Saiu da missa e pegou o metrô: a história por trás da foto viral do papa

Uma foto de Jorge Mario Bergoglio tirada em 2008 em um vagão de metrô, quando ele ainda era arcebispo de Buenos Aires, voltou a viralizar horas após sua morte. O registro ocorreu por acaso, contou o fotógrafo Pablo Leguizamón em entrevista ao Diario Río Negro.

Ele tentou vender a foto na época, mas a imagem só ganhou fama cinco anos depois, quando Bergoglio foi ordenado papa. Veio em boa hora para fotógrafo, que estava sem dinheiro nem para pagar o aluguel.

O que aconteceu?

Metrô de Buenos Aires postou a foto ontem no Instagram. A imagem ganhou projeção como um símbolo da simplicidade de Francisco, notável desde os tempos em que ele era o arcebispo de Buenos Aires.

Fotógrafo contou que, na época, aos 28 anos, vivia em Buenos Aires, atuando como fotógrafo freelancer enquanto estudava na Associação de Repórteres Gráficos. "Eu vinha da fotografia artística e começava a entender o que era o fotojornalismo".

Fotógrafo conta que, numa tarde de junho, saiu para "pescar", ou seja, buscar situações que rendessem boas imagens. Foi até a Praça Miserere, onde Bergoglio liderava a celebração de Corpus Christi. "Seu discurso e sua presença tinham um forte conteúdo político", lembrou.

"Toda a mídia estava lá", diz Leguizamón. Segundo ele, portanto, as imagens feitas na praça estão disponíveis para todos. Mas a foto que se destacaria ainda estava por vir.

Ao fim do evento, Bergoglio deixou o palco e Leguizamón o seguiu. O fotógrafo esperava que o religioso entrasse em algum carro oficial, escoltado, mas, para sua surpresa, Bergoglio caminhou alguns quarteirões e entrou em uma estação de metrô. "Isso me chamou a atenção", disse.

Havia algo que me chamava para fazer as imagens, porque não era comum ver um sujeito com essas características dentro de um metrô. Pablo Leguizámon, fotógrafo

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Ele então saiu correndo, pulou as catracas e correu atrás o arcebispo, que embarcou na linha A, a mais antiga do metrô. Os vagões tinham assentos de madeira, e os usuários conviviam com recorrentes problemas de queda de energia elétrica entre as estações —o que Leguizamón definiu como "algo entre o terror e a viagem no tempo".

Foi nesse contexto, com pouca iluminação, que o fotógrafo ficou frente a frente com o futuro papa. E, assim, fez o registro, apesar das limitações. "Eu ainda não estava bem formado, e a câmera não era das melhores", justifica.

Ele afirma que tirou várias fotos em sequência, e muitas não ficaram boas. Mas definiu uma delas como uma "obra de arte", e o registro se tornou algo icônico.

Fotógrafo disse que, na hora, pensou que alguém fosse impedi-lo, mas ninguém reagiu. As pessoas ao redor também não pareciam dar muita importância à presença do arcebispo. "Ele não era nenhum astro do rock", conta.

Leguizamón tentou vender a foto à imprensa, mas ninguém se interessou. "Disseram que importavam mais as fotos na praça". O fotógrafo então guardou a imagem e não pensou mais nela. Pelo menos até cinco anos depois.

Quando Jorge Bergoglio foi escolhido como papa, em 2013, um amigo ligou para Leguizamón lembrando da foto. Desiludido com a profissão, ele passava por um momento financeiro difícil. "Eu não tinha dinheiro nem para pagar o aluguel, nem para almoçar", conta. No entanto, decidiu tentar. Deu certo.

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A imagem foi publicada em grandes veículos nacionais e internacionais, como o argentino La Nación e os jornais The New York Times, El País, além de um especial da National Geographic. "Acabei vendendo para uma das agências internacionais mais conhecidas".

Desde então, segundo ele, a imagem viralizou algumas vezes. Mas ele lamentou o motivo da nova viralização. "Agora, infelizmente por sua morte, ele está novamente relevante".

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