Brasileiros que viram papa Francisco na Páscoa: 'Tom de despedida'

De férias na Itália, a pernambucana Letícia Silveira, 30, e o marido, Ramon Pulchério, 29, estiveram em Roma no fim de semana de Páscoa e participaram da última missa antes da morte do papa Francisco, aos 88 anos.

Papa estava "abatido"

Cristãos e católicos, eles decidiram participar da missa do domingo no Vaticano. A esperança era ver o papa pelo menos na janela da Basílica de São Pedro, onde acontecem as missas, já que imaginavam que Francisco não celebraria por conta de seus problemas de saúde.

"A missa foi incrível, linda. E quando o papa apareceu, as pessoas gritavam em diversos idiomas", conta Letícia. Para eles, o momento já estava sendo muito importante.

O casal descreveu a feição de Francisco: "Ele estava abatido e muito cansadinho". Além disso, também disse que sua voz ao abençoar a todos e desejar uma feliz Páscoa "era falha".

"Ele acenou pra gente"

O casal de brasileiros ainda registrou os momentos em que Francisco andou de papamóvel pela Praça de São Pedro.

Ao chegar perto, ele acenou pra gente bem discretamente com a mão. Eu fiquei muito emocionada e chorei. A gente percebeu que ele estava muito fraquinho. Letícia Silveira

Momento em que o Francisco em seu papamóvel se aproximou de Letícia e Ramon
Momento em que o Francisco em seu papamóvel se aproximou de Letícia e Ramon Imagem: Arquivo pessoal

Entretanto, para os brasileiros, todo aquele tempo exposto demonstrava um bom estado de saúde para alguém que teria ficado 37 dias internado. "Ele não deu nenhum sorriso largo, como de costume, mas mesmo assim pegou alguns bebês e abençoou algumas crianças que chegavam até ele", diz Letícia.

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Aquele não parecia ser um dia em tom de despedida. Muito pelo contrário. O casal acreditou que sua aparição e tudo o que o papa fez era o suficiente para mostrar ao mundo que ele estaria bem.

Mas, no dia seguinte, a ficha caiu: "Olhando para trás, agora conseguimos pensar que o papa estava em tom de despedida".

A mensagem que ele escreveu e que foi lida durante a missa foi muito forte. Foi num tom de 'continue o meu legado'. A gente percebeu no semblante dele que ele já não estava mais com aquela alegria que tinha. Então, talvez já fizesse questão de estar ali, fazendo aquele percurso, justamente para se despedir dos fiéis e até de quem não é católico, quem não é cristão. Da humanidade como um todo, porque ele conseguiu aproximar pessoas independente de religião. A gente só conseguiu entender isso depois. Letícia Silveira

"Acredito que próximo papa vai ser mais conservador"

Ainda de férias pela Itália, o casal conseguiu perceber as nuances dos sentimentos dos fiéis pelo país. Em Roma, sentiram uma apreensão maior, por estar mais próxima da cidade do Vaticano. "Já no interior, como em Florença, mais a norte, a sensação é de gratidão pelo legado que ele deixou", diz Letícia.

O casal se sente esperançoso pelo próximo papa que virá. Em suas conversas com amigos e de acordo com o que ouvem pelas ruas da Itália, acreditam que o próximo pontífice tende a ser menos progressista que Francisco.

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[O Francisco] fugia muito de certos princípios. Ele foi muito inclusivo. Eu particularmente acho que a Igreja vai colocar alguém que seja mais ortodoxo. E dificilmente será um latino de novo, porque é bem raro não ser alguém da Europa. Eu acredito também que não deva ser um papa tão liberal. Não digo nem severo, porque essa não é a palavra, 'conservador' se encaixaria mais. Ramon Pulchério

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