Ronaldo Lemos: Setor tech é ideal para atingir EUA, mas é preciso cautela

O governo brasileiro precisa de cautela para não jogar mais fogo em gasolina na guerra comercial imposta pelo governo do presidente Donald Trump, opinou o colunista Ronaldo Lemos no UOL News, do Canal UOL, nesta segunda-feira (10).

O que nós não podemos fazer é jogar mais gasolina no fogo de uma guerra comercial que parece iminente e que, em análise, não vai ser benéfica para o Brasil se a gente entrar numa disputa direta com os Estados Unidos. Ronaldo Lemos, colunista da Folha de S.Paulo

Nesta segunda, Trump deve anunciar tarifas contra o aço, afetando potencialmente US$ 6 bilhões em exportações brasileiras. Os problemas podem ser ampliados ainda nesta semana, diante da promessa do americano de que irá aplicar uma política de reciprocidade tarifária. As tarifas contra o aço devem chegar a até 25%.

Segundo fontes ouvidas pelo jornal Folha de S.Paulo, o governo Lula (PT) estuda taxar plataformas digitais norte-americanas como medida de retaliação. Caso isso aconteça, serviços digitais de Amazon, Facebook, Instagram, Google e Spotify —uma empresa sueca— seriam afetados. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que era preciso aguardar o anúncio oficial dos EUA.

Ao Canal UOL, Lemos disse que, se o Brasil quiser provocar "dor" ou "danos" aos EUA, o setor de tecnologia seria o alvo ideal, mas é preciso agir de forma planejada, em bloco, para não cometer os mesmos erros do passado.

É um erro agir de forma não planejada, precipitada e sozinho. Se o Brasil quiser agir, precisa ser em bloco, entender o que a Europa vai fazer, o que outros países que foram tarifados vão fazer. Isso é fundamental. O que eu tenho medo é o Brasil acelerar, com características isoladas, só nossas, e isso chamar a atenção para o que a gente está fazendo e gerar uma retaliação ainda maior.

A questão tecnológica é a que mais importa para os Estados Unidos. Então, se o Brasil quiser realmente provocar uma dor, um dano, algo que seja relevante para os Estados Unidos, o setor tecnológico é o indicado, óbvio, para esse tipo de atuação. Mas é preciso desenhar esse imposto com muito cuidado, [porque] se a gente tarifa isso, será ruim porque encarece o custo de produção no Brasil também.

A premissa do governo [brasileiro] é que a tecnologia não é insumo. Só que, na verdade, é, sim, porque tecnologia, por exemplo, tem a ver com data center. Quantas empresas no Brasil usam o serviço da Amazon, por exemplo, a AWS, para hospedar seus sites, para gerar streams de vídeo? Ou usa os data centers da Microsoft, ou do Google? Então, ao tributar os lucros das empresas ou tributar as receitas das empresas, isso encarece também o serviço de data center, de armazenagem, que são insumos importantes para inúmeras empresas aqui no Brasil. Ronaldo Lemos, colunista da Folha de S.Paulo

Lemos também falou sobre a atuação do bilionário Elon Musk, dono de empresas como a SpaceX, chefe do departamento de Eficiência Governamental, no governo Trump.

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O que o Elon Musk está fazendo no governo americano é bem impressionante no sentido de que, primeiro, ele transformou um dos assuntos mais chatos que existem, que é o orçamento público, em algo que é notícia todos os dias.

E ele trouxe esse assunto do orçamento e está pegando hackers, jovens, que ele colocou dentro do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos para passar um pente-fino, inclusive usando inteligência artificial e outras ferramentas, em tudo que o governo gasta. Imagina a quantidade de informação, porque o governo americano é o governo que mais gasta no planeta.

Tem gente que diz que esse é análogo a quase um golpe, porque é você ir à espinha dorsal do governo, que opera por meio de gastos, de compras públicas, e tentar analisar tudo que está acontecendo ali de uma forma totalmente inédita. E, obviamente, isso o que ele está fazendo [provoca] impacto político. Ronaldo Lemos, colunista da Folha de S.Paulo

Tales: 'Ordem dentro do governo Lula é ter reação cirúrgica a Trump'

No UOL News, o colunista Tales Faria disse que o governo federal estuda uma reação precisa ao governo de Donald Trump caso o presidente dos Estados Unidos confirme sua pretensão de elevar tarifas sobre o aço e o alumínio de todos os países.

A ordem dentro do governo é ter uma reação cirúrgica. Está sendo feito um levantamento pela Fazenda das medidas que podem ser tomadas. Na Indústria e Comércio, há uma avaliação de como essas medidas podem provocar danos às empresas brasileiras. Fernando Haddad e Geraldo Alckmin, junto ao Ministério das Relações Exteriores, fazem esse levantamento com muito cuidado para que isso não se torne uma guerra comercial.

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O que não interessa ao Brasil é uma guerra comercial com os EUA e com Trump. Também não interessa aos EUA, porque nosso aço é muito importante nessa relação entre os dois países, assim como o petróleo. Tudo isso também tem consequências para a indústria americana. O petróleo bruto exportado pelo Brasil move boa parte da economia dos EUA; o aço é fundamental na indústria automobilística. Tales Faria, colunista do UOL

Exportações de aço do Brasil caíram no ano passado

Em 2024, o Brasil produziu 33,74 milhões de toneladas de aço, 5,3% a mais que as 32,03 milhões de toneladas de 2023. A elevação se deu principalmente pelo aquecimento do mercado interno. Os dados foram divulgados em janeiro pelo instituto Aço Brasil, que reúne siderúrgicas instaladas no país.

De janeiro a dezembro do ano passado, 9,6 milhões de toneladas de aço deixaram o Brasil, em negociações que representaram US$ 7,7 bilhões ao país. Esses dados representam, respectivamente, redução de 18,1% (na quantidade) e de 21,9% (no valor) na comparação com o mesmo período de 2023.

No seu primeiro mandato, Trump já havia colocado uma tarifa de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio. No entanto, ele reverteu as tarifas de importação de aço no passado, negociando cotas de importação, especificando quantidades limitadas para compra dos produtos com o Brasil, o México e o Canadá

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