Cardeal condenado por corrupção diz que irá ao conclave mesmo com proibição

O cardeal italiano Angelo Becciu, condenado em 2023 pela Justiça do Vaticano por corrupção, viajou a Roma ontem à noite para participar do conclave, processo que escolherá o próximo papa após a morte de Francisco.

O que aconteceu

Ele disse que participará da escolha mesmo após o Vaticano classificá-lo como um dos cardeais não eleitores. "O papa reconheceu intactas as minhas prerrogativas cardinalícias, uma vez que não houve uma vontade explícita de me excluir do conclave nem o pedido explícito da minha renúncia por escrito. A lista publicada pela assessoria de imprensa não tem valor jurídico", rebateu Becciu ao jornal L'Unione Sarda.

Cardeal atuou como assessor próximo de Francisco. "A morte, por mais repentina que seja, não pode apagar sete anos de colaboração estreitíssima, de partilha das mais altas decisões eclesiais e pastorais da igreja universal, de amizade e de costumes consolidados", disse.

Becciu afirmou que ficou chocado com a morte do papa. "Agora o papa está na luz do ressuscitado [Jesus Cristo], tendo falecido precisamente durante os dias da Páscoa, e esta certeza conforta-me: agora Francisco vê a verdade dos fatos, sem dúvidas e sem sombras".

Tribunal Penal do Vaticano condenou o cardeal a cinco anos e meio de prisão em primeira instância, em dezembro de 2023, por fraude. Ele foi processo por ter usado dinheiro do Óbolo de São Pedro, órgão de caridade da Igreja Católica, para a compra de um prédio de luxo em Londres. Na época, o cardeal era o "número 2" da poderosa Secretaria de Estado do Vaticano.

Becciu nega as irregularidades e recorreu da sentença. Ele responde ao processo em liberdade.

Como acontece o conclave

Palácio Apostólico (Cidade do Vaticano)
Palácio Apostólico (Cidade do Vaticano) Imagem: Tibor Bognar/Getty Images

Eleição acontece dentro da Capela Sistina, no Vaticano. O voto é secreto e depositado em uma urna. O número de votos do escolhido não é divulgado.

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Cardeais não podem manter qualquer tipo de comunicação com o exterior. É proibido enviar mensagens eletrônicas ou alimentar perfis nas redes sociais, por exemplo.

Conclave começa no mínimo 15 dias depois da morte ou renúncia de um papa e pode ser adiado em 20 dias. Para a eleição, os cardeais passam em cortejo da Capela Paulina até a Sistina. Em seguida, as portas são fechadas, as chaves retiradas. Dentro da capela, o isolamento é assegurado pelo cardeal camerlengo. Fora, pelo prefeito da Casa Pontifícia.

Em tese, todo homem considerado idôneo pode ser eleito papa. Mas, há séculos, somente cardeais são escolhidos.

Participam da votação todos os cardeais com menos de 80 anos. Segundo a CNBB, os religiosos que ultrapassam essa idade-limite não votam, mas podem ser eleitos.

Para ser escolhido, um cardeal precisará de pelo menos dois terços dos votos. Os cardeais não têm direito de se abster nem de votar em si mesmos.

*com informações da AFP e da Ansa

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