Ataque paramilitar deixa 45 mortos em escalada de conflito no Sudão
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Pelo menos 45 civis foram mortos no Sudão em um ataque na cidade de Al-Malha, no Sudão. O ataque é atribuído a paramilitares e ocorre após o Exército sudanês ter retomado o controle do palácio presidencial na capital Cartum, após dois anos de conflito.
O que aconteceu
O ataque ocorreu em Darfur do Norte e é atribuído aos paramilitares das FAR (Forças de Apoio Rápido). O número de mortos foi divulgado pelo Comitê de Resistência Local, grupo pró-democracia que documenta e organiza ajuda aos moradores. A entidade forneceu uma lista preliminar de vítimas do massacre de Al-Malha, que inclui 15 pessoas não identificadas.
O exército sudanês retomou ontem o controle do palácio presidencial do país, na capital Cartum, que estava sob o poder das FAR. Segundo um porta-voz militar, a retomada ocorreu após uma batalha violenta. Ela acontece quase dois anos após o início da guerra.
O Sudão vive uma guerra desde 15 de abril de 2023. No conflito, o chefe do exército oficial, Abdel Fatah al-Burhan, enfrenta seu ex-adjunto, o líder das FAR, general Mohamed Hamdan Daglo.
O palácio presidencial em Cartum foi ocupado pela facção paramilitar desde o início do conflito. Após conquistar o complexo, as FAR rapidamente assumiram o controle da cidade, forçando o governo alinhado ao Exército a fugir para Porto Sudão, na costa do Mar Vermelho.
A televisão estatal divulgou imagens de combatentes celebrando a retomada. Soldados do Exército também compartilharam nas redes sociais vídeos filmados no que seria o interior do palácio presidencial. "Nossas forças destruíram por completo os combatentes e o material do inimigo, e se apoderaram de grandes quantidades de equipamentos e armas", disse o porta-voz militar, Nabil Abdalá, em um comunicado divulgado pela televisão estatal.
Em um comunicado publicado no Telegram, as FAR afirmaram ter lançado uma "operação relâmpago" contra o palácio. "A batalha pelo Palácio Republicano não terminou", afirmaram.
Três jornalistas foram mortos em um ataque paramilitar com um drone no palácio, segundo uma fonte do Exército sudanês. O ataque ocorreu horas depois que forças oficiais retomaram o edifício. Os jornalistas estavam reportando à televisão estatal sudanesa quando ocorreu o ataque, disse a fonte à AFP.
Duro golpe nas FAR
Milícia perde força. Um especialista militar, que falou sob anonimato por razões de segurança, afirmou à AFP que "com a entrada do Exército no Palácio Republicano, que significa o controle do centro de Cartum, a milícia perdeu suas forças de elite".Os paramilitares instalaram suas tropas de elite e armazenaram muitas armas e munições na antiga sede do governo, símbolo da soberania estatal do Sudão, segundo fontes militares.
Em janeiro, o Exército rompeu um cerco de quase dois anos das FAR ao seu quartel general. Isso permitiu às tropas se fundirem com outros batalhões e cercarem os paramilitares no centro da cidade. "O que restava das milícias das FAR fugiu para alguns edifícios" do centro de Cartum, declarou à AFP uma fonte militar que pediu anonimato.
Nas últimas semanas, o Exército retomou o controle do setor norte de Cartum. O setor fica do outro lado do Nilo Azul a partir do centro da cidade. Também retomou o setor leste do Nilo, ao leste da capital. As FAR mantêm posições em Cartum e em sua cidade gêmea de Ondurman, do outro lado do Nilo Branco.
No resto do país, os combates se intensificaram nas últimas semanas em El Fasher, capital de Darfur do Norte. A região está sitiada desde maio e as FAR tentam tomá-la para controlar o conjunto da vasta região ocidental de Darfur. El Fasher é a única cidade rica da região de Darfur que está fora do controle dos paramilitares.
A guerra já causou milhares de mortes e provocou o deslocamento de 12 milhões de pessoas. Trata-se da maior crise alimentar e de deslocamento do mundo. Na Grande Cartum, pelo menos 3,5 milhões de pessoas tiveram que deixar suas casas como consequência da violência, e pelo menos 100 mil pessoas enfrentam a desnutrição, segundo dados da ONU.
*Com informações da AFP