Um foi antipapa, outro defendeu trabalhador: o que fizeram os papas Leão?

O americano Robert Francis Prevost foi eleito o novo papa e escolheu o nome de Leão 14 para liderar a Igreja Católica. O que os outros papas que se chamaram Leão fizeram?

Quem foi o primeiro Leão?

O papa Leão 1º usou o seu nome de batismo. Também conhecido hoje como "São Leão o Grande", ele é um dos dois papas tidos como doutores da Igreja justamente por sua atuação extensa como teólogo. Ele deixou mais de 100 sermões e cartas —é o mais antigo papa cujos sermões são conhecidos— que falam da importância de comunhão entre as igrejas, de clemência e caridade, segundo o Vaticano.

O aristocrata romano Leão ocupou o trono de Pedro na Antiguidade, entre os anos 440 e 461. Ele foi obrigado a negociar a paz e a sobrevivência da Igreja e de seus fiéis em tempos de guerra. Em 452, a península da Itália foi invadida por Átila, rei dos hunos, mas o papa o convenceu a retirar suas tropas.

Três anos depois, Leão não conseguiu convencer outro invasor, o rei vândalo Genseric, a poupar Roma. No entanto, ele conseguiu negociar a preservação da Arquibasílica de São João Latrão e das Basílicas e São Pedro e Paulo durante a captura da cidade. Milhares de inocentes teriam sido salvos porque conseguiram se refugiar nos prédios cristãos.

Rigor teológico e caridade eram dois pilares fundamentais do papado de Leão. Com as populações da época aflitas por invasões, conflitos, fomes e superstições pagãs, ele teria se dedicado a amenizar estes sofrimentos, mas também a "reafirmar a verdade", segundo o Vaticano. Alinhado em ideias a santo Agostinho, promoveu o Concílio Ecumênico de Calcedônia (hoje na Turquia), onde a Igreja reconheceu que duas naturezas —a humana e a divina— estavam unidas em Jesus. Os patriarcas da Igreja, por isso, teriam afirmado no encontro que "Pedro falou através de Leão".

Leão 1º foi o primeiro papa a ser enterrado na Basílica de São Pedro. Suas relíquias estão preservadas lá até hoje, em uma capela dedicada à Nossa Senhora da Coluna.

Quais foram outros papas Leão importantes?

Leão 3º, cujo nome de batismo é desconhecido, ficou famoso por se dobrar a Carlos Magno e o coroar imperador dos romanos. Ele teria tomado a medida em benefício próprio, já que Carlos Magno o teria protegido de um ataque de apoiadores do papa anterior, Adriano 1º, que pretendiam cegá-lo e arrancar sua língua. Papa de 795 a 816, ele alinhou o pontificado a um império oriental, em oposição aos bizantinos, e abandonou a neutralidade anterior da Sé, segundo a Encyclopaedia Britannica.

Já Leão 8º foi papa e antipapa, segundo a Igreja. Ele clamou para si a Santa Sé entre 963 e 964 se opondo aos papas de direito, João 12 e Bento 5º, pelo qual chegou a ser excomungado. Depois, ele foi "oficializado" como pontífice de junho de 964 a março de 965, quando morreu. Escolhido por Otto 1º, primeiro imperador do Sacro Império Romano-Germânico, ele fez parte de um período de trocas de papas e intrigas políticas conhecido como "Saeculum Obscurum" ou Idade das Trevas.

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Papa Leão 13, conhecido pela defesa dos trabalhadores
Papa Leão 13, conhecido pela defesa dos trabalhadores Imagem: Domínio Público

Leão 9º, por sua vez, foi um dos papas mais importantes da Idade Média. Nascido Bruno of Eguisheim-Dagsburgle na Alsácia, ele esteve no trono de Pedro de 1049 a 1054, período em que promoveu reformas e a "moralidade tradicional" na Igreja. Ele acabou com o concubinato (a permissão para que membros do clero se casassem), as compras e vendas de espaços eclesiásticos e a investidura de leigos em cargos eclesiásticos. Além disso, as diferentes visões a respeito da Eucaristia e a insistência de Leão de que o papa é que era o líder universal da Igreja complicaram suas relações com o Patriarca de Constantinopla, o que resultou no Grande Cisma de 1054 —a separação das Igrejas Católica e Ortodoxa.

Leão 10º, nascido como o aristocrata Giovanni di Lorenzo de Medici, comandou a Santa Sé entre 1513 e 1521 e ficou famoso por conferir indulgências —perdões dos pecados— a quem doasse para a reconstrução da Basílica de São Pedro. A prática gerou críticas na obra "95 Teses", de Martinho Lutero, que culminou com a Reforma Protestante.

Leão 13, antes Vincenzo Gioacchino Pecci, foi papa de 1878 a 1903. Sua reputação foi oposta a de seus mais célebres antecessores e se parecia mais com a do primeiro Leão. Ele ficou conhecido como o "Papa dos Trabalhadores", famoso pelo intelectualismo e por definir a doutrina social moderna da Igreja, defendendo na encíclica Rerum Novarum os direitos a salários justos, a condições seguras de trabalho, formação de associações e sindicatos, direitos à propriedade e livre iniciativa —opondo-se, ao mesmo tempo, ao socialismo e ao capitalismo liberal.

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