Sem carne, colchão ou visita: a prisão em El Salvador oferecida aos EUA

Prisioneiros que cumprem pena nos Estados Unidos e deportados pelo governo de Donald Trump podem ter um novo local de destino: El Salvador. Na última segunda-feira (3), o presidente salvadorenho Nayib Bukele ofereceu as instalações do Centro de Confinamento do Terrorismo, ou Cecot, para receber os enviados pelos EUA, inclusive cidadãos norte-americanos, "em troca de uma taxa".

Construída para receber membros de gangues locais, o Cecot é a maior prisão da América Latina, com um esquema de segurança máxima e sem visitas aos seus detentos.

Como é o Cecot

Oito pavilhões com 32 celas cada. Inaugurado em janeiro de 2023, o complexo foi construído em uma área desabitada nos arredores de Tecoluca, a 75 km a sudeste da capital San Salvador. Em uma área de mais de 1,6 milhão de metros quadrados, o Cecot tem oito pavilhões, cada um com 32 celas equipadas com grossas barras de ferro.

Vista aérea do Cecot (Centro de Confinamento do Terrorismo), em El Salvador
Vista aérea do Cecot (Centro de Confinamento do Terrorismo), em El Salvador Imagem: La Prensa Gráfica via Wikimedia Commons

Cercada por enormes muros de concreto, a prisão foi projetada para abrigar 40 mil detentos. Atualmente, o Cecot confina cerca de 15 mil pessoas. Segundo Belarmino García, diretor do complexo, os prisioneiros que cumprem pena no local são membros das gangues MS-13 e Barrio 18.

No Cecot, os prisioneiros são submetidos a um confinamento rigoroso. Sem a possibilidade de receber visitas ou fazer ligações para seus familiares, os detentos são vigiados 24 horas por dia por câmeras e extensas equipes de guardas —são 1.000 agentes penitenciários, 600 soldados e 250 policiais da tropa de choque fazem a vigilância do local, encapuzados e portando armas pesadas como fuzis.

Com vista para as celas por meio de corredores localizados no alto, os responsáveis pela segurança são equipados com armas e capuzes
Com vista para as celas por meio de corredores localizados no alto, os responsáveis pela segurança são equipados com armas e capuzes Imagem: Reprodução/YouTube/El País

Para aqueles que vivem no Cecot, nunca está de noite. Segundo o jornal espanhol El País, luzes artificiais iluminam as celas e o pátio interior 24 horas por dia.

Nas refeições, o feijão e o macarrão predominam. Por ordem do governo, a carne não é oferecida no cardápio. Ainda de acordo com o jornal espanhol, os detentos comem com as mãos, já que talheres como garfos e facas poderiam "ser convertidos em armas mortais".

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Funcionários na área de controle de acesso no Cecot ficam encapuzados, assim como os guardas no interior da prisão
Funcionários na área de controle de acesso no Cecot ficam encapuzados, assim como os guardas no interior da prisão Imagem: Reprodução/YouTube/El País

Como uniforme, os detentos vestem camisa e bermuda ou calças brancas, sem demais acessórios que possam os diferenciar. Aos detentos, é oferecido um chuveiro alimentado pela água de uma grande pia dentro de cada cela, enquanto a água potável é disponibilizada em um grande barril de plástico. Segundo o El País, os detentos têm a cabeça raspada a cada cinco dias.

As camas, empilhadas quase até o teto, são feitas de aço inoxidável e não há colchões. Os detentos têm um lençol fino e branco para que possam se cobrir. As paredes são totalmente lisas, impossibilitando uma eventual escalada em direção ao teto, onde há a abertura para a entrada de ar nas celas.

Os detentos saem de suas celas apenas para comparecer a audiências judiciais e fazer exercícios. Para que os prisioneiros não deixem o complexo do Cecot, foram instaladas nos pavilhões seis salas especialmente preparadas para a realização destas audiências. Já a prática de atividades físicas é limitada a meia hora diariamente.

Nos raros momentos em que deixam suas celas, os detentos são acompanhados pelos funcionários do Cecot
Nos raros momentos em que deixam suas celas, os detentos são acompanhados pelos funcionários do Cecot Imagem: Reprodução/YouTube/El País

O que aconteceu

A oferta de Bukele envolve pessoas em diferentes condições e de diferentes nacionalidades. O Cecot estaria disponível para receber criminosos salvadorenhos e de outros países, além de cidadãos e de portadores de residência legal nos EUA. Imigrantes ilegais deportados pelo governo norte-americano também poderiam ser enviados ao Cecot.

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A proposta foi divulgada pelo próprio presidente em seu perfil no X. Desde o anúncio, Bukele vem compartilhando também a repercussão do tema nas redes sociais. O empresário Elon Musk também tem comentado e compartilhado o eventual acordo com El Salvador. Segundo Musk, a ideia é "incrível".

Em contrapartida ao recebimento dos prisioneiros e deportados enviados pelos EUA, o governo de El Salvador receberia uma taxa. "A tarifa seria bastante modesta para os Estados Unidos, mas seria significativa para nós e nos permitiria financiar todo o nosso sistema penitenciário", afirmou Bukele no X.

O secretário de Estado americano Marco Rubio foi até El Salvador debater o tema com Bukele e afirmou que o acordo garante maior segurança aos Estados Unidos. "O seu compromisso [do presidente Bukele] de aceitar e encarcerar criminosos de qualquer país, incluindo de gangues violentas como MS-13 e Tren de Aragua, tornará a América mais segura", escreveu Rubio em seu perfil no X.

Em El Salvador, a oposição se mostrou contrária ao acordo proposto por Bukele. Manuel Flores, secretário-geral do partido Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, criticou a iniciativa, alegando que ela sinalizaria que o país é o "quintal de Washington para despejar o lixo". No cargo desde 2019, Nayib Bukele é acusado por organizações internacionais e entidades de direitos humanos de adotar uma violenta repressão em seu país sob a justificativa de atacar a criminalidade.

*Com informações da AFP.

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