Por que os EUA pagam mais para a OMS do que a China?
No dia 20 de janeiro, primeiro dia do mandato de Donald Trump, o republicano anunciou a saída dos Estados Unidos da OMS (Organização Mundial de Saúde). No discurso, ele justificou a decisão acusando a OMS de má gestão e citou que estava insatisfeito com o fato de os EUA pagarem mais do que a China, que tem uma população muito maior.
O que aconteceu
Os EUA são o maior financiador da OMS. O país contribui com cerca de 18% de financiamento geral da instituição. Washington fornece um valor vital para a organização, que sustenta uma variedade de operações.
Segundo a OMS, a contribuição dos EUA é indexada ao PIB do país. O produto interno bruto dos EUA é o maior do mundo, sendo que em 2023 foi estimado em mais de US$ 27,36 trilhões.
A OMS é financiada por contribuições obrigatórias dos países-membros, calculados com base no PIB. Além disso, a instituição recebe dinheiro de contribuições voluntárias de países, doações de empresas ou de organizações não governamentais. Segundo a instituição, cerca de 25% do orçamento vem das contribuições dos países.
EUA doaram mais do que a China. De acordo com os últimos números publicados pela organização, os EUA doaram US$ 1,28 bilhão para o orçamento da OMS para o biênio 2022-2023. Desse valor, cerca de US$ 1 bilhão são de doações voluntárias. A contribuição fixa foi de US$ 218 milhões e US$ 47 milhões foram destinados ao fundo de contingência para emergências. A China, em comparação, contribuiu com um total de US$ 156 milhões durante o mesmo período, sendo US$ 114 milhões de forma fixa, US$ 41 milhões em doações voluntárias e US$ 934 mil para o mesmo fundo de emergência.
Os dados mostram que a maior diferença está na contribuição voluntária dos dois países. Os EUA com cerca de US$ 1 bilhão e a China com US$ 41 milhões.
Trump justificou a saída da OMS alegando má gestão e influência política da China. Ele citou que os EUA contribuem com um valor muito superior ao da China. "Vocês acham isso justo?", questionou o republicano. Na declaração, o presidente não mencionou as regras da OMS para estipular quanto cada país deve doar.
Os EUA são um dos fundadores da organização criada em 1948. O regimento diz que os Estados Unidos terão 12 meses para concluir o processo de desvinculação. "A OMS nos enganou", acusou o presidente ao assinar o decreto, que também faz um apelo à identificação de "parceiros americanos e internacionais confiáveis e transparentes para assumir as atividades necessárias anteriormente realizadas pela OMS".
Donald Trump afirmou no sábado (25) que poderia mudar de ideia. A condição imposta pelo presidente americano é a diminuição do valor que teria de repassar ao órgão. "Talvez a gente considerasse fazer de novo, não sei. Talvez a gente considerasse. Eles teriam que limpar", disse Trump em um comício em Las Vegas.
As Nações Unidas informaram que o país deve deixar de integrar a OMS em 22 de janeiro de 2026.
As consequências da saída
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Além de serem os maiores financiador da OMS, os EUA também apoiam diversos programas de saúde pública, principalmente em regiões mais vulneráveis. O país financia 75% do programa da OMS para HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis e mais da metade das contribuições para combater a tuberculose. Em 2020, Trump já havia tentado retirar os EUA da OMS, mas a medida foi revertida pelo presidente Joe Biden em 2021.
Programas são cruciais principalmente no combate a doenças infecciosas, como poliomielite, tuberculose e malária. "O corte de recursos pode impactar principalmente os países de baixa renda que dependem desses financiamentos e da chegada desses tratamentos para essas doenças infecciosas", diz Julio Croda.
Os EUA são um grande financiador na luta contra o HIV. O principal programa é o PEPFAR (Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para a Luta contra HIV/Aids). O programa foi criado em 2003 pelo governo dos Estados Unidos para controlar a pandemia de HIV até 2030 e tem parceria com mais de 50 países. De acordo com informações divulgadas pelos EUA, o PEPFAR tem apoiado serviços abrangentes de prevenção, cuidados e tratamento a milhões de pessoas em todo o mundo através do tratamento antirretroviral.
Aumento de vulnerabilidades sanitárias. "Esse programa pode ser descontinuado e milhares de pessoas podem parar de receber o antirretroviral e a assistência de saúde necessária. A situação é preocupante principalmente para países africanos, como Quênia, Uganda e Nigéria", explica o pesquisador da Fiocruz.
A saída dos EUA da OMS também pode impactar na resposta global a uma emergência de saúde pública, como aconteceu na covid-19. Para Croda, essa resposta pode ser enfraquecida no caso de uma nova pandemia, surtos ou doenças. "A gente já não teve uma boa comunicação para a pandemia da covid-19, que era algo unificado para os países membros da OMS. Imagine agora um país com a importância global como os EUA, discordando publicamente da OMS, como isso vai acontecer em termos de implementação de saúde pública?", questiona.
OMS espera que Trump reconsidere saída dos EUA da entidade
A Organização Mundial da Saúde espera o novo presidente reconsidere a decisão. "A OMS desempenha um papel crucial na proteção da saúde e da segurança da população mundial, incluindo de norte-americanos, abordando causas profundas de doenças, construindo sistemas de saúde mais fortes e detectando, prevenindo e respondendo a emergências em saúde, incluindo surtos, geralmente em locais perigosos, onde outros não podem ir," disse a agência em nota publicada na terça-feira (21)
A OMS destacou que os EUA sempre participaram na definição e gestão dos trabalhos da agência, juntamente com outros 193 estados-membros. "Por mais de sete décadas, a OMS e os Estados Unidos salvaram incontáveis vidas e protegeram norte-americanos e toda a população global de ameaças à saúde. Juntos, eliminamos a varíola e levamos a poliomielite à beira da erradicação. Instituições norte-americanas contribuíram e foram beneficiadas por essa adesão como Estado-membro da OMS", argumentou a organização.
"Esperamos que os Estados Unidos reconsiderem e esperamos poder engajar em um diálogo construtivo para manter a parceria entre o país e a OMS, para o benefício da saúde e do bem-estar de milhões de pessoas em todo o mundo", concluiu a nota.
A União Europeia também espera que decisão seja revogada. Eva Hrncirova, porta-voz da Comissão Europeia, afirmou que o bloco espera que a decisão ainda esteja em revisão. "Recebemos com preocupação o anúncio de retirada dos Estados Unidos da OMS e confiamos que a administração norte-americana levará tudo isso em consideração antes da retirada formal", disse durante o briefing diário a Comissão Europeia, segundo a agência de notícias Reuters.
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