Leão 14, o novo papa, é agostiniano: o que isso significa?
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A comunidade agostiniana, da qual Leão 14, o novo papa, faz parte, é um dos ramos mais antigos da Igreja Católica. Inspirada na vida e nos escritos de santo Agostinho, ela une espiritualidade profunda com compromisso intelectual e social.
Quem são os agostinianos?
A comunidade agostiniana tem origem nos primeiros séculos do cristianismo. Ela surgiu a partir do exemplo de vida e dos escritos de santo Agostinho de Hipona, no século 4º, no norte da África. Após sua conversão, Agostinho fundou uma pequena comunidade monástica com amigos e discípulos, baseada na vida comum, na oração e no estudo.
Séculos depois, em 1244, o papa Inocêncio 4º unificou diversos grupos eremitas sob a Regra de Santo Agostinho. Nesse momento, surge a Ordem de Santo Agostinho, como ela é conhecida hoje. Esse momento marcou a institucionalização oficial da espiritualidade agostiniana na Igreja.
A vida em comunidade é central. Os agostinianos acreditam que viver em comunidade é essencial para seguir o Evangelho. Eles compartilham não apenas bens materiais, mas também a fé, os estudos e a oração. Essa convivência é vista como um caminho concreto para Deus.
A busca por Deus é interior. Para os agostinianos, Deus habita no interior de cada ser humano. A oração, a meditação e o autoconhecimento são meios para encontrar essa presença divina. O lema "Conhece-te, aceita-te, supera-te" expressa essa jornada espiritual.
O amor é o fundamento da vida cristã. Santo Agostinho ensinava que "Ama e faz o que quiseres", indicando que o amor verdadeiro orienta todas as ações. A caridade, o serviço aos pobres e o perdão são valores fundamentais para os agostinianos.
A razão ilumina a fé. A tradição agostiniana valoriza o estudo e o pensamento crítico. Santo Agostinho acreditava que fé e razão caminham juntas. Por isso, os agostinianos costumam atuar em escolas, universidades e centros de formação.
A justiça é compromisso evangélico. Engajar-se em causas sociais faz parte da missão agostiniana. Eles trabalham pela paz, pelos direitos humanos e pela dignidade de todos. A justiça, para eles, é expressão concreta do amor cristão.
Santo Agostinho é eterna fonte de inspiração. Bispo, filósofo e teólogo do século 4º, Agostinho influenciou profundamente a teologia cristã. Seus escritos, como "Confissões" e "A Cidade de Deus", continuam sendo estudados e vividos na comunidade agostiniana.
A comunidade já teve membros famosos. Entre eles, estão Martinho Lutero, idealizador da Reforma Protestante, que dividiu a Igreja Católica a partir de 95 teses; e Gregor Mendel, conhecido como "o pai de genética".
As comunidades religiosas são formas específicas de viver o Evangelho. Grupos como jesuítas, franciscanos, e agostinianos são chamados de ordens ou congregações religiosas. Cada um segue uma regra própria, inspirada na vida de um líder religioso, como santo Inácio de Loyola (jesuítas) ou são Francisco de Assis (franciscanos). Apesar das diferenças de espiritualidade e missão, todas buscam servir a Deus e à Igreja por meio de votos religiosos, vida comunitária e ações pastorais ou sociais.
Quem é Leão 14?
Nascido em 14 de setembro de 1955, em Chicago, ele é filho Louis Marius Prevost, de ascendência francesa e italiana, e de Mildred Martínez, de ascendência espanhola. Ele tem dois irmãos, Louis Martín e John Joseph.
Estudou na Catholic Theological Union em Chicago, graduando-se em Teologia. Aos 27 anos, foi enviado por seus superiores a Roma para estudar Direito Canônico na Pontifícia Universidade de Santo Tomás de Aquino. Na Urbe, foi ordenado sacerdote em 19 de junho de 1982, no Colégio Agostiniano de Santa Mônica, por Dom Jean Jadot, pró-presidente do Pontifício Conselho para os Não Cristãos, hoje Dicastério para o Diálogo Inter-religioso.
Além de norte-americano, ele é também peruano, já que obteve esta cidadania em 2015. O cardeal chegou ao Peru como um jovem missionário agostiniano e, do país andino, partiu como bispo para o Vaticano, para se tornar uma figura central na administração do papa Francisco.
Prevost passou um terço de sua vida nos Estados Unidos. O restante entre a Europa e a América Latina, uma das periferias do mundo, de onde também era natural o argentino Jorge Mario Bergoglio.
Arcebispo emérito de Chiclayo, cerca de 750 quilômetros ao norte de Lima, Prevost deixou o Peru para se juntar ao governo do Vaticano. Lá, ele chefiou o Dicastério para os Bispos, que tem a importante função de aconselhar o papa sobre a nomeação de líderes da Igreja.
Em 30 de janeiro de 2023, foi chamado por Francisco a Roma. Ele se tornou Prefeito do Dicastério para os Bispos e Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, promovendo-o a arcebispo. E no Consistório de 30 de setembro do mesmo ano, ele o criou e o tornou cardeal, atribuindo-lhe o diaconato de Santa Mônica.
Após a morte de Francisco, Prevost disse que ainda havia "muito a fazer" na transformação da Igreja. "Não podemos parar, não podemos retroceder. Temos que ver como o Espírito Santo quer que a Igreja seja hoje e amanhã, porque o mundo de hoje, em que a Igreja vive, não é o mesmo que o mundo de 10 ou 20 anos atrás", disse ele, no mês passado, ao Vatican News.
A mensagem é sempre a mesma: proclamar Jesus Cristo, proclamar o Evangelho, mas a maneira de alcançar as pessoas de hoje, os jovens, os pobres, os políticos, é diferente
Robert Francis Prevost

* Com informações de reportagens publicadas em 16/02/2005, 22/06/2006 e 28/08/2021.
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