Por onde anda Mauricio Rosencof, guerrilheiro preso por 12 anos com Mujica

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Mauricio Rosencof é uma das figuras mais emblemáticas da história recente do Uruguai. Poeta, dramaturgo, jornalista e ex-guerrilheiro, sua trajetória é marcada por resistência, criatividade e amizade profunda com José "Pepe" Mujica. O ex-presidente uruguaio morreu hoje, aos 89 anos.
O que aconteceu
Rosencof engajou na militância política desde jovem. Filho de imigrantes judeus poloneses, ele nasceu em 1933, no Uruguai, e integrou a União das Juventudes Comunistas e o Tupamaros. Em 1972, foi preso e, no ano seguinte, declarado "refém" pela ditadura, ficando encarcerado até 1985. Durante esse período, enfrentou torturas físicas e psicológicas, isolamento extremo e condições desumanas de detenção.
A amizade com Mujica nasceu no silêncio das celas. Rosencof, Mujica e Eleuterio Fernández Huidobro foram mantidos em confinamento solitário por mais de uma década. Para sobreviverem, desenvolveram um sistema de comunicação baseado em batidas nas paredes, criando um código próprio que permitia trocar palavras, ideias e até jogar xadrez imaginário. Essa conexão foi vital para manterem a sanidade e a esperança.
A literatura se tornou sua arma contra o esquecimento. Após a redemocratização, Rosencof e Huidobro registraram seu período do cárcere no livro "Memórias do Calabouço", com contribuições de Mujica. A obra, lançada em 1987, é um testemunho das atrocidades cometidas pela ditadura uruguaia. Em 2018, o livro inspirou o filme "Uma Noite de 12 Anos", dirigido por Álvaro Brechner, que retrata os anos de prisão dos três companheiros.
Nos últimos anos, Rosencof manteve viva a memória, próximo de Mujica. Mesmo na casa dos 90 anos, ele continuou escrevendo e participando de eventos culturais e políticos. Em fevereiro deste ano, ele se reuniu com Mujica e outros ex-companheiros de prisão na chácara do ex-presidente, em um encontro marcado pela emoção e pela lembrança dos que não sobreviveram.

Em janeiro de 2021, ele deu uma entrevista à Folha de S.Paulo. Na conversa, Rosencof falou sobre os motivos para decidir contar sua história e dos companheiros na prisão durante a ditadura no Uruguai.
Deixar registro do que nos aconteceu era uma tarefa nossa em nome de todos, todos os companheiros que também ficaram presos, os que morreram. É a nossa contribuição, nosso tijolo para a construção do necessário muro da memória. Mauricio Rosencof
Segundo Rosencof, Mujica não gostou de reviver as memórias com o lançamento do filme. "Também [me] perturbou, embora eu tenha visto mais vezes. Mujica viu uma só. Na primeira vez, assistimos juntos. E ao final da sessão, nos perguntamos o que tínhamos achado. Mujica me disse: 'Está muito bem, mas não quero ver nunca mais'", conta na mesma entrevista.
A relação com Mujica foi além do cárcere. A amizade entre Rosencof e Mujica perdurou ao longo de décadas, baseada nos ideais compartilhados. Enquanto Mujica seguiu carreira política, chegando à presidência do Uruguai, Rosencof dedicou-se à literatura e à preservação da memória histórica, ambos comprometidos com a justiça social e os direitos humanos.
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