Já não era? Trump assinará decreto para inglês virar idioma oficial dos EUA

O presidente dos EUA, Donald Trump, assinará um decreto para estabelecer o inglês como o idioma oficial com objetivo de "promover a unidade" no país, segundo um documento fornecido por um funcionário da Casa Branca hoje.

"Já era hora de o inglês ser reconhecido como o idioma oficial dos Estados Unidos", declarou o funcionário de alto escalão, segundo a agência AFP.

Mas o inglês não era o idioma oficial dos EUA?

País nunca teve um idioma oficial em seus 250 anos. A linguagem nunca foi submetida a nenhuma legislação de nível federal nos EUA, especialmente porque os EUA se formaram primariamente com base na imigração.

Alguns estados já decretaram, individualmente, um idioma oficial. No entanto, segundo o site do governo dos EUA, cerca de 350 idiomas são falados em todo o território, desde línguas indígenas àquelas trazidas por migrantes durante séculos.

A América Britânica, que recebeu os colonos falantes de inglês, não é equivalente a todo o território do país hoje. Ela corresponde apenas aos estados pertencentes às chamadas "Treze Colônias" — New Hampshire, Massachusetts, Rhode Island, Connecticut, Nova York, Nova Jérsei, Pensilvânia, Delaware, Maryland, Virgínia, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia — às Flóridas, parte do Caribe e parte do que hoje é o Canadá.

Nem toda a América Britânica falava inglês, houve migração de colonos falantes de línguas como o alemão, o holandês e o espanhol. Escoceses e irlandeses trouxeram também suas vertentes do gaélico, por exemplo.

Apenas as Treze Colônias declararam sua independência em 1776. Ou seja, a maior parte do território americano que se conhece hoje foi comprado ou anexado de outras formas ao longo dos anos. É o caso da Louisiana, por exemplo, que se tornou americana em 1812, e fala não só o inglês como o francês, cajun e creole, além do espanhol.

Califórnia, Utah, Nevada, Arizona, Novo México, Texas e parte do Colorado eram parte da América Espanhola. Além disso, as regiões da Flórida e da Louisiana (considerada "Nova França") estiveram sob domínio espanhol durante parte de sua colonização e, por isso, o idioma sempre foi difundido neles.

O mesmo vale para outros estados do oeste americano, como Washington e Oregon. Estas regiões foram inicialmente exploradas pelos espanhóis sob o Tratado de Tordesilhas, até que foi assinada a Convenção de Nutka, que cedeu aos britânicos o direito de se fixar na costa do Pacífico. Logo, estes estados sempre tiveram falantes de ambos os idiomas.

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O que muda com a ordem de Trump?

Ordem executiva anularia decreto de Bill Clinton. Até o momento, agências federais e outros órgãos que recebem dinheiro do governo dos EUA são obrigados a oferecer assistência linguística aos não-falantes de inglês. Esta exigência chegaria ao fim, informaram oficiais da Casa Branca ao The Wall Street Journal.

Documentos e serviços ainda devem ser oferecidos em outras línguas, diz o jornal. Segundo um resumo da ordem de Trump obtida pela publicação, objetivo de reconhecer o inglês como língua oficial é promover "unidade, estabelecer eficiência no governo e oferecer um caminho para o engajamento cívico".

Decreto pode ser mais um instrumento no fim das políticas de diversidade e inclusão, além de combate à imigração. Desde a posse de Trump, blitzes em massa foram realizadas em diversos estados para prender imigrantes ilegais e o presidente prometeu a maior operação de deportação em massa da História.

Em tom de alerta à população, Trump afirmou, durante sua campanha, que migrantes de línguas desconhecidas estariam sendo "jogados" em comunidades. Ele ainda alegou ser preocupante que alunos migrantes fossem incapazes de se comunicar em sala de aula.

Temos idiomas chegando ao nosso país... Não temos um único instrutor em toda a nação que possa falar aquela língua. Estas são línguas que - é a coisa mais louca -, eles têm línguas que ninguém neste país já ouviu falar. É uma coisa horrível.
Donald Trump, na campanha de 2024.

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Em 2015, Trump já havia criticado o ex-governador da Flórida, Jeb Bush, por falar espanhol em campanha. "Este é um país onde se fala inglês, não espanhol". Durante sua corrida presidencial de 2024, ele investiu milhões em comunicação com eleitores falantes de espanhol, segundo o The Wall Street Journal. Mas ao assumir o cargo, tirou o site em espanhol da Casa Branca do ar.

Desde os movimentos pelos direitos civis na década de 1960, diversas leis foram aprovadas para oferecer serviços e oportunidades a residentes norte-americanos que não falam inglês. Republicanos no Congresso já haviam tentado transformar o inglês em língua oficial ao longo dos anos, mas nunca foram bem-sucedidos.

Atualmente, 78% dos norte-americanos fala apenas inglês em casa, segundo o censo dos EUA. Mesmo assim, milhões de norte-americanos têm outro idioma como sua primeira língua.

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