Ossos de grávida sacrificada em ritual há 1.200 anos são achados no Equador

O corpo desmembrado de uma mulher grávida e seu feto, prováveis vítimas de um sacrifício para impedir a ação do fenômeno climático El Niño, foram descobertos em uma escavação no Equador.

O que aconteceu

O achado das ossadas de cerca de 1.200 anos foi divulgado no dia 23 de janeiro na revista científica Latin American Antiquity. A escavação foi liderada pela bioarqueóloga Sara L. Juengst, da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte, nos EUA.

Mulher teria sido rica e poderosa. Os arqueólogos e antropólogos que participaram da escavação no sítio arqueológico de Buen Suceso notaram que uma das seis covas achadas possuía conchas que teriam servido para cobrir olhos da falecida, pedrarias verdes e ornamentos de conchas de ostras espinhosas de diversos períodos, o que sugere que a vítima tenha sido um abastado membro da cultura pré-colombiana Manteño (cerca de 600 d.C. a 1600 d.C.).

Ossos têm marcas de traumas brutais antes da morte. Entre eles estão uma fratura no crânio, marcas de cortes nos ossos da mão, remoção das mãos e da perna esquerda antes da morte e outras manipulações do corpo que sugerem que ela foi sacrificada — uma prática que era rara para as populações costeiras do Equador na época. Os manteños foram prósperos vizinhos dos incas que viviam de agricultura e já navegavam pela região.

Esquema dos ossos da grávida encontrada no Equador junto ao crânio de outra vítima
Esquema dos ossos da grávida encontrada no Equador junto ao crânio de outra vítima Imagem: Reprodução/Latin American Antiquity

Jovem teria entre 17 e 20 anos de idade e estava no último trimestre da gestação. Pesquisadores acreditam que ela estava grávida de sete a nove meses quando morreu. Segundo dados obtidos após a datação por carbono-14, ela teria morrido entre 771 e 953 d.C. devido a uma pancada na frente de sua cabeça, mas antes teria começado a ser desmembrada violentamente.

Crânio de uma vítima de 25 a 35 anos foi posicionado sobre o ombro da mulher. Outros elementos faziam parte da cena: uma oferenda queimada foi colocada sobre o seu peito, lâminas de obsidiana, um tipo de pedra vulcânica, estavam ao redor dela e uma pinça de caranguejo ainda se encontrava posicionada sobre a sua barriga.

Ornamentos e objetos encontrados na cova da grávida sacrificada no Equador
Ornamentos e objetos encontrados na cova da grávida sacrificada no Equador Imagem: Reprodução/Latin American Antiquity

Material queimado foi colocado na cova entre 991 d.C. e 1025 d.C., segundo a datação por carbono-14, o que pode indicar que os manteños voltavam ao seu túmulo. Além disso, os ornamentos de conchas teriam mais de 2.000 anos, o que os tornaria itens preciosos de comércio na época em que a grávida foi assassinada.

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O fato de que era uma mulher que estava grávida pode indicar que mulheres tinham posições importantes de poder e, por isso, seu poder precisava ser controlado. [A localização dos artefatos sobre o corpo da mulher] sugere proteção e um tratamento especial para ela e para o feto. [Ostra espinhosa] é associada com fertilidade e água, e era valorizada por muitas culturas sul-americanas. Sara Juengst, bioarqueóloga e líder da expedição ao site Live Science

O significado da morte da jovem mãe

Forma com que ela foi morta foi "desumanizante e opressora", mas escolhida porque ela era um símbolo de fertilidade. Os estudiosos concluíram que a grávida foi assassinada durante um período de frequentes ocorrências do El Niño, fenômeno climático que provoca o aquecimento das águas do mar na região, prejudica os ciclos agrícolas e aumenta os casos de doenças transmitidas por mosquitos, como malária e dengue, graças ao extremo calor.

Seu sacrifício pode ter sido tentativa de converter sua fertilidade em sucesso na agricultura. Diversos dos artefatos com que ela foi enterrada fazem referência a ambientes com água, o que sugere alguma ligação com o mar ou outros recursos hídricos e naturais. Mas a retirada da perna, salienta o estudo, pode ter sido um tipo de punição para a grávida.

Padrões dos enterros entre os Manteño também sugerem que as mulheres tinham grande poder político e social. "Se uma rival desta mulher queria tomar o poder, ela precisaria eliminá-la e sua prole ainda não-nascida, mas ainda dar a ela a honra baseada no seu status", acredita Sara Juengst. No entanto, os estudiosos envolvidos no trabalho admitem que ainda é preciso investigar mais os elementos do enterro da mulher, especialmente fatores ambientais e sociais que contribuíram não só para o seu sacrifício, como para o tratamento pós-morte dela e de seu bebê.

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