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'Presidente mais pobre do mundo': Pepe Mujica doava 90% de seu salário

Mujica morreu aos 89 anos Imagem: REUTERS/Martin Varela Umpierrez

Colaboração para o UOL, em São Paulo

13/05/2025 18h25

Ex-presidente do Uruguai, morto hoje ao 89 anos, José Pepe Mujica era considerado o chefe de Estado "mais pobre do mundo" por doar até 90% de seu salário.

O que aconteceu

Mujica foi presidente do Uruguai entre 2010 e 2015. Pelo cargo, ele recebia salário mensal de US$ 12,5 mil (R$ 70 mil na atual cotação), mas doava 90% de seus rendimentos.

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Pepe optou por receber apenas US$ 1.250 por mês. Para o uruguaio, esse valor era "mais do que suficiente" para viver dignamente, dividindo seu tempo entre o gabinete do Executivo e o trabalho no campo.

Vida sem luxos. Mujica vivia em uma chácara em Rincón del Cerro, na periferia de Montevidéu, ao lado da esposa, Lucía Topolanski, senadora e ex-companheira de guerrilha. Ele não demonstrava apego material, e tinha como bem apenas um fusca azul.

Defensor das causas sociais, Mujica foi representante da esquerda latino-americana e expoente na luta pela agenda progressista. Além de presidente, Mujica foi deputado, senador e ministro da Agricultura. Ele se aposentou definitivamente da vida política em 2020, quando renunciou ao cargo de senador por problemas de saúde.

Mujica estava sob cuidados paliativos

Político havia decidido suspender tratamento de câncer no esôfago. Em janeiro deste ano, ele anunciou que a doença se espalhou para outros órgãos, como o fígado.

Pepe encarava a morte com naturalidade. "É preciso morrer. Pertencemos ao mundo dos vivos, nascemos destinados a morrer. Por isso a vida é uma aventura maravilhosa. Mais de uma vez na minha vida a morte rondou a cama, desta vez parece que vem com a foice em punho. Vamos ver o que acontece", afirmou.

Ex-presidente mantinha discurso otimista e incentivava a juventude. "Vou continuar militando com meus companheiros, fiel à minha forma de pensar, com minhas verduras e com minhas galinhas. Quero dizer às meninas e aos meninos do nosso país que a vida é linda, mas se desgasta. A questão é recomeçar a cada vez que cair e, se houver raiva, transformá-la em esperança", declarou após o anúncio da doença.

Pepe Mujica em foto de novembro de 2024 Imagem: Eitan ABRAMOVICH / AFP

José Alberto Mujica Cordano nasceu em 20 de maio de 1935 em Montevidéu, capital uruguaia. Descendente de italianos e bascos, Mujica era filho de pequenos agricultores. Após a morte do pai, trabalhou como florista com a mãe. Em sua chácara, Mujica manteve as raízes familiares e continuou cultivando flores e hortaliças.

7.jun.16 - O ex-presidente uruguaio, José Mujica, com sua cadela Manuela Imagem: Pablo Porciuncula/AFP

Trajetória política

Ex-presidente entrou na vida política por influência da família. Mujica começou a militar pelo Partido Nacional, ao qual seus familiares eram filiados, e chegou a ser secretário-geral da juventude da agremiação. Em 1962, abandonou o partido e criou o União Popular, junto ao Partido Socialista do Uruguai.

Guerrilheiro pelo Movimento de Libertação Nacional - Tupamaros, Mujica foi alvejado e preso. Em 1972, um ano antes do início da ditadura uruguaia, Mujica levou seis tiros e ficou em estado de saúde grave. Ele foi preso, e passou mais de uma década detido. O ex-presidente uruguaio afirmou que neste período aprendeu a "não se deixar dominar pelo ódio e pelo fanatismo, a compreender que há contas que não se cobram e que é preciso viver para a frente"

Os primeiros meses daquela prisão passei amarrado com arames. Na noite em que me colocaram em um colchão para dormir, me senti feliz. Às vezes, eu ficava dois meses sem tomar banho. E em absoluta solidão, com a visita de familiares uma vez por mês, principalmente de minha mãe.
Pepe Mujica, sobre período na prisão

Conseguiu fugir da prisão, mas só ganhou a liberdade após anistia decretada em 1985. Pepe escapou duas vezes. Em uma delas, por um túnel escavado com um companheiro. Após o fim da ditadura, foi solto pela Lei de Anistia, que decretou a soltura daqueles que cometeram delitos políticos a partir de 1962.

Criou o MPP (Movimento de Participação Política), que se tornou majoritário dentro da coalizão da Frente Ampla em 2004. Em 1994, foi eleito deputado federal e, seguida, assumiu como senador pela primeira vez. Foi designado ministro da Agricultura durante o governo de Tabaré Vasquez, no qual permaneceu até 2008.

Foi presidente do Uruguai entre 2010 e 2015 e conduziu reformas progressistas. O político investiu em planos sociais e na educação, sua principal promessa de campanha. Durante seu mandato, o país manteve política econômica moderada e avançou em direitos humanos e trabalhistas.

Descriminalizou o aborto, aprovou a legalização da maconha e defendeu população LBGT+. Em 2012, o O Uruguai passou a permitir que as mulheres abortassem até a 12ª semana de gestação. Em 2013, sancionou a lei que autorizava e a produção, a venda e o consumo de maconha. No mesmo ano, Mujica aprovou o "matrimônio igualitário", que permite o casamento legal entre pessoas LGBT.

Pepe se aposentou definitivamente da vida política em 2020. Após o período na presidência, foi eleito senador por novamente em 2015 e em 2019. O ex-presidente, no entanto, renunciou ao cargo por problemas de saúde e se aposentou em 2020.

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