Irmã do papa não o via há 12 anos e vive cuidada por freiras na Argentina

O papa Francisco, morto aos 88 anos, tem uma única irmã ainda viva na Argentina. Os dois não se encontravam desde 2013, quando ele foi eleito o novo chefe da Igreja Católica.

Quem é a irmã do papa?

A dona de casa María Elena Bergoglio é 12 anos mais nova que o pontífice. Jorge Mario, o Francisco, era o mais velho, enquanto ela é a caçula e única sobrevivente dos cinco filhos do casal Mario Jorge Bergoglio e María Regina Sívori. Depois do papa, em 1936, vieram Oscar (1938-1997), Marta Regina (1940-2007) e Alberto (1942-2010).

Apesar da diferença de idade, ela enfrenta problemas de saúde há mais de uma década. María vive sob o cuidado de freiras em Buenos Aires, segundo o jornal argentino La Nación.

A caçula não via Jorge Mario desde que ele foi eleito papa. No entanto, as idosas primas Carla e Nella, sobrinhos, sobrinhos-netos chegaram a visitar Francisco em Roma nos últimos anos. Através de María Elena, o papa Francisco era tio do arquiteto Jorge e do comerciante José.

A irmã do papa Francisco, María Elena Bergoglio, em conversa com jornalistas ao lado de seu filho Jorge, em março de 2013
A irmã do papa Francisco, María Elena Bergoglio, em conversa com jornalistas ao lado de seu filho Jorge, em março de 2013 Imagem: Juan Mabromata/AFP

Apesar de ter renovado o passaporte para visitar o irmão, ela foi proibida pelos médicos de encarar a longa viagem de avião. Francisco, por sua vez, nunca retornou à Argentina em meio às demandas do papado e às tensões com os governantes do seu país de origem, segundo o La Nación.

Jorge e "Mariela", como a família chama a irmã caçula de Francisco, se despediram antes que ele partisse para Roma para o conclave que o elegeu. Um dia antes, eles estiveram juntos e María Elena disse ao irmão: "Te vejo quando voltar", contou ao jornalista Francisco Alfaya, hoje da Bloomberg, em 2013. Ela disse que ambos acreditavam que ele retornaria. Francisco teria deixado a casa em Buenos Aires ainda bagunçada, pensando que logo poderia arrumá-la.

Dias depois, ela recebeu em casa pelo noticiário, como o restante do mundo, a notícia de que o irmão era o novo papa. À rede americana CNN, ela disse que havia rezado no passado para que os cardeais não o escolhessem. "Eu não queria que meu irmão partisse. Foi uma posição em que fui um pouquinho egoísta", confessou. Bergoglio recebeu cerca de 40 votos no conclave de 2005 antes que pedisse aos colegas pela eleição de Joseph Ratzinger como Bento 16.

Com os anos, ela acabou abrindo-se à possibilidade de "perder" Jorge Mario para o mundo. Durante o conclave de 2013, do qual o argentino saiu papa Francisco, Mariela rezou "ao Espírito Santo para que interviesse e não ouvisse a mim", relembrou. "E Ele não me ouviu. Fez o que queria", se divertiu ao canal dos EUA.

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Após ver a fumaça branca sair da Capela Sistina, ela recebeu uma ligação do novo papa. Francisco disse a ela que não se preocupasse porque ele estava bem. "Disse a ele que queria abraçá-lo e ele me disse que já estávamos nos abraçando à distância, o que é algo que também sinto e que é real", contou na época. O pontífice ainda fez a ela um pedido: que ela ligasse por ele para o restante da família dando a eles "o seu amor". "Se eu ligar para todo mundo, vou esvaziar os cofres do Vaticano", brincou.

Não sei como ele conseguiu se comunicar. Meu filho atendeu e disse 'oi, tio' e pareceu que o mundo caiu em cima de mim. Estávamos muito emocionados os dois. Ele contou que as coisas aconteceram assim e não havia nada mais que fazer a não ser aceitar. Ele parecia bem, não transmitia nenhuma preocupação, ao contrário, transmitia muita alegria. María Elena Bergoglio, a irmã caçula do papa Francisco

No entanto, eles mantinham uma relação próxima. Logo após sua eleição para o papado, ela ainda relembrou ao jornal argentino a rotina familiar de décadas com aquele que, para ela, era Jorge Mario.

Ele sempre foi um irmão muito companheiro, muito presente para além das distâncias e seus compromissos com a Igreja. Nos falamos uma vez por semana, nos escrevemos cartas [...] María Elena "Mariela" Bergoglio

Nos almoços de família, o papa Francisco cozinhava. "Ele adora fazer suas lulas recheadas ou os risotos de cogumelos que aprendeu de uma receita herdada de nossa avó italiana", entregou Mariela.

Quando Francisco se tornou cardeal pelas mãos do então papa João Paulo 2º, a irmã o acompanhou a Roma. Com vidas bastantes diferentes, eles se encontravam para oferecer suporte. "Mesmo quando eu estava passando pelo divórcio do meu marido, ele me apoiou".

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Meses depois da eleição de Francisco, Mariela chegou a ser internada. Desde então, sua saúde inspirou mais cuidados e ela raramente falou ao público sobre o irmão. Uma rara exceção, logo após a eleição, foi uma entrevista ao jornal italiano La Repubblica em que relembrou que, como o pai, Jorge Mario era fã do time de futebol San Lorenzo, além de ópera, tango e a cantora francesa Édith Piaf. Além disso, ela contou que a mãe deles inicialmente não lidou bem com o interesse do filho pelo seminário, porque temia perdê-lo.

Ela ainda fez uma famosa profecia sobre o papado do irmão. Pouco depois do conclave, Mariela acertou em cheio à revista argentina Hola sobre que tipo de pontífice Francisco se tornaria.

Conhecendo-o, sinto que ele fará mudanças na Igreja. Não só porque ele é um homem de integridade, com um forte caráter e convicções admiráveis, mas porque ele terá o apoio de todos nós através das orações. Desde que me lembro, ouvia o Jorge nos pedindo para rezar por ele. Acho que é como ele pavimentou o seu caminho. Mariela Bergoglio

O artista plástico Gustavo Massó "encurtou" a distância entre os irmãos nos últimos anos. Em uma visita a Francisco, ele lhe entregou uma escultura da mão de uma mulher com um áudio com música de Mozart e uma mensagem: "Olha, eu gostaria de estar com você e te abraçar. Acredite, estamos nos abraçando. Apesar das distâncias, estamos muito próximos". A voz e a mão eram de Mariela —o que emocionou o papa, contou Massó ao jornal espanhol El Mundo.

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