Médicos sem dormir, pessoas sob escombros: como está Mianmar após terremoto
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Pouco mais de uma semana após um terremoto atingir Mianmar, no sudeste da Ásia, o número de pessoas mortos já ultrapassa os 3.000, e centenas de pessoas seguem desaparecidas, segundo a imprensa estatal do país.
O que aconteceu
Terremoto de 28 de março destruiu edifícios e infraestruturas em todo o país. Dados atualizados e divulgados hoje pela emissora estatal MRTV informam 3.354 pessoas mortas, 4.508 feridas e 220 desaparecidas.
Na região central de Mianmar, médicos estão sem dormir, e pacientes são atendidos do lado de fora de hospital. Em um centro médico de Mandalay, pessoas feridas estão recebendo atendimento sob calor intenso porque diversos prédios hospitalares foram danificados pelos tremores. Segundo apuração do The Guardian, alguns dos pacientes estavam sofrendo de insolação e infecções de pele, decorrentes do sol escaldante e das condições precárias de saneamento no local.

Parte da população ainda busca familiares entre escombros. É o caso da birmanesa Hnin, que segue atrás de notícias de suas duas filhas, seu marido e uma funcionária. Eles estavam dentro de um hotel de seis andares em Mandalay que desabou, conforme apurado pelo The Guardian.
Atrasos nas operações de busca no país aumentam o desespero. Hnin andou pela cidade devastada, onde as linhas de comunicação mal funcionam, para comprar lanternas e combustível para equipes de socorro mal equipadas. Um gerente do hotel onde estava sua família não permitiu o uso de uma escavadeira pelos socorristas, temendo que o prédio desabasse. Dias se passaram antes que as equipes de resgate chinesas e russas chegassem à região, mas os familiares da birmanesa ainda não foram encontrados.
Como posso dormir? Quando acordo no meio da noite, sinto como se minhas lágrimas tivessem secado. Não consigo mais chorar nem expressar o que estou sentindo. Meu coração dói muito. Hnin, ao The Guardian
Muitos seguem desabrigados, porque suas casas foram destruídas ou porque temem novos desabamentos. As Nações Unidas estimam que mais de três milhões de pessoas podem ter sido afetadas pelo terremoto de magnitude 7,7 em um país que já sofre as consequências de quatro anos de uma guerra civil.
Famílias colocaram móveis para fora de casa e estão dormindo em tendas marcadas com o número de suas casas. Ajudas externas seguem chegando ao país, mas moradores alegam que não está sendo suficiente. Água limpa, alimentos e remédios são demandados, enquanto corpos estão presos sob o escombro de prédios e o cheiro de decomposição se espalha pelas ruas das cidades na região central, ainda segundo reportagem do The Guardian, que esteve na região.

"A destruição é impressionante", escreveu porta-voz de assuntos humanitários e de assistência da ONU. Pelo X, Tom Fletcher ressaltou: "O mundo precisa se unir para apoiar o povo de Mianmar".
País asiático é governado por junta militar liderada pelo general Min Aung Hlaing, desde o golpe de 2021 que desencadeou uma guerra civil. Segundo a ONU, a junta realizou dezenas de ataques locais desde o terremoto, mesmo após declarar uma trégua temporária na quarta-feira. Após os tremores, a máquina de propaganda da junta militar trabalhou para "elevar a moral" do governo, "retratando seus soldados como os salvadores da nação", afirmou ao The Guardian Ye Myo Hein, um porta-voz da organização global de política internacional Wilson Center.
Escritório de direitos humanos da ONU, porém, acusou ontem os militares de limitar a ajuda humanitária no país. Voluntários que estão no centro dos esforços de socorro relatam bloqueios por soldados, especialmente quando tentam entrar em áreas de oposição ou contestadas pelas forças estatais.
*Com AFP e The Guardian