'Guerra da água': entenda o conflito entre Índia e Paquistão pela Caxemira

Entre a noite de ontem e a manhã de hoje, a tensão entre Índia e Paquistão eclodiu em ataques mútuos entre as duas potências nucleares. Nova Déli lançou ofensivas ao país vizinho, que retaliou com fogo de artilharia na região fronteiriça da Caxemira e abateu cinco caças indianos. Os bombardeios mataram pelo menos 26 pessoas no lado paquistanês e 12 no lado indiano.

Um ponto-chave do conflito entre as duas nações é a região da Caxemira, que é de maioria muçulmana e dividida entre a Índia e o Paquistão. Ela é foco de disputa entre os países desde que se tornaram independentes do Reino Unido, em 1947.

Entenda a "guerra da água"

Índia vem retaliando e ameaçando o Paquistão com "cortes de água'. Os rios que abastecem o Paquistão nascem na Índia. "A água que pertence à Índia e que até agora fluía para fora será retida para servir aos nossos interesses e será utilizada dentro do país", declarou o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, em um discurso público.

Paquistão advertiu que qualquer tentativa de modificar o fluxo desses rios será considerada "um ato de guerra". Um tratado assinado em 1960 estabelecia que ambos os países compartilhassem o controle da bacia de seis rios da Caxemira, que se unem mais adiante formando o rio Indo, no território paquistanês.

Rivais desde a independência, em 1947, as tensões entre Índia e Paquistão vêm se escalando desde um atentado em 22 de abril. Homens armados mataram 26 turistas na Caxemira indiana. Nova Déli acusou Islamabad de estar por trás da ação, o que o país islâmico nega. O atentado não foi reivindicado até hoje.

Ataques aéreos na Caxemira

Durante a noite de ontem, ataques aéreos indianos atingiram várias cidades na Caxemira administrada pelo Paquistão. Também foram alvos os territórios de Muridke, Sialkot, Shakargarh e Bahawalpur, na província do Punjab. Foram destruídos mesquitas, casas e um posto de saúde. Trocas de fogo de artilharia pesada também ocorrem ao longo da fronteira, desencadeando imediatamente propostas de mediação por parte de Pequim e Londres.

Houve uma grande explosão. Era noite. Houve tantas explosões que imediatamente corremos para o telhado. Vimos uma luz laranja que rapidamente se tornou vermelha diante dos nossos olhos. Cerca de cinco segundos depois, ouvimos outra explosão e as pessoas começaram a sair correndo das suas casas. Depois do que aconteceu ontem à noite e da situação atual, todo mundo está assustado. Ao mesmo tempo, estamos prontos para enfrentar qualquer situação Ghulam Mohayyudin Bukhari, morador de Bahawalpur, no Punjab, à RFI

O mundo pediu "moderação" à Índia e ao Paquistão. A ONU advertiu que "o mundo não pode permitir um confronto militar entre Índia e Paquistão". O governo britânico disse estar "pronto" para intervir a fim de "acalmar" a situação entre a Índia e o Paquistão. Já a Turquia fez um alerta sobre o "risco de uma guerra total" entre Índia e Paquistão e condenou a "iniciativa provocadora" de Nova Délhi ao atacar o país vizinho.

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Linha do tempo

Desde 1947, Índia e Paquistão se enfrentaram em várias guerras. Em 15 de agosto de 1947, o vice-rei da Índia, Louis Mountbatten, anunciou o fim de dois séculos de dominação britânica e dividiu a ex-colônia em dois Estados.

Assim surgiram a Índia, de maioria hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana. Com a independência, quase 15 milhões de pessoas se deslocaram: os muçulmanos para o território paquistanês e hindus e sikhs para o território indiano.

A primeira guerra pelo controle da Caxemira, que foi anexada à Índia, ocorreu ainda no final de 1947. Em 1º de janeiro de 1949, foi firmado um cessar-fogo ao longo de uma "linha de controle" de 770 quilômetros que dividiu a Caxemira em duas partes: 37% sob administração paquistanesa (Azad-Kashmir) e 63% sob controle indiano (Estado de Jammu e Caxemira).

Entre agosto e setembro de 1965, o conflito foi retomado devido à invasão de mil separatistas apoiados pelo Paquistão na Caxemira indiana. Essa segunda guerra, que deixou milhares de mortos de ambos os lados, terminou graças à mediação da União Soviética.

No início de 1971, o Paquistão enviou tropas para a parte leste de seu território, Bengala Oriental, para controlar um movimento separatista. O conflito, com a intervenção do exército indiano, terminou nove meses depois com a independência do território, região atual de Bangladesh.

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No final de 1989, insurgentes que exigiam a independência ou a anexação da Caxemira indiana ao Paquistão iniciaram uma luta armada contra o exército indiano. Desde então, a Índia acusou o Paquistão de financiar e treinar os insurgentes, que continuaram lutando contra cerca de 500.000 soldados indianos posicionados na região. Até o momento, eles causaram dezenas de milhares de mortes, entre militares, rebeldes e civis.

Em 1999, a Índia acusou o Paquistão de infiltrar combatentes islamistas e soldados paquistaneses na Caxemira indiana para assumir o controle do glaciar de Siachen, a mais de 5.000 metros acima do nível do mar. Os combates deixaram mais de mil mortos, sobretudo na região de Cargil.

Em 1º de outubro de 2001, um ataque do lado de fora da Assembleia Regional da Caxemira indiana, em Srinagar, matou 38 pessoas. A Índia culpou o Paquistão. Em 2002, os dois rivais pareceram estar à beira de uma quarta guerra, mas, em abril de 2003, retomaram as relações diplomáticas e alcançaram um cessar-fogo, embora as ações de guerrilha tenham continuado.

Em 2008, vários ataques jihadistas deixaram 166 mortos em Mumbai. A Índia culpou o Paquistão e interrompeu o processo de paz iniciado quatro anos antes. O diálogo foi retomado em 2011 e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, visitou o Paquistão em dezembro de 2015.

Em 2019, a Índia bombardeou o território paquistanês após um ataque que matou 40 de seus paramilitares em Pulwama (Caxemira indiana). O Paquistão retaliou e derrubou um avião indiano. O governo hindu ultranacionalista de Nova Délhi revogou o status semiautônomo da região em agosto, onde milhares de opositores foram presos.

(Com informações de AFP e RFI)

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