Por que EUA atacaram porto no Iêmen? Entenda rivalidade com houthis

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Os Estados Unidos atacaram um porto de combustível no Iêmen ontem, o que levou a pelo menos 74 mortes e cerca de 170 feridos, segundo a mídia controlada pelo grupo xiita houthis.
Qual o motivo do ataque?
Objetivo era destruir a instalação, que fornece combustível aos houthis. O Iêmen foi devastado por uma guerra civil que começou há dez anos. Quando os houthis tomaram o controle do noroeste do país, uma coalizão liderada pela Arábia Saudita e apoiada pelos EUA interveio.
O grupo teria lançado mais de cem ataques contra embarcações supostamente israelenses. As ações seriam uma resposta à guerra de Israel em Gaza. A menos que o grupo cesse esses ataques, os EUA prometeram manter a ofensiva intensificada, na maior operação militar americana no Oriente Médio desde que Donald Trump assumiu a presidência, em janeiro.
As forças americanas tomaram medidas para eliminar esta fonte de combustível para os terroristas apoiados pelo Irã e privá-los das receitas ilegais que financiaram os esforços houthis para aterrorizar toda a região durante mais de dez anos. Comando Central dos Estados Unidos em comunicado
Washington realiza bombardeios quase diariamente desde 15 de março para tentar acabar com o grupo. No mês passado, dois dias de ataques mataram mais de 50 pessoas, segundo autoridades houthis.
Os EUA iniciaram uma operação contra o grupo sob o governo de Joe Biden. Desde novembro de 2023, os houthis lançaram dezenas de ataques com drones e mísseis contra embarcações que transitam pela hidrovia, dizendo que estavam mirando navios ligados a Israel em protesto contra a guerra em Gaza.
Quem são os houthis
A origem dos houthis remete a um grupo do norte do Iêmen, perto da Arábia Saudita. Eles pertencem a uma subdivisão dos xiitas zaiditas, que se diferenciam dos muçulmanos xiitas tradicionais em relação a algumas crenças. Eles não acreditam, por exemplo, no retorno messiânico do 12º imã (descendentes do profeta Maomé). O último teria desaparecido, mas é esperado que volte algum dia.
A origem xiita dos houthis os conecta ao Irã, representantes do grupo. Equivalente a um terço da população do Iêmen, os zaiditas mantêm um movimento político e militar desde os anos 1990. A vertente contemporânea foi fundada por Hussein al-Houthi, ex-político iemenita que se opunha à suposta corrupção do ex-presidente Ali Abdullah Saleh, ele próprio um houthi.
A Primavera Árabe, em 2011, colocou os houthis sob holofotes. Depois que os protestos derrubaram o regime de Saleh, os houthis acusaram o então novo presidente, Abed Rabbuh Mansur Al-Hadi, um muçulmano sunita, de marginalizar os zaiditas, aproximar-se dos Estados Unidos e de Israel e se transformar em marionete da Arábia Saudita.

Em 2014, os houthis se rebelaram contra o governo. Eles começaram a dominar algumas regiões do país, inclusive a capital, Sanaa. Os sauditas, que apoiavam Al-Hadi, lideram, desde 2015, uma coalizão internacional para combatê-los.
O governo de Sanaa, comandado por Abdel Malek Houthi, obteve um arsenal militar considerável. Seus mísseis e drones de fabricação iraniana são capazes de atingir alvos a até 2.000 quilômetros de distância, como ofensivas que chegaram a atingir instalações petrolíferas da Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos.
A guerra civil do Iêmen foi descrita pelas Nações Unidas como a pior crise humanitária do mundo. Os conflitos teriam deixado mais de 350 mil mortos, segundo a ONU, e deslocaram 4,8 milhões de pessoas. Metade da população —19,5 milhões— precisaram de alguma forma de ajuda.
Em 2022, as partes firmaram um acordo de trégua. No ano seguinte, a aproximação entre Irã e Arábia Saudita, mediada pela China, acelerou o diálogo interno, prolongando o cessar-fogo, em vigor até hoje.
'Morte a Israel'
"Deus é grande, morte aos EUA, morte a Israel, maldição sobre os judeus e vitória para o Islã", diz o lema houthis. Embora a maior parte do Oriente Médio, incluindo sucessivos governos iemenitas, defenda o reconhecimento do Estado da Palestina e o fim da ocupação israelense, os houthis radicalizaram esse posicionamento.
Eles mantêm laços estreitos com o Irã. O grupo se considera parte do "Eixo de Resistência", uma aliança que inclui o Hamas, de Gaza, o Hezbollah, do Líbano, e diversas facções paramilitares iraquianas. Ao contrário dos outros grupos, no entanto, os houthis dependem menos de financiamento do Irã.
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