Caixão simples e palavra única: o que Francisco mudou em seu funeral

A morte de um papa é um evento de grande importância para a Igreja Católica e segue um protocolo rigoroso, estabelecido ao longo dos séculos. Desde a confirmação da morte até o sepultamento, cada etapa é marcada por rituais específicos, mas Francisco, através de seu testamento, exigiu mudanças para que o ritual de seu funeral fosse mais simples. O enterro acontece hoje.

Quais as mudanças que Francisco pediu para o seu funeral?

O papa Francisco decidiu que um caixão simples de madeira, revestido de zinco, será suficiente para seu funeral. Em um novo rito formalizado em novembro do ano passado, Francisco renunciou a uma prática de séculos na qual o papa é enterrado em três caixões interligados feitos de cipreste, chumbo e carvalho.

Tradicionalmente, os três caixões são usados para enterrar os papas. O objetivo é criar uma vedação hermética em torno do corpo do pontífice falecido. Eles também permitem que objetos como moedas ou documentos emitidos pelo papa durante seu reinado sejam enterrados com o corpo.

Em seu testamento, divulgado nesta segunda-feira, o pontífice pediu uma única palavra na lápide. "O túmulo deve ser no chão, sem decoração especial e com uma única palavra: Franciscus", diz o documento.

Francisco também decidiu que seu corpo não seja exibido em uma plataforma elevada, na Basílica de São Pedro, como aconteceu com papas anteriores. Os visitantes ainda poderão prestar suas homenagens, mas o corpo ficará dentro do caixão, com a tampa aberta.

Francisco será o primeiro papa enterrado fora do Vaticano em mais de um século. Em vez de ficar com outros 91 papas falecidos na Basílica de São Pedro, ele declarou querer ser enterrado na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, dedicada a Maria, Mãe de Deus.

Sempre confiei a minha vida e o ministério sacerdotal e episcopal à Mãe do Nosso Senhor, Maria Santíssima. Por isso, peço que os meus restos mortais repousem, esperando o dia da ressurreição, na Basílica Papal de Santa Maria Maior, escreveu o papa no testamento.

Santa Maria é a igreja que Francisco tradicionalmente frequenta para rezar antes e depois de cada uma das suas viagens ao exterior. O último papa enterrado fora do Vaticano foi Leão 13, que morreu em 1903 e está na Basílica de São João de Latrão, em Roma.

Preparação do corpo e funeral

Após a confirmação da morte do papa, o corpo é preparado para exposição pública. Ele é vestido com os paramentos litúrgicos próprios, geralmente uma veste branca ou vermelha, e é colocado em um caixão simples de madeira. De acordo com a Constituição Apostólica promulgada em 1996 por João Paulo 2º, um papa deve ser enterrado entre quatro e seis dias após a sua morte.

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O corpo do papa é velado na Basílica de São Pedro por alguns dias, permitindo que fiéis e autoridades se despeçam. Durante esse período, missas e orações são realizadas.

No funeral de João Paulo 2º, por exemplo, a última missa seguiu o básico da tradição do Vaticano. Foi um ato litúrgico simples, falado em partes em 10 línguas, e não houve outros palestrantes ou testemunhos além da homilia.

Estima-se que 2 milhões de pessoas visitaram os restos mortais de João Paulo 2º. Estavam presentes chefes de Estado de mais de 70 países e representantes das principais religiões do mundo. Por trás do caixão, com suas vestes vermelhas, estavam mais de 100 cardeais —um deles era Joseph Ratzinger, que se tornaria o papa Bento 16 em alguns dias.

O funeral de um papa segue um rito solene, tradicionalmente realizado na Praça de São Pedro. A cerimônia é presidida pelo Decano do Colégio dos Cardeais, e é composta pelos seguintes momentos:

No caso de João Paulo 2º, foi Stanislaw Dziwisz, seu secretário pessoal de longa data, que realizou os últimos ritos. Ele cobriu o rosto de João Paulo com um véu branco e aspergiu gotas de água benta. O corpo foi colocado em um caixão de cipreste, marcado com uma cruz e um M da Virgem Maria, e carregado para fora da basílica por 12 carregadores vestidos de preto.

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Após o funeral, a Igreja entra em um período de luto de nove dias, chamado "Novemdiales". Durante esse período são celebradas missas especiais em honra ao papa falecido. Durante esse tempo, o Colégio dos Cardeais se reúne para preparar o conclave, onde será eleito o próximo papa.

O conclave ocorre na Capela Sistina, onde os cardeais votam secretamente até que um novo papa seja escolhido. Quando a eleição é concluída, a tradicional fumaça branca sobe da chaminé da Capela, anunciando ao mundo que um novo líder da Igreja Católica foi eleito.

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