Último gesto de humildade: rosa branca na sepultura do papa emociona fiéis
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Hoje é o segundo dos nove dias de luto pela morte do papa Francisco. Eram 7h quando a fila diante da Basílica de Santa Maria Maggiore já serpenteava pela praça, silenciosa e densa de emoção. Todos ali tinham um mesmo desejo: ver de perto a última morada de Francisco.
A sepultura, situada no meio do corredor da Porta Santa, à esquerda da basílica, é simples: apenas o nome "Franciscvs" gravado e uma única rosa branca repousando sobre a pedra fria. Nenhum mosaico, nenhum quadro de Caravaggio para ser iluminado com moedas. Só um nome e a cor da paz, como ele próprio foi em vida.
Antes de acolher o corpo do papa, o espaço era ocupado apenas por um candelabro. Agora, transformado na última estação de sua trajetória, reflete o gesto final de humildade de Francisco: grandeza sem ostentação.

Pedro Pimenta, juiz federal de Belo Horizonte, foi um dos que vieram prestar homenagem. Estava em Roma desde os últimos dias de vida do pontífice e, na última sexta-feira, rezou na Capela Sistina.
Pedi a Deus que iluminasse os cardeais para escolherem um papa como Francisco: misericordioso, bondoso, próximo dos pobres, dos miseráveis, dos excluídos.
Pedro Pimenta, juiz

Diante da tumba, Pedro se emocionou. "A simplicidade de Francisco é um ensinamento sobre como estar junto de Deus. Não é o luxo que nos aproxima Dele, mas a humildade e o serviço." O juiz federal ainda expressou um desejo: "Que o próximo papa continue esse caminho, especialmente no reconhecimento das mulheres. Maria Madalena já morreu há mais de 2.000 anos, e mesmo assim a igualdade dentro da Igreja ainda é um desafio".
Lia Pimenta, de 48 anos, viajou de Alcobaça, Portugal, com um grupo de peregrinos para acompanhar cada cerimônia desses dias de despedida. "Estamos aqui desde quinta-feira. Fizemos questão de viver cada momento e hoje, antes de voltarmos para Portugal, viemos cedo ver o papa na sua última morada."

Ao chegar diante da sepultura, Lia mal encontrou palavras para descrever o que sentiu.Para ela, Francisco deixa mais do que lembranças: "Ele nos ensinou, até na morte, a importância da simplicidade e do amor. Essa tumba sem pompa é um convite para sermos um pouco de Francisco todos os dias, no amor que damos aos outros - e também a nós mesmos".
É uma gratidão imensa, uma paz interior, um carinho, um amor que não se explicam, só se sentem.
Lia Pimenta
Do coração da periferia ao centro da Igreja

Para o padre Jaime Carlos Patias, de 61 anos, do Instituto Missões Consolata, Francisco foi, até o fim, fiel ao nome e ao projeto que escolheu. "Ele deixou o espaço livre no Vaticano para o próximo papa. Mais do que um príncipe, foi um servo, um pastor. Sempre coerente: escolheu Francisco como nome e como vida."
A escolha de Santa Maria Maggiore, longe dos palácios vaticanos, carrega um símbolo claro: trazer a periferia para o centro da Igreja. "Francisco terminou sua vida como viveu: no meio do povo, saudando a multidão no domingo de Páscoa. Ele pôs os pobres, a ecologia, os migrantes e a inclusão no centro da Igreja, inclusive a inclusão das mulheres e das pessoas LGBT", lembra Patias.
Ainda comovido, o padre recorda o último encontro com Francisco, no dia 27 de janeiro. "Apertei sua mão e pedi uma bênção no meu aniversário. Ele me deu um terço que carrego até hoje. Durante seus dias finais no hospital, eu rezava segurando esse terço. Francisco nos ensinou que a misericórdia é para todos. Agora, como disse o cardeal Ré, se antes ele pedia nossas orações, hoje somos nós que pedimos: Francisco, reza por nós."
Uma mensagem que atravessou as fronteiras da fé

Entre os que enfrentaram a fila estava também Alessandra Pinna, de 50 anos, vinda de Cagliari, na Sardenha. Ela não é uma católica praticante, mas sentiu que precisava se despedir. "Ele era o principal pacifista do nosso tempo. Perdemos essa referência justo agora, no meio de duas guerras terríveis."
Apesar de sua distância da Igreja, Alessandra se emocionou profundamente durante o funeral. "Percebi o quanto ele foi importante, não só como líder religioso, mas como uma figura que falava ao mundo inteiro."
Francisco, lembra ela, construiu pontes também para quem não se reconhecia nas instituições religiosas. "Ele dizia que era melhor ser um não crente do que frequentar a igreja e odiar o próximo. Com isso, dava dignidade a todos nós que, às vezes, nos sentimos à margem." Para Alessandra, Francisco trouxe o sagrado para perto de todos: "Ele foi o papa até dos que não sabem direito se acreditam ou não."
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