'Morte a Israel': quem são os houthis, grupo xiita alvo dos EUA no Iêmen

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De tribo xiita a potência política, os houthis viraram notícia no mundo depois que os Estados Unidos bombardearam um porto de combustível no Iêmen, na quinta-feira, deixando ao menos 74 mortos e 171 feridos.
Quem são os houthis
A origem dos houthis remete a um grupo tribal do norte do Iêmen, perto da Arábia Saudita. Eles pertencem a uma subdivisão dos xiitas zaiditas, que se diferenciam dos muçulmanos xiitas tradicionais em relação a algumas crenças. Eles não acreditam, por exemplo, no retorno messiânico do 12º imã (descendentes do profeta Maomé). O último teria desaparecido, mas é esperado que volte algum dia.
A origem xiita dos houthis os conecta ao Irã, representantes do grupo. Equivalente a um terço da população do Iêmen, os zaiditas mantêm um movimento político e militar desde os anos 1990. A vertente contemporânea foi fundada por Hussein al-Houthi, ex-político iemenita que se opunha à suposta corrupção do ex-presidente Ali Abdullah Saleh, ele próprio um houthi.
A Primavera Árabe, em 2011, colocou os houthis sob holofotes. Depois que os protestos derrubaram o regime de Saleh, os houthis acusaram o então novo presidente, Abed Rabbuh Mansur Al-Hadi, um muçulmano sunita, de marginalizar os zaiditas, se aproximar dos Estados Unidos e de Israel e se transformar em marionete da Arábia Saudita.

Em 2014, os houthis se rebelaram contra o governo. Eles começaram a dominar algumas regiões do país, inclusive a capital, Sanaa. Os sauditas, que apoiavam Al-Hadi, lideram, desde 2015, uma coalizão internacional para combatê-los.
O governo de Sanaa, comandado por Abdel Malek Houthi, obteve um arsenal militar considerável. Seus mísseis e drones de fabricação iraniana são capazes de atingir alvos a até 2.000 quilômetros de distância, como ofensivas que chegaram a atingir instalações petrolíferas da Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos.
A guerra civil do Iêmen foi descrita pelas Nações Unidas como a pior crise humanitária do mundo. Os conflitos teriam deixado mais de 350 mil mortos, segundo a ONU, e deslocaram 4,8 milhões de pessoas. Metade da população —19,5 milhões— precisaram de alguma forma de ajuda.
Em 2022, as partes firmaram um acordo de trégua. No ano seguinte, a aproximação entre Irã e Arábia Saudita, mediada pela China, acelerou o diálogo interno, prolongando o cessar-fogo, em vigor até hoje.
"Morte a Israel"
"Deus é grande, morte aos EUA, morte a Israel, maldição sobre os judeus e vitória para o Islã", diz o lema houthis. Embora a maior parte do Oriente Médio, incluindo sucessivos governos iemenitas, defenda o reconhecimento do Estado da Palestina e o fim da ocupação israelense, os houthis radicalizaram esse posicionamento.
Eles mantêm laços estreitos com o Irã. O grupo se considera parte do "Eixo de Resistência", uma aliança que inclui o Hamas, de Gaza, o Hezbollah, do Líbano, e diversas facções paramilitares iraquianas. Ao contrário dos outros grupos, no entanto, os houthis dependem menos de financiamento do Irã.
Ataques no Mar Vermelho
O grupo voltou ao noticiário após o início da guerra entre Israel e o grupo Hamas, da Palestina. Em janeiro do ano passado, uma coalizão liderada pelos Estados Unidos retaliou os ataques com um bombardeio em mais de uma dezena de locais controlados pelos houthis na capital do Iêmen. O grupo respondeu que manteriam os ataques até que Israel suspendesse o bloqueio a Gaza, permitindo a entrada de alimentos e outros artigos de primeira necessidade.
Ontem, os Estados Unidos voltaram a retaliar o grupo. Ataques aéreos a um porto de combustível no Iêmen resultaram na morte de pelo menos 74 pessoas e deixaram mais de 171 feridos, segundo relato da mídia controlada pelos Houthis.
A operação tinha como objetivo cortar uma das fontes de combustível para o grupo militante, segundo os EUA. "As forças americanas tomaram medidas para eliminar esta fonte de combustível para os terroristas apoiados pelo Irã e privá-los das receitas ilegais que financiaram os esforços houthis para aterrorizar toda a região durante mais de 10 anos", afirmou em comunicado o Comando Central dos Estados Unidos.

O grupo prometeu resistir. O oficial Mohammed Nasser al-Atifi disse à Al Marsirah TV que os "crimes do inimigo americano" não impedirão o povo iemenita de apoiar Gaza, mas "fortalecerão sua firmeza e resiliência".
Segundo lideranças houthis, o ataque foi um "crime de guerra". "Afirmamos que o ataque ao porto petrolífero de Ras Isa é um crime de guerra completo, já que o porto é uma instalação civil e não militar", disse o governo de Sanaa em comunicado.
Observadores acreditam que os ataques no Mar Vermelho não são um perigo para Israel. Todos os mísseis disparados daquela direção contra o país foram repelidos. As investidas serviriam principalmente como mensagem política para a população local. "Essa guerra é uma oportunidade de ouro para o grupo houthi demonstrar à população local sua posição pró-Palestina, anti-Israel e antiamericana", afirmou à agência alemã Deutsche Welle o pesquisador Farea al-Muslimi.
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