Como era a temida prisão de Alcatraz, que Trump quer reabrir após 62 anos

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O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que quer reabrir a lendária prisão de Alcatraz, na Califórnia, que teve entre seus detentos mais ilustres o gângster Al Capone.
Como surgiu Alcatraz?
Alcatraz é, na verdade, uma ilha na costa oeste dos EUA. Ela foi explorada inicialmente em 1775 pelo tenente espanhol Juan Manuel de Ayala, que a apelidou de "Isla de los Alcatraces" (ou "Ilha dos Pelicanos") devido à sua fauna. Ela foi vendida aos americanos em 1849, que anglicizaram a grafia do seu nome.
Minúscula, com apenas 2 km de costa, ela foi considerada o local ideal para a construção de faróis e fortes militares para a vigilância da Califórnia. Apenas cinco anos depois da venda, em 1854, ela ganhou o primeiro farol e, em seguida à construção de prédios, recebeu os primeiros destacamentos militares, segundo a Encyclopaedia Britannica.

Em 1861, Alcatraz se tornou uma residência também para quem tinha cometido crimes militares. Ela recebeu no século 19 indígenas hopi do Arizona que haviam resistido às tentativas do governo de aculturá-los e transformá-los em soldados. Durante a Primeira Guerra, ela abrigou o anarquista Philip Grosser, que se opunha à entrada no conflito e ao serviço militar. Ele escreveu o livro "Uncle Sam's Devil Island" (ou a "Ilha do Diabo do Tio Sam", em tradução livre) sobre suas experiências em Alcatraz.
Durante a Guerra Hispano-Americana, de 1898, seu número de prisioneiros passou de dezenas às centenas. Prisioneiros feitos durante o conflito entre Espanha e EUA devido à interferência norte-americana na independência cubana eram enviados para a ilha californiana.

Quase um século depois de sua compra, em 1934, Alcatraz deixou de ser prisão militar para se tornar penitenciária federal. Iniciava-se sua "era de ouro" no imaginário americano. Até 1963, ela abrigou os presos mais notórios dos EUA, como George "Machine Gun" Kelly, gângster do Tennessee que sequestrou o magnata do petróleo Charles F. Urschel em 1933, e o assassino Robert Stroud, que se tornou ornitólogo na prisão e ficou conhecido como o "Homem-Pássaro de Alcatraz".

O mais famoso deles, no entanto, é Al Capone. O chefe do crime organizado de Chicago, que controlava apostas, prostituição e o contrabando de bebida alcoólica durante a Lei Seca, também ficou famoso por ordenar o Massacre do Dia de São Valentim e, anos mais tarde, por ter servido de inspiração ao filme Scarface. Curiosamente, ele foi um dos seus primeiros detentos —por evasão fiscal.

Prisão foi fechada em 1963 por ordem do então procurador-geral dos EUA, Robert F. Kennedy. O pai do atual Secretário de Saúde dos EUA considerou que Alcatraz era um desperdício de dinheiro público, já que ela custava mais do que outras prisões, abrigava menor número de presos e era vulnerável a fugas. "É tão mais caro alimentar os detentos lá do que em qualquer outra penitenciária federal", teria dito Kennedy à época, segundo o jornal San Francisco Chronicle.
Fuga de presos de Alcatraz em 1962 tornou os problemas da prisão evidentes. Os irmãos John e Clarence Anglin, ao lado de outro preso, Frank Morris, foram os únicos três presos dos 36 que tentaram fugir que teriam escapado com vida e nunca mais foram vistos. Um documentário apontou que eles podem ter se escondido no Brasil.

Episódio ajudou a solidificar a prisão na cultura pop. Alcatraz e os esforços de seus presos inspiraram os filmes "Sem Medo da Morte" (1976) e "Alcatraz: Fuga Impossível" (1979), ambos com Clint Eastwood. A penitenciária também se tornou "musa" de diversos videogames, discos, episódios de animações como "Os Simpsons" e "Scooby-Doo", livros e muitos filmes e séries —uma das mais recentes, a homônima "Alcatraz" (Fox, 2012).
As homenagens vão das mais óbvias recriações históricas a lúdicas interpretações. Por exemplo, a prisão de Azkaban da saga "Harry Potter" teria sido parcialmente inspirada em Alcatraz, segundo sua autora J.K. Rowling revelou em 2019. Na imaginação do público, seu nome seguiu sinônimo de isolamento —e de uma série de mistérios, devido às tentativas sangrentas de fugas na década de 1940.

Desde 1972, ela se tornou parte da área de reserva natural de Golden Gate e se tornou um marco histórico em 1986. Por isso, é possível fazer passeios guiados para visitar a ilha e a prisão, chegando até lá com uma balsa. Há quem escolha realizar piqueniques e até casamentos diante da paisagem macabra. Mais informações estão disponíveis no site do Serviço Nacional de Parques dos EUA.

Como era Alcatraz por dentro?
A penitenciária utilizava estruturas que pertenceram ao forte militar de Alcatraz. Somado a este fator o isolamento da ilha, muitos acreditavam que ela seria "inescapável". As águas ao redor da prisão tinham fortes correntes e eram infestadas de grandes tubarões brancos.

Com três andares no prédio principal, ela possuía quatro blocos de celas —de A a D. Além disso, havia um escritório do diretor da prisão, uma sala de visitas, biblioteca, barbearia, refeitório, cozinha e hospital. Cada cela tinha, tipicamente, 2,7 m por 1,5 m, além de 2,1 m de altura, com uma cama, mesa, lavatório, vaso sanitário e cobertor. Ou seja, o espaço era apertado e privacidade era inexistente.

Presos negros ficavam segregados dos brancos. Oficialmente, o motivo era para evitar violência entre detentos, já que havia muito preconceito. Os presos mais perigosos eram enviados, segundo o Serviço Nacional de Parques, para o bloco D. As seis celas no final dele eram tidas como "o buraco" —e neste confinamento solitários eram colocados os presos com problemas de comportamento.

Corredores da prisão eram batizados em homenagem a avenidas famosas nos EUA, como a Broadway, de Nova York e a Michigan, de Chicago. Segundo o Federal Bureau of Prisons, órgão federal que administra as penitenciárias americanas, Alcatraz tinha capacidade para até 336 detentos, mas nunca chegou à ocupação máxima. Ela abrigava, em média, 260 a 275 homens por vez.

Temida, ela tinha supostas "boas condições" para os prisioneiros. Por exemplo, por lá, era possível ter o "luxo" de apenas um prisioneiro por cela, o que não ocorria em outras prisões federais. Mas há relatos de tratamentos brutais e o próprio governo americano reconhece que lá era o destino de presos considerados difíceis em outras penitenciárias, que partiam para Alcatraz para serem disciplinados por uma rotina morosa e rígida.

Para conseguir trabalhar, pintar, ouvir música ou até mandar cartas, os prisioneiros precisavam manter bom comportamento. Aqueles que não eram mais considerados uma ameaça, geralmente após cinco anos, estavam prontos para serem transferidos para outra penitenciária.
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