Igreja já teve 3 papas ao mesmo tempo; entenda o 'Grande Cisma do Ocidente'

O Papa Francisco morreu aos 88 anos. O Vaticano agora entra em conclave para escolher seu sucessor. Uma curiosidade da Igreja Católica é que ela já chegou a ter três pontífices ao mesmo tempo: Clemente 7º, Urbano 6º e João 23, de Pisa.

Igreja Católica fragmentada

O conclave nem sempre foi pacífico ou único. Na história real da Igreja Católica, já houve momentos em que mais de um papa ocupou o cargo simultaneamente. O episódio ficou conhecido como o "Grande Cisma do Ocidente". Com isso, três pontífices chegaram a liderar ao mesmo tempo.

Um conflito entre rei e papa marcou o início da crise. Em 1296, o rei Felipe 4º, da França, tentou aumentar os impostos da Igreja, o que levou a um embate com o papa Bonifácio 8º.

A repressão ao papa Bonifácio teve consequências graves. O rei o acusou de heresia e organizou um ataque contra ele; Bonifácio sobreviveu, mas morreu pouco depois.

Com a influência francesa, o papado se mudou para a França. Após a morte de Bonifácio, o rei francês favoreceu a eleição de Bertrand de Got, que se tornou o papa Clemente 5º. Por segurança, o novo pontífice instalou a sede papal em Avignon em 1309, longe da instabilidade de Roma. Assim, a cidade se tornou o centro do cristianismo. Entre os séculos 14 e 15, sete papas se estabeleceram ali.

Avignon foi transformada com o novo status. A cidade cresceu, ganhou muralhas, mosteiros e o imponente Palácio dos Papas, construído sob o papado de Bento 12. Além disso, o episódio estreitou laços com a monarquia francesa e, durante esse período, a Igreja acumulou riqueza com impostos e se aproximou politicamente da França.

 Palácio dos Papas, em Avignon
Palácio dos Papas, em Avignon Imagem: UCG/Getty Images

Roma ficou sem papa por décadas. De 1309 a 1377, os pontífices permaneceram em Avignon, enquanto a sede romana ficou desocupada.

Continua após a publicidade

Os três papas

Tentativa de retorno à Roma desencadeou mais uma crise. O papa Gregório 11, que assumiu o papado em 1370, decidiu voltar à capital italiana, mas sua morte em 1378 desencadeou uma crise sucessória.

A crise levou à divisão da Igreja. Com a morte de Gregório, Bartolomeu Prignano foi eleito como papa Urbano 6º, mas sua eleição foi contestada.

Uma cisão dentro do próprio clero aconteceu. Cardeais franceses alegaram coação no conclave e elegeram um segundo papa: Clemente 7º, em Avignon.

Dois papas passam a disputar a liderança da Igreja. A cristandade se dividiu entre os apoiadores de Urbano 6º, em Roma, e Clemente 7º, na França.

Os sucessores de Urbano (Bonifácio 9º) e Clemente (Bento 13) continuaram a divisão. Um terceiro papa, em Pisa, disputou o protagonismo: Alexandre 5º, posteriormente substituído por João 23 (nascido Baldassare Cossa, considerado antipapa).

Continua após a publicidade

O Grande Cisma do Ocidente se estendeu por 39 anos. Ambos os papas se excomungaram, criando um cenário de rivalidade e confusão religiosa durante quase quatro décadas, com sucessores perpetuando a divisão.

Tentativas de resolver o cisma envolviam reuniões de alto nível. Em 1409, o Concílio de Pisa tentou depor os dois papas e eleger um terceiro, mas acabou gerando ainda mais confusão. Nessa época, foi eleito em Pisa João 23. Chamado de Antipapa", ele foi deposto e aprisionado em 1415.

Concílio de Constança trouxe resoluções definitivas à crise. Entre 1414 e 1418, os três papas foram depostos ou abdicaram, e Martinho 5º foi eleito de forma consensual, encerrando o Grande Cisma. Com isso, a unidade da Igreja foi restaurada, e a importância dos concílios foi reforçada para prevenir futuras crises.

Como funciona o conclave nos dias de hoje?

A eleição acontece dentro da Capela Sistina, no Vaticano. O voto é secreto e depositado em uma urna. O número de votos do escolhido não é divulgado.

Os cardeais são proibidos de qualquer tipo de comunicação com o exterior durante o conclave. Eles não podem enviar mensagens eletrônicas ou alimentar suas contas nas redes sociais, por exemplo.

Continua após a publicidade

No início do conclave, os cardeais fazem um juramento de silêncio. Além dos cardeais, todos os funcionários do serviço que têm acesso a eles também deverão jurar que manterão segredo sobre tudo o que tiver relação com as reuniões, sob pena de excomunhão.

Os cardeais passam em cortejo da Capela Paulina até a Sistina. Em seguida, as portas são fechadas, as chaves retiradas, e o isolamento é assegurado pelo cardeal camerlengo no interior e pelo prefeito da Casa Pontifícia no exterior.

Podem votar todos os cardeais com menos de 80 anos. O número máximo de cardeais eleitores no processo é de 120.

Diversas nacionalidades participam do pleito. Não são apenas cardeais do Vaticano ou da Itália que compõem a eleição. Atualmente, há cardeais eleitores do México, da Índia, da França, da Ucrânia e do Brasil.

Para ser eleito, um cardeal precisará de pelo menos dois terços dos votos. Os cardeais não têm direito de se abster nem de votar em si mesmos.

A tradição diz que o primeiro dia tem apenas uma votação. Na sequência, acontecem duas votações matutinas e duas vespertinas na Capela Sistina. Duas vezes ao dia, uma depois de cada rodada, as cédulas são queimadas.

Continua após a publicidade

Não há um prazo específico para o conclave. Segundo a BBC, uma das maiores eleições da história foi a do Papa Gregório 10º, em 1268. Na ocasião, a escolha do papa durou quase três anos. Na história moderna, os conclaves já não demandam tanto tempo. A eleição do papa Francisco, por exemplo, durou dois dias.

Um repique de sinos de São Pedro se somará ao anúncio do evento, e assim tudo será mais claro para a imprensa e católicos que seguirão o evento. Se depois do terceiro dia nenhum candidato alcançar o mínimo exigido, a Constituição estabelece uma pausa de 24 horas, que será dedicada "à oração, ao colóquio (...) e a uma breve exortação espiritual".

Se ocorrerem outras sete votações inúteis, será feita outra pausa de um dia. O último ato do conclave é a pergunta que três cardeais fazem ao eleito: "Aceita sua eleição como Sumo Pontífice?". Após a resposta afirmativa, segue outra pergunta: "Quo nomine vis vocari?" ("Como quer ser chamado?").

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.