiras para os Estados Unidos atingiram o recorde de US$ 40,3 bilhões, 9,2% a mais do que o ano anterior, segundo levantamento da Amcham Brasil (Câmara Americana de Comércio para o Brasil).

Intermediários dizem que os números podem sofrer baque pelo protecionismo, mas que esta relação dificilmente mudará. O argumento usado dentro do governo é que as relações de Estado permanecem, apesar dos respectivos presidentes, e que mesmo os apoiadores da política republicana que têm negócios com o Brasil adotam uma posição diferente quando se mexe no bolso.

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Outro desafio com os EUA vai se dar na COP30, em Belém. A Conferência do Clima da ONU (Organização das Nações Unidas), marcada para novembro, vai ter o desafio de chegar a consensos sobre o financiamento climático e o cenário polarizado após a saída dos EUA do Acordo de Paris. Hoje Lula anunciou o embaixador André Corrêa do Lago para a presidência do evento.

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