Com apelo por paz, funeral de Francisco reúne políticos e milhares de fiéis

O papa Francisco foi sepultado hoje após uma missa e um cortejo marcados pela presença de autoridades de todo o mundo e milhares de fiéis, sob aplausos e apelos por paz e defesa de imigrantes. A partir de amanhã, a sepultura na basílica Santa Maria Maggiore, em Roma, poderá ser visitada pelo público.

O que aconteceu

Cerimônia fúnebre durou cerca de duas horas e começou pouco depois das 5h (horário de Brasília). A praça de São Pedro, na cidade do Vaticano, ficou lotada de fiéis que se reuniram para prestar as últimas homenagens ao religioso. O Vaticano estimou a presença de 250 mil pessoas. Já o ministro do interior da Itália, Matteo Piantedosi, disse que 400 mil pessoas se reuniram para o adeus ao papa.

Presidida pelo decano do Colégio Cardinalício, Giovanni Battista Re, que era próximo de Francisco, a missa, acabou sendo usada para renovar apelos passados do papa pela paz. Re destacou o papel do pontífice argentino em defesa dos imigrantes. "A guerra é somente morte de pessoas, destruição de casas, de hospitais e escolas. A guerra deixa sempre o mundo pior que antes", disse o cardeal, que foi aplaudido pelos fiéis.

Multidão lota praça de São Pedro, no Vaticano, durante missa funeral do papa Francisco
Multidão lota praça de São Pedro, no Vaticano, durante missa funeral do papa Francisco Imagem: Remo Casilli/Reuters

Frase de Francisco foi relembrada em fala de cardeal. Em 2016, o papa disse que é necessário "construir pontes, não muros" quando Trump, em seu primeiro mandato, anunciou que construiria um muro entre EUA e México.

Re afirmou que o papa trilhou o "caminho da paz" até em seus momentos de dificuldade. "Apesar de sua fragilidade e sofrimento finais, o papa Francisco escolheu trilhar esse caminho de doação até o último dia de sua vida terrena", disse o cardeal. O religioso decano lembrou ainda de uma viagem feita pelo papa aos Emirados Árabes em 2019 em prol da paz e lembrou que Francisco "levantou incessantemente a sua voz" contra a guerra.

Brasileira Bianca Fraccalvieri foi responsável pela leitura em português da Oração Universal, conhecida como Oração dos Fiéis ou Preces, durante a missa. A jornalista é coordenadora das redes sociais do Vaticano e estava à frente de uma equipe de brasileiros dedicados aos detalhes finais do funeral do papa.

Francisco foi o primeiro pontífice das Américas. Ele liderou a Igreja por 12 anos e morreu na última segunda-feira, aos 88 anos. Após três dias de velório, o caixão de madeira com o corpo do papa foi inicialmente levado para a praça de São Pedro, no Vaticano. Para o cardeal Re, a decisão de Jorge Bergoglio de adotar o nome Francisco "manifestou-se logo como a escolha do programa e do estilo em que queria basear o seu pontificado, procurando inspirar-se no espírito de São Francisco de Assis".

Conservou o seu temperamento e a sua forma de orientação pastoral, imprimindo de imediato a marca da sua forte personalidade no governo da Igreja, estabelecendo um contato direto com cada pessoa e com as populações, desejoso de ser próximo a todos, com uma atenção especial às pessoas em dificuldade, gastando-se sem medida, em particular pelos últimos da terra, os marginalizados. Cardeal Giovanni Battista Re em sua homilia

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O presidente dos EUA, Donald Trump, a primeira-dama Melania Trump (à direita), o presidente francês Emmanuel Macron e sua esposa Brigitte Macron (à esquerda) assistem enquanto o caixão do papa Francisco é carregado durante sua missa de funeral na praça de São Pedro, no Vaticano
O presidente dos EUA, Donald Trump, a primeira-dama Melania Trump (à direita), o presidente francês Emmanuel Macron e sua esposa Brigitte Macron (à esquerda) assistem enquanto o caixão do papa Francisco é carregado durante sua missa de funeral na praça de São Pedro, no Vaticano Imagem: Dylan Martinez/Reuters

Chefes de Estado e 'convidados de honra'

Cerca de 50 chefes de Estado e 10 monarcas estiveram presentes. De acordo com o Vaticano, foram 130 delegações estrangeiras. Entre eles, estavam o presidente Lula (PT) e a primeira-dama Janja, os presidentes da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e dos Estados Unidos, Donald Trump, a primeira-dama dos EUA, Melania Trump, o presidente francês, Emmanuel Macron e a esposa Brigitte Macron. Também compareceram o presidente da Argentina, Javier Milei, a ex-presidente Dilma Rousseff, o chanceler federal alemão Olaf Scholz e o secretário-geral da ONU, António Guterres.

Acompanhado da primeira-dama Janja, o presidente Lula afirmou esperar que próximo papa seja igual a Francisco. "Francisco foi o líder religioso mais importante do primeiro quarto desse século. Ele era mais do que um papa, se preocupava com as guerras, a fome e as questões que afligem o povo no mundo inteiro. Quisera Deus que o próximo papa seja igual a ele, com os mesmos compromissos religiosos e de combate à desigualdade", afirmou o brasileiro.

Trump e Zelensky apareceram juntos em foto de "reunião histórica" na basílica de São Pedro durante o funeral. Nas redes sociais, Zelensky afirmou que reunião com Trump no Vaticano "tem potencial para se tornar histórica". "Boa reunião. Discutimos muito, um a um. Esperando resultados em tudo o que abordamos. Proteger a vida de nosso povo. Cessar-fogo total e incondicional", escreveu. No momento, Trump pressiona o ucraniano a reconhecer o controle russo da Crimeia. Esse também foi o primeiro encontro entre os dois desde a tensa reunião na Casa Branca em fevereiro.

Vaticano decidiu que 40 pessoas seriam os "convidados de honra de Francisco". O grupo representou os mais vulnerabilizados da sociedade e tiveram lugar de destaque na cerimônia de adeus. O gesto foi visto como um recado aos líderes mais poderosos do mundo como um ato de coerência do pontificado. Entre os escolhidos, estavam refugiados de diversas regiões, sem-tetos e crianças

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Papamóvel leva o caixão com o corpo de Francisco em cortejo até Santa Maria Maggiore
Papamóvel leva o caixão com o corpo de Francisco em cortejo até Santa Maria Maggiore Imagem: Kevin Coombs - 26.abr.25/Reuters

Cortejo e sepultamento

Telões foram instalados na praça de São Pedro para facilitar o acompanhamento do público. Concelebrantes utilizaram vestes litúrgicas vermelhas, cuja cor simboliza o sangue dos mártires e o Espírito Santo.

Papamóvel com estrutura transparente deixou a praça de São Pedro, no Vaticano, e seguiu em direção a basílica Santa Maria Maggiore, em Roma. O cortejo durou cerca de 30 minutos, e o veículo transitou por diversos pontos simbólicos da cidade, como o Coliseu.

O caixão de Francisco foi recebido nos degraus da basílica de Santa Maria Maggiore por um grupo de 40 pessoas formado, segundo a Igreja, por "pessoas pobres e marginalizadas", que seguravam rosas brancas.

O sepultamento do papa Francisco ocorreu às 13h30 no horário local (8h30 em Brasília) numa cerimônia fechada. Ela foi presidida pelo cardeal camerlengo Kevin Farrell e teve a presença de familiares do argentino. A duração do encontro foi de 30 minutos, segundo o Vaticano.

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Este foi o primeiro sepultamento de um pontífice fora do Vaticano desde Leão 13 em 1903. Sepultura está localizada entre a capela Paulina (capela da Salus Populi Romani) e a capela Sforza, próxima ao Altar de São Francisco.

Francisco pediu que a sepultura fosse "no chão, sem decoração especial". Feita de mármore da Ligúria, o túmulo tem apenas a inscrição "Franciscus", a versão latina do nome que ele escolheu, e a reprodução de sua cruz peitoral, como pedido pelo argentino em seu testamento.

Sepultamento do caixão do papa Francisco na basílica de Santa Maria Maggiore
Sepultamento do caixão do papa Francisco na basílica de Santa Maria Maggiore Imagem: Vatican Media/AFP

Período de luto e conclave

Começou hoje um período de nove dias de luto conhecido como Novendiales. Nesta fase haverá missas e homenagens na basílica de São Pedro até 4 de maio para homenagear o pontífice.

Amanhã, uma missa será realizada às 10h30 [horário local] na praça de São Pedro. A cerimônia será presidida pelo cardeal Pietro Parolin, e o grupo de presentes terá funcionários e fiéis do Vaticano.

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Visitação ao túmulo pelo público começa amanhã às 7h [horário local]. No domingo à tarde, todos os cardeais também irão à basílica para visitar o túmulo de Francisco. Eles também irão à capela do ícone da Salus (obra que representa a Madona com o Menino) e celebrarão, juntos, as vésperas, e às 18h retornarão ao Vaticano.

Conclave deve ser convocado após o dia 4 de maio. Decorrido o prazo de nove dias, o conclave dos cardeais eleitores pode ser convocado para escolher um sucessor, num prazo que não poderá exceder os 20 dias a contar da morte do papa. Dessa forma, o provável é que o processo de escolha do sucessor comece entre 5 e 10 de maio.

Decisão a portas fechadas. A palavra conclave vem da junção dos vocábulos em latim "cum" (com) e "clavis" (chave), ou seja, uma sala fechada à chave.

Cardeais ficam proibidos de ter contato com o mundo externo. Cardeais do mundo todo se reunirão em uma assembleia secreta na capela Sistina, no Vaticano, sob regras rígidas que começaram a ser desenvolvidas no século 13. O seleto grupo de eleitores fará um juramento em que promete manter segredo sobre a votação e ficará proibido de ter contato com o mundo externo.

É difícil prever a duração da eleição. O caráter reservado da reunião dificulta uma previsão sobre a duração do pleito, mas a escolha de Jorge Bergoglio para o papado, em 2013, aconteceu pouco mais de 24 horas do início dos rituais. No conclave mais longo da história recente, em 1922, a decisão final demorou 5 dias.

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Imagem: Arte/UOL

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