Quem são os alauitas, minoria religiosa alvo de massacre na Síria

Ler resumo da notícia
Mais de mil alauitas foram mortos desde quinta-feira na Síria. A violência foi desencadeada por um ataque arquitetado por partidários de Bashar al-Assad, deposto em 2024. Desde então, apoiadores do novo governo, liderado por Ahmed al-Chareh, lançaram operações para caçar possíveis autores, matando 273 combatentes armados, mas também ao menos 745 civis da minoria religiosa muçulmana.
Os alauitas ganharam evidência na Síria graças à família al-Assad, que fazia parte da etnia. O Ministério da Defesa do país anunciou ontem o fim da operação militar lançada contra combatentes da religião que seriam leais ao ex-ditador, que ficou no poder por 24 anos.
Quem são os alauitas?
A minoria religiosa equivale a cerca de 10% a 13% da população da Síria. A estimativa divulgada em 2020 pela EUAA (Agência da União Europeia para o Asilo) é de que 2,1 milhões de alauitas vivem no país.
Etnia está concentrada no litoral do país. A cidade de Latakia, por exemplo, foi uma das mais atacadas por apoiadores do atual governo e é considerada lar da minoria.
Líderes já definiram religião, que apareceu no século 10 no vizinho Iraque, como "terceiro modelo" do islamismo. Em geral, os alauitas são colocados como um segmento dos xiitas, braço mais conservador da religião, mas documento obtido em 2016 pela BBC mostra que lideranças rejeitam a definição.
Documento de oito anos atrás deu alguns detalhes sobre a fé —praticada de forma discreta. À época, dois dos autores do documento, divulgado pela BBC, falaram em anonimato que quiseram reafirmar sua identidade porque a comunidade estava sendo assassinada por sua fé.
Etnia incorporou elementos de outras religiões monoteístas, mas ainda tem Alcorão como único livro sagrado. Alauitas têm elementos do judaísmo e do cristianismo em suas tradições, mas líderes afirmam que isso "não deveria ser visto como desvio do islã, mas como elementos que testemunham nossa riqueza e universalidade".
Existem os xiitas e os sunitas, mas dentro disso você vai ter muitas subdivisões da religião muçulmana. O que eu penso para criar um paralelo é na quantidade de igrejas pentecostais que existem hoje em dia. São várias subdivisões do cristianismo. É tentar olhar por esse prisma: você tem várias subdivisões dentro dos muçulmanos. Leonardo Paz Neves, analista do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV, ao UOL
Qual a ligação da minoria com os Assad?
Bashar al-Assad e seu pai, Hafez, que deu um golpe de estado em 1970, eram alauitas. Eles também alçaram pessoas da minoria religiosa a cargos importantes na estrutura do governo.
Estudos divulgados pela EUAA apontaram que alauitas tinham mais chance de obter empregos em setores públicos. Isso porque eles eram vistos como funcionários potencialmente mais leais.
As famílias da minoria foram muito afetadas pela Guerra Civil que começou em 2011. De acordo com a EUAA, em algumas vilas, de 60 a 70% dos homens alauitas mais jovens foram mortos ou feridos em combate, especialmente nas cidades de Latakia e Tartus, berços da comunidade.
Em manifesto divulgado em 2016, lideranças da religião questionaram al-Assad e mostraram crise na aliança. As fontes ouvidas pela BBC disseram que as seitas islâmicas na Síria são "irmãos e irmãs" e defenderam que os alauitas "não deveriam ser associados com os crimes que o regime cometeu".
Professor alerta que é perigoso insinuar que toda a minoria apoiava a ditadura. "(...) É óbvio que existe um racha, mas não é como se a minoria alauita fosse toda monolítica e todo mundo apoiasse o Assad", diz Neves.
*Com informações da agência EFE e RFI
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.