Era devoto de nossa padroeira: a relação do papa Francisco com o Brasil
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O papa Francisco era devoto de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, e fez a sua primeira viagem internacional para o país, onde ficou por sete dias no Rio de Janeiro, em 2013. Ele assumiu o posto em março de 2013, após a renúncia de Bento 16.
Primeira viagem internacional
Primeira viagem internacional de Francisco como papa foi ao Brasil em julho de 2013. Na ocasião, ele participou da Jornada Mundial da Juventude, um encontro de jovens católicos. Ainda quando estava no voo de Roma ao Rio, o pontífice brincou com jornalistas brasileiros que "lamentaram" por ele ser argentino, em referência à rivalidade entre os países.
Vocês querem tudo. Vocês já têm um Deus brasileiro, queriam um papa também?
Papa Francisco em resposta a jornalistas brasileiros
Em seu primeiro discurso no Brasil, em 22 de julho de 2013, o papa citou o "imenso coração" dos brasileiros. Ele afirmou que sua presença no Rio era para encontrar os jovens de todos os países que estavam no evento "atraídos pelos braços abertos do Cristo Redentor".
Nesta hora, os braços do papa se alargam para abraçar a inteira nação brasileira, na sua complexa riqueza humana, cultural e religiosa. Desde a Amazônia até os pampas, dos sertões até o Pantanal, dos vilarejos até as metrópoles, ninguém se sinta excluído do afeto do papa. Desde já abençoo a todos.
Papa Francisco, em 1º discurso no Brasil em 2013
Dois dias depois, o pontífice viajou até Aparecida, em São Paulo. O destino era o Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, conhecida popularmente como Nossa Senhora de Aparecida. Esta foi a segunda visita do papa ao local; a primeira ocorreu em 2007. Assim que chegou à basílica, ele fez uma oração diante da imagem da santa e a chamou de "minha mãe", oferecendo flores na sequência.
Religioso celebrou missa na basílica, a sua primeira missa pública na América Latina. Ele afirmou que os jovens "são um motor poderoso para a Igreja e para a sociedade". Na ocasião, destacou que, embora na vida passemos por muitas dificuldades, "Deus nunca deixa que nos afundemos", e falou que, embora "o diabo e o mal existam, isso não é mais forte". "O mais forte é Deus e Deus é nossa esperança", ressaltou.

Durante a passagem pelo Brasil, o papa ainda fez um discurso na favela de Varginha, zona norte do Rio. Ele pediu que as pessoas se esforçassem para que o mundo fosse mais justo e solidário, e atacou a estratégia de pacificação das favelas no estado, alertando que, enquanto a desigualdade social não fosse resolvida, "não haveria paz duradoura". Em seu quinto dia no Brasil, Francisco ouviu as confissões de jovens de diferentes continentes escolhidos por sorteio.
No sétimo e último dia no país, o papa celebrou a missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude, na praia de Copacabana. Aproximadamente 3 milhões de pessoas acompanharam o evento. Em seu último discurso no Brasil, Francisco disse sentir saudades do país antes mesmo de deixá-lo.
Já começo a sentir saudades. Saudades do Brasil, este povo tão grande e de grande coração, este povo tão amoroso. Saudades do sorriso aberto e sincero que vi em tantas pessoas, saudades do entusiasmo dos voluntários.
Papa em cerimônia de despedida no Rio
Em agosto de 2013, o religioso disse não ter esquecido a "calorosa" acolhida que recebeu no Brasil, e definiu os brasileiros como "um povo generoso" e de "grande coração". No mesmo mês, reafirmou na praça São Pedro, no Vaticano, que sua viagem ao Rio foi um "grande presente" e que tinha "saudade" do Brasil. Em 2014, voltou a dizer que a viagem foi "inesquecível" e que os brasileiros "roubaram seu coração".
Canonização de Irmã Dulce, a primeira santa nascida no Brasil

Em 2019, Francisco canonizou Irmã Dulce, a freira conhecida como o "anjo bom da Bahia" pela fé e dedicação no trabalho de assistência aos pobres. A cerimônia ocorreu durante uma missa no Vaticano acompanhada por 50 mil pessoas, segundo a Igreja Católica. Com dois milagres reconhecidos pela Igreja, Irmã Dulce passou a ser chamada de Santa Dulce dos Pobres.
O pontífice também declarou santo o jesuíta espanhol José de Anchieta (1534-1597) em 2014. Anchieta, patrono de São Paulo, é conhecido como o apóstolo do Brasil por seu trabalho no país, especialmente em São Paulo, da qual foi um de seus fundadores. Apesar de ser espanhol, toda sua obra religiosa e literária está vinculada ao país.
Meio ambiente
Em 2017, em mensagem enviada para a campanha de Quaresma, o papa Francisco declarou que o "Criador" foi "pródigo" com o Brasil. Ele afirmou que foi concedida ao país uma diversidade de ecossistemas de "extraordinária beleza", mas destacou que havia sinais de "agressões à criação e de deterioração da natureza".
O líder da Igreja Católica também afirmou que o desmatamento no Brasil era "escandaloso" e estava "preso à exploração das riquezas naturais". Para ele, a Amazônia e as florestas da República Democrática do Congo são os "dois pulmões da humanidade". "E se tiramos isso, tiramos nosso oxigênio, tiramos a riqueza", afirmou ao site argentino Perfil em 2023.
Falando aos bispos brasileiros no Rio de Janeiro em 2013, Francisco já havia feito um chamado ao "respeito e à custódia da criação que Deus confiou ao homem". "No desafio pastoral que representa a Amazônia, não posso deixar de agradecer por aquilo que a Igreja no Brasil está fazendo", disse na ocasião.
Política
Após o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, o pontífice afirmou que o país atravessava um "momento triste". Antes da saída da petista do poder, o papa havia escrito uma carta de apoio à ex-presidente. Dilma e o religioso haviam se reunido em 2013, quando ele visitou o Brasil pela primeira vez, para a jornada. Em fevereiro de 2014, a petista esteve em Roma para a cerimônia que oficializou dom Orani Tempesta como cardeal.

Em 2020, o papa se encontrou com o então ex-presidente Lula (PT) no Vaticano. Na legenda de foto publicada no X, o petista disse que ambos conversaram sobre "um mundo mais justo e fraterno". O religioso presenteou o Lula com um rosário durante encontro e, em retribuição, recebeu uma imagem do indígena Bejá Kayapó.

Mais homenagens ao Brasil e aos brasileiros
Francisco enviou uma rosa de ouro ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida em 2017. O ato fez parte de uma homenagem ao jubileu dos 300 anos do encontro da imagem da padroeira. Foi a terceira vez que o santuário foi presenteado com uma rosa por um papa, sendo Paulo 6º o primeiro, em 1967, seguido de Bento 16, em 2007.
No jubileu dos 300 anos, o religioso ainda enviou um vídeo surpresa para a missa. No registro, em português, o líder da Igreja Católica manifestou seu "carinho" pelo povo brasileiro e enviou um "abraço fraterno" para o momento de festa. "Esperança, querido povo brasileiro, é a virtude que deve permear os corações dos que creem, sobretudo quando ao nosso redor a situação de desespero parece querer nos desanimar", disse.

Papa canonizou em 2017 os 30 primeiros mártires do Brasil. Conhecidos como "mártires do Rio Grande do Norte", o grupo de fiéis católicos foi assassinado por holandeses calvinistas em 1645. Entre eles estavam os sacerdotes diocesanos André de Soveral e Ambrósio Francisco Ferro, o camponês Mateus Moreira e outros 27 leigos, incluindo quatro crianças
Em junho de 2020, Francisco demonstrou solidariedade ao Brasil em função da pandemia da covid-19 e chegou a doar respiradores e aparelhos de ultrassom ao país. Um ano depois, pediu a "superação das divisões" para atingir a união e vencer a pandemia.
Demonstração de apoio e pesares em momentos de tragédia. O papa Francisco expressou pesar pelo colapso da barragem em Brumadinho (MG), que deixou 270 mortos em 2019. No mesmo ano, também prestou solidariedade às famílias de vítimas do ataque na escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP). Além disso, uma carta do religioso foi enviada aos familiares dos mortos no ataque a uma creche em Saudades (SC) em 2021. Ele ainda rezou pelos atingidos pelas enchentes no Rio Grande do Sul em 2024 e doou cerca de R$ 556 mil aos afetados pelo episódio.
Em novembro de 2024, o papa Francisco enviou uma mensagem aos líderes do G20, reunidos no Rio de Janeiro. Ele defendeu a urgência de ações concretas no combate à fome e à pobreza no mundo. No documento, endereçado ao presidente Lula, o líder da Igreja Católica fez um apelo por solidariedade global e coordenação entre as nações para enfrentar injustiças sociais e econômicas.
Futebol e brincadeiras
A rivalidade Brasil e Argentina não passava despercebida pelo papa, um fã confesso de futebol. No ano de 2018, Francisco fez uma piada sobre futebol, comparando Pelé e Maradona, ao se reunir com um jovem brasileiro. "Ouvi Matheus falando em português. Queria perguntar: 'Mas quem é melhor, Pelé ou Maradona?'". No mesmo ano, ele "consolou" o Brasil por causa da eliminação para a Bélgica na Copa do Mundo, na Rússia.
Em 2021, o pontífice disse que os brasileiros não tinham salvação em razão de "muita cachaça e pouca oração". A brincadeira foi feita pelo papa com padres brasileiros que visitaram o Vaticano e pediram ao pontífice que rezasse pelo povo do Brasil.
Com AFP, Agência Brasil, Ansa, EFE, Estadão Conteúdo e Reuters.
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