'Tudo será revelado': o que se sabe sobre mortes de Kennedy e Luther King

O presidente Donald Trump determinou a retirada do sigilo de todos os documentos de investigações sobre os assassinatos do ex-presidente John F. Kennedy e do ativista de direitos civis Martin Luther King. "Tudo será revelado", disse ele.
Ambos os casos foram alvo de teorias de conspiração há seis décadas. O que se sabe até agora sobre cada uma destas mortes?
O assassinato do presidente Kennedy

Kennedy foi assassinado em 22 de novembro de 1963 durante desfile em carro aberto na Dealey Plaza, em Dallas. Ele foi fatalmente atingido por balas disparadas pelo ex-fuzileiro naval Lee Harvey Oswald. A carreata com a primeira-dama, Jacqueline Kennedy, o vice, Lyndon B. Johnson, o governador do Texas, John Connally, e suas esposas levou Kennedy às pressas ao Parkland Memorial Hospital, mas o presidente foi declarado morto 30 minutos depois.
Após o ataque, Oswald voltou para casa para buscar uma pistola; ele atirou e matou o policial J.D. Tippit em seguida. Cerca de 1h10 após os disparos contra Kennedy e o governador do Texas —que ficou gravemente ferido, mas se recuperou— Oswald foi preso. Dois dias depois, durante uma transmissão de TV ao vivo que mostrava a transferência do ex-fuzileiro pelo porão do QG da polícia de Dallas, o assassino de Kennedy foi morto a tiros por Jack Ruby, dono de uma boate.
Após 10 meses de investigações, comissão estabelecida por Lyndon B. Johnson concluiu que Oswald assassinou Kennedy sem nenhum comparsa. Além disso, foi determinado que Ruby agiu sozinho e não era parte de nenhuma conspiração ou queima de arquivo para eliminar o atirador do presidente. Investigações subsequentes por outras comissões não apresentaram resultados diferentes até 1979, embora houvesse divergências até sobre o número de disparos (dois ou três) feitos contra Kennedy.

Em 1979, o Comitê do Senado dos EUA sobre Assassinatos concluiu que Kennedy foi provavelmente "assassinado como resultado de uma conspiração", mas não apontou os possíveis envolvidos. Além disso, seu relatório apontou que havia "uma alta probabilidade de que dois atiradores dispararam contra o presidente", desmentindo a alegação oficial de que apenas Oswald agiu para a morte de Kennedy.
Boa parte da investigação do Senado foi baseada na gravação do microfone de rádio de um policial em motocicleta que acompanhava a carreata. No entanto, possíveis discrepâncias nas gravações feitas pelo equipamento aberto, como a ausência de ruído da praça, levaram suas conclusões a serem descreditadas pelo Departamento de Justiça dos EUA posteriormente —embora análises entre 1980 e 2013 tenham tanto negado como confirmado os achados.
As teorias da conspiração contra os Kennedy
Os ruídos de balas, as filmagens amadoras feitas no momento dos disparos e as polêmicas relações políticas e pessoais de Kennedy alimentaram diversas teorias sobre por que o político foi morto. O ex-promotor Vincent Bugliosi chegou a estimar que 42 grupos, 82 assassinos e 214 pessoas já foram acusadas de participar das várias teorias.
Conheça algumas das mais populares:
- Kennedy foi morto pela KGB, a inteligência soviética: Lee Harvey Oswald tinha inclinações comunistas e passou uma temporada em Minsk, na URSS, após desertar o Corpo de Fuzileiros Navais, onde se casou com uma mulher russa antes de retornar aos EUA. Conspiradores acreditam que ele possa ter se tornado um agente infiltrado no país para matar o presidente durante a Guerra Fria.
- Presidente foi assassinado pela máfia: a casa noturna de Ruby, o homem que matou Oswald, tinha ligações com a máfia. Após a morte de Kennedy, tornou-se popular um boato que dizia que Kennedy e seu pai pediram a ajuda de Sam Giancana, mafioso de Chicago, para angariar votos durante a campanha presidencial. A morte do presidente teria sido vingança pela nomeação de seu irmão, Robert, para o cargo de procurador-geral --que iniciou uma caça ao crime organizado. Robert foi assassinado em 1968 por Sirhan Sirhan, um palestino que teria retaliado seu apoio a Israel na Guerra dos Seis Dias.
- Pelo próprio governo americano: diversas teorias culpam a CIA (agência de inteligência), o FBI (a polícia federal) e até o vice Lyndon B. Johnson pela morte de Kennedy, como resultado de uma articulação de políticos e empresários poderosos para eliminar aquele que era visto como um entrave na administração do país. Kennedy estava envolvido em disputas internas por causa de sua política externa, como a tentativa de solução diplomática para a Guerra do Vietnã e a Crise dos Mísseis de Cuba.

4. Por Fidel Castro: As relações entre EUA e Cuba eram tensas desde que Castro derrubou o ditador Fulgencio Batista, pró-EUA em 1958. Em 1961, com Kennedy na Casa Branca, um grupo paramilitar de cubanos exilados treinados pela CIA invadiu a Baía dos Porcos para assassinar o líder comunista e derrubar seu governo. O plano falhou, e 118 dos cubanos exilados, além de quatro americanos, foram mortos. Outros 1.202 invasores foram capturados. Segundo esta teoria, a morte de Kennedy seria retaliação do cubano.
A morte de Martin Luther King
O pastor batista e ativista político foi baleado em 4 de abril de 1968, no Lorraine Motel em Memphis, Tennessee. Assim como Kennedy, ele chegou a ser levado às pressas para o hospital, mas foi declarado morto uma hora depois, aos 39 anos. Nobel da Paz e carismático líder na defesa de direitos iguais à população negra, King era conhecido por protestos não violentos e desobediência civil à segregação racial.
King já recebia ameaças de morte desde a metade dos anos 50. Ele chegou a ser esfaqueado gravemente em 1958. Após a morte de Kennedy, em 1963, ele teria dito à esposa Coretta Scott King: "Isso é o que vai acontecer comigo também. Eu continuo dizendo a você, esta é uma sociedade doente."
O FBI foi designado para liderar as investigações da morte pelo presidente Lyndon B. Johnson. O diretor do FBI, J. Edgar Hoover, prometeu ao presidente que acharia o culpado, mas sua administração já havia tentado chantagear o ativista. Uma carta publicada pelo jornal The New York Times em 2014 enviada por William Sullivan, o número 2 de Hoover, a Luther King o acusa de trair a esposa e o incita a cometer suicídio.

Investigação levou ao nome do fugitivo com ficha policial James Earl Ray. Suas digitais teriam sido encontradas em objetos deixados no banheiro de onde os tiros teriam sido disparados, além de um rifle. Dois meses depois, Ray foi capturado no Aeroporto de Heathrow, em Londres, quando tentava partir para a África com um passaporte canadense falso.
Ray confessou o assassinato em março de 1969. Ele teria aceitado o conselho de seu advogado, em uma manobra para tentar evitar a pena de morte. No entanto, após ser condenado a 99 anos de prisão, ele voltou atrás e negou o crime três anos depois, afirmando que um homem que conheceu em Montreal de codinome "Raoul", além de seu próprio irmão, Johnny, é que estariam envolvidos na morte do pastor. As novas provas apresentadas por sua defesa nunca foram consideradas conclusivas para reverter sua condenação e não havia testemunhas de que ele não estivesse no local do crime.
Em dezembro de 1993, um empresário de Memphis foi à rede ABC e disse que conspirou com a máfia e o governo dos EUA para matar Luther King. Lloyd Jowers ainda qualificou Ray como "bode expiatório" que não estava diretamente envolvido no crime. Jowers declarou que teria contratado o comerciante Frank Liberto para realizar o crime, já morto na época da confissão. De acordo com o Departamento de Justiça, esta não era a primeira vez que Jowers apontava diferentes assassinos para Luther King.

Em 1997, o filho de Luther King, Dexter, encontrou o suposto assassino do pai na prisão. Dexter teria perguntado ao homem se ele matou seu pai, que negou. Desde então, ele apoiou publicamente os esforços do condenado de obter um novo julgamento. No entanto, Ray morreu na prisão em 1998.
Em 1999, a família King entrou na Justiça contra Jowers e conspiradores anônimos pela morte de Luther King. Desde então, o advogado da família, William Francis Pepper, teria apresentado mais de quatro mil páginas de transcrições e provas de 70 testemunhas que implicavam o FBI, a CIA, o Exército dos EUA e o Departamento de Polícia de Memphis, além do crime organizado, na morte do ativista.
Apesar de o júri ter determinado que o pastor foi vítima de uma conspiração, o processo não apontou nomes de culpados. Em entrevista, Dexter King afirmou que Jowers identificou o atirador como o Tenente Earl Clark, da polícia de Memphis. Em 2000, o Departamento de Justiça completou sua investigação a respeito das alegações de Jowers, mas disse que não havia provas que indicassem que sua descrição era real. Ainda foi recomendado que outra investigação não fosse aberta até que fatos "confiáveis" fossem apresentados.

Em 2004, o pastor Jesse Jackson, que estava com Luther King no momento do atentado, afirmou que "havia sabotadores [no local] para perturbar a marcha" que Luther King iniciaria. "E dentro da nossa própria organização, encontramos uma pessoa-chave que estava na folha de pagamentos do governo. Então, havia infiltração, e sabotadores de fora, e ataques da imprensa. Eu nunca acreditarei que James Earl Ray tinha o motivo, o dinheiro e a mobilidade para ter [cometido o crime] sozinho. Nosso governo estava muito envolvido em armar o palco —e acho que a rota de fuga — de James Earl Ray."
Os documentos da investigação da morte de King estavam selados até 2027, antes da ordem de Trump.
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