Quem foi São Malaquias, que teria profetizado o último papa e o Juízo Final

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São Malaquias, nascido como Máel Máedóc Ua Morgair em 1094, foi uma figura proeminente no movimento de reforma da Igreja na Irlanda no século 12. Arcebispo de Armagh, ele ficou conhecido por uma profecia sobre futuros papas e o fim do mundo.
Quem foi São Malaquias?
Malaquias dedicou sua vida à reforma da Igreja na Irlanda. Desde jovem, ele demonstrava uma profunda vocação religiosa e foi ordenado sacerdote pelo então bispo de Armagh, Cellach.
Ele viveu em uma época em que a Igreja na Irlanda estava fortemente influenciada por estruturas e práticas locais. Por isso, ao longo de sua vida clerical, Malaquias trabalhou para restaurar a ordem e a disciplina eclesiástica. Ele se opôs, por exemplo, à nomeação hereditária de bispos e tentou eliminar o nepotismo e a corrupção, enfrentando resistência de famílias poderosas que controlavam os cargos eclesiásticos.
Malaquias buscava alinhar a Igreja irlandesa com os padrões e liturgias de Roma. Ele introduziu, na região, reformas inspiradas nas práticas continentais, especialmente após uma viagem a Roma em 1139.
Durante essa peregrinação, ele passou por várias comunidades monásticas europeias e conheceu figuras influentes. Uma delas foi São Bernardo de Claraval, com quem estabeleceu uma amizade profunda. Ele, posteriormente, escreveria uma biografia de São Malaquias, contribuindo para a propagação de sua fama.
O santo dialogou muito com monges cistercienses, o que influenciou sua visão de uma Igreja mais organizada, obediente e espiritualmente rigorosa. A Ordem de Cister é uma organização monástica católica romana, com raízes na fundação de Cîteaux, no século 11, na França.
Malaquias foi associado a vários milagres e curas. A tradição atribui a ele a cura de enfermos, previsões proféticas e sinais de santidade, o que reforçou sua reputação como um homem virtuoso.
Malaquias morreu em 2 de novembro de 1148, enquanto estava em Clairvaux, no mosteiro de São Bernardo. A partir de então, sua fama de santidade continuou a crescer. Em 1190, foi canonizado pelo papa Clemente 3º, se tornando o primeiro santo irlandês oficialmente reconhecido pelo Vaticano. Sua festa litúrgica é celebrada no dia 3 de novembro, para não coincidir com o dia de Finados.

O corpo de São Malaquias foi sepultado na Abadia de Clairvaux, próximo ao de São Bernardo, e partes de seus restos foram enviadas à Irlanda em 1194. Fragmentos de seu braço e crânio foram guardados em relicários, destruídos na Revolução Francesa, embora as relíquias tenham sido preservadas. Hoje, sua cabeça está na Catedral de Troyes, e seus ossos foram distribuídos entre paróquias da região.
O santo foi citado no texto "Visio Tnugdali". A obra ("A Visão de Tnugdali", em português) é um texto religioso da Idade Média, escrito em latim por volta de 1149, que descreve a experiência de quase morte de um cavaleiro irlandês chamado Tnugdalus. No texto, Malaquias é visto no paraíso.
Outro foi Malaquias O'Moore, que se tornou arcebispo de Armagh depois dele e deu tudo o que tinha aos pobres. Ele fundou um grande número de igrejas e colégios — nada menos que quarenta e quatro —, dotou-os com terras e rendas, e assim permitiu que muitos homens religiosos servissem a Deus com devoção, embora mal tenha reservado o suficiente para si mesmo viver. Trecho do Visio Tnugdali sobre São Malaquias
A profecia dos papas
A profecia atribuída a São Malaquias descreve o futuro da liderança da Igreja. Segundo a tradição, ele teria recebido uma visão durante sua visita a Roma em 1139, prevendo todos os papas futuros até o fim dos tempos.
A "Profecia dos Papas", como ficou conhecida, consiste em 112 lemas curtos em latim, cada um associado a um papa. A visão se inicia com Celestino 2º, eleito em 1143 e vai até um misterioso Pedro 2º, que seria o último Bispo de Roma.
A profecia foi publicada pela primeira vez em 1595 por Arnold de Wyon, um monge beneditino. O texto gerou fascínio por coincidir, supostamente, com características de diversos papas e, com o passar dos anos, se aproximar do fim - acredita-se que o próximo papa após Francisco seja o último.
A autenticidade da profecia de São Malaquias é contestada. A "descoberta" das previsões do santo em 1590 — mais de 450 anos após sua suposta revelação — é amplamente questionada por estudiosos, por exemplo. Não há qualquer menção a elas antes do século 16, explica Luis Alberto De Boni, doutor em teologia e ex-professor da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).
Arnold de Wyon é o primeiro a falar de 'uma certa profecia'. Por que não contou como chegou até ele tal manuscrito? Por que não informou onde encontrou o texto original ou a cópia que lhe veio às mãos? Luis Alberto De Boni, em artigo sobre o tema
Muitos estudiosos acreditam que a profecia foi criada para influenciar um conclave. O objetivo seria manipular a escolha de um novo papa no século 16, mais precisamente no segundo conclave de 1590, realizado após a morte do papa Urbano 7º.
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