Quem era Virginia Giuffre, que acusou príncipe Andrew de abuso sexual

Virginia Giuffre, 41, que acusou publicamente o príncipe Andrew da Inglaterra e o magnata Jeffrey Epstein de abuso sexual, morreu na última quinta-feira. Nos últimos anos, Virginia enfrentou nomes importantes perante a Justiça e se firmou como uma das principais vozes contra um esquema bilionário que forçava menores de idade a se prostituírem.

Quem era Virginia

Virginia Giuffre nasceu em 1983 na Califórnia (EUA). Em entrevista à rede britânica BBC, ela contou que, aos 7 anos, foi abusada sexualmente por um amigo da família e decidiu fugir de casa. Durante a infância, ela viveu em lares adotivos nos Estados Unidos e, aos 14, vivia na rua.

Em 2000, morando na Flórida, recebeu um convite que mudou sua vida. Enquanto trabalhava em um resort de Mar-a-Lago, de Donald Trump, ela foi convidada por Ghislaine Maxwell para ser massoterapeuta. Mais tarde, Ghislaine se tornaria uma das principais acusadas no processo judicial movido por Virginia.

Atualmente, Virginia morava em Perth, cidade na Austrália, com o marido Robert Giuffre. O casal se conheceu em 2003, na Tailândia. Segundo a BBC, a ida de Virginia ao país foi custeada por Epstein e teria como objetivo encontrar uma jovem tailandesa para ser enviada a ele nos EUA. No entanto, Virginia conheceu Robert e fugiu para a Austrália, onde obteve a cidadania local.

O relacionamento atual de Virginia era marcado de especulações e polêmicas. Em postagem em seu perfil no Instagram em agosto de 2020, Virginia aparece com muitos hematomas no pescoço e nos olhos, o que acendeu o alerta por parte dos internautas de que ela pudesse ter sido vítima de violência doméstica. Segundo a rede britânica BBC, o casal havia se separado após 22 anos de casamento, em um divórcio que teria afastado Virginia dos filhos do casal.

No fim de março deste ano, Virginia publicou uma foto no Instagram em que aparecia com muitos hematomas. Ela relatou o acidente em que um ônibus escolar, que supostamente estava a 110 quilômetros por hora, atingiu o veículo em que ela estava. "Entrei em insuficiência renal, [os médicos] me deram quatro dias de vida, transferindo-me para um hospital especializado em urologia", explicou. "Estou pronta para ir, só não antes de ver meus bebês pela última vez."

Dias antes do acidente, Virginia havia publicado fotos com os filhos. Segundo ela, os jovens estavam sendo "envenenados com mentiras". "Meu coração está despedaçado e a cada dia que passa minha tristeza só aumenta", escreveu.

Príncipe Andrew, a vítima, Virginia Roberts Giuffre, e Ghislaine Maxwell, que seria cúmplice de Jeffrey Epstein
Príncipe Andrew, a vítima, Virginia Roberts Giuffre, e Ghislaine Maxwell, que seria cúmplice de Jeffrey Epstein Imagem: Divulgação/Netflix

A importância de Virginia no processo contra Andrew e Epstein

Virginia acusou o príncipe Andrew e o bilionário Jeffrey Epstein de agressão sexual. Segundo seus relatos, ela era menor de idade quando foi explorada por uma rede de tráfico sexual comandada por Epstein. Ela denunciou ter sido "passada como uma bandeja de frutas" no início dos anos 2000 para homens ricos e poderosos, incluindo o príncipe Andrew.

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Em sua denúncia, Virginia afirmou que Epstein a forçou a fazer sexo com o príncipe em pelo menos três ocasiões. À época, ela tinha 17 anos, e ele, 41. A jovem teria recebido em troca 15 mil dólares (pouco mais de R$ 85 mil, conforme cotação atual).

Jeffrey Epstein foi preso em 2019 por exploração sexual de menores e associação criminosa. Os crimes poderiam somar até 45 anos de prisão. Epstein era acusado de levar menores de idade para suas residências em Manhattan e Palm Beach, na Flórida, "para se envolver em atos sexuais com ele, depois do que ele lhes dava centenas de dólares em dinheiro".

Em agosto de 2019, Epstein foi encontrado morto em sua cela. O processo contra ele foi encerrado.

As acusações de Virginia Giuffre provocaram a queda do príncipe Andrew, que se afastou da vida pública. O Palácio de Buckingham destituiu Andrew de seus deveres militares e de seu título real. Posteriormente, ele reconheceu que Epstein "traficou inúmeras meninas durante muitos anos".

Em 2022, Virginia firmou um acordo de mais de R$ 91 milhões de dólares com o príncipe, em decisão que deu fim ao processo judicial. Em abril de 2024, o príncipe Andrew concedeu uma entrevista à BBC, que teve uma repercussão considerada "catastrófica".

O depoimento de Virginia foi fundamental também na investigação que levou à sentença de 20 anos de prisão contra Ghislaine Maxwell. Filha do magnata da mídia britânica Robert Maxwell, a ex-socialite era braço direito e então namorada de Epstein. Ghislaine foi considerada culpada em cinco acusações relacionadas a tráfico sexual de menores de idade. "Quero deixar uma coisa bem clara. Jeffrey Epstein é um pedófilo terrível, sem dúvida, mas eu nunca o teria conhecido se não fosse por você", escreveu Virginia em comunicado no dia da condenação de Ghislaine, em 2021.

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Ela [Virginia] foi coagida por ameaças expressas ou implícitas, por Epstein, Ghislaine e/ou pelo príncipe Andrew, a ter relações sexuais com o príncipe Andrew, e temia a morte ou lesões físicas, para ela mesma ou para outra pessoa, e outras repercussões por desobedecer Epstein, Ghislaine ou o príncipe Andrew por suas conexões poderosas, riqueza e autoridade Trecho da denúncia apresentada pela defesa de Virginia

Procure ajuda

Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada, disponível em centros como o CVV (www.cvv.org.br) e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) via ligação gratuita pelo telefone 188, além de oferecer atendimento por e-mail, chat e pessoalmente.

*Com informações da DW, RFI e AFP

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