Deportados dos EUA para prisão em El Salvador imploram por liberdade; vídeo

Venezuelanos deportados pelos EUA para El Salvador aproveitaram a filmagem de uma TV norte-americana no local para apelarem por socorro. Nas imagens, é possível ouvi-los gritar "liberdade" e "Venezuela".

O que aconteceu

Imagens mostram Matt Gaetz, um ex-congressista e aliado do presidente Donald Trump, em visita à ala onde venezuelanos estão detidos. Os presos são acusados de serem membros da gangue venezuelana Tren de Aragua. As imagens foram divulgadas hoje, mas a gravação foi feita na última sexta-feira pelo canal norte-americano de extrema-direita OANN (One America News Network).

"Liberdade" e "Venezuela", gritaram os presos. Vestidos com os uniformes brancos da prisão, e outros sem camisa, alguns homens aproveitaram a presença das câmeras para gritarem por socorro.

Gaetz afirma na reportagem que os presos são membros da Tren de Aragua, apesar de muitos dos deportados negarem envolvimento com a facção criminosa. "Você saberá como os recém-chegados ao Cecot estão se aclimatando, e não vai querer que o sonho do Partido Democrata de reimportá-los se realize tão cedo", disse o trumpista na introdução.

Conhecemos histórias de monstros, assassinos, que praticam adoração satânica e sacrifícios humanos, invasores da nossa terra
Matt Gaetz

Prisioneiro entrevistado diz ter cometido mais de 50 assassinatos. Hector David Hernández, de El Salvador, era morador de Virgínia e afirma ter sido deportado dos EUA por conta de seus crimes.

Ele afirmou ter entrado na facção aos 13 anos e falou sobre a vida na prisão de segurança máxima. Segundo o Hector, eles têm acesso ao "básico", como "comida, água, lugar onde dormir e cuidados médicos", e que não mantém qualquer comunicação com pessoas de fora da prisão.

O novo presidente, o novo governo não está de brincadeira
Hector David Hernández

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Construído para receber membros de gangues locais, o Cecot é a maior prisão da América Latina. Com um esquema de segurança máxima e sem visitas aos seus detentos.

SOS

Vídeo feito por drone no centro de detenção de imigrantes conhecido como Bluebonnet, em Anson, Texas, mostra outro pedido de ajuda. Nas imagens, 31 detentos que estavam no pátio formam uma corrente humana para escrever a sigla "SOS". O vídeo foi gravado pela agência Reuters em 28 de abril.

Lei de guerra

Em março, Trump invocou uma lei de guerra para deportar imigrantes que ele afirma serem da gangue venezuelana. A Lei de Inimigos Estrangeiros, de 1.798, havia sido usada pela última vez durante a Segunda Guerra Mundial.

Decisões da Suprema Corte dos EUA e de vários tribunais inferiores suspenderam temporariamente as deportações baseadas nessa lei. Os juízes acusaram falta do devido processo legal.

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Ações judiciais foram movidas por advogados de venezuelanos deportados. Eles alegaram que seus clientes não eram membros da Tren de Aragua, não haviam cometido nenhum crime e foram presos principalmente por suas tatuagens.

Ontem, porém, a juíza federal Stephanie Haines, nomeada por Trump, decidiu que as deportações estão "em conformidade". Isto quer dizer que o republicano poderá usar a lei de guerra para deportar outros imigrantes, "desde que o governo forneça aviso suficiente e o devido processo legal", ponderou a juíza. Conforme a decisão, as autoridades devem notificar os deportados com pelo menos 21 dias de antecedência.

Como é o Cecot

Inaugurado em 2023, o presídio tem oito pavilhões com 32 celas cada. O complexo foi construído em uma área desabitada nos arredores de Tecoluca, a 75 km a sudeste da capital San Salvador. Em uma área de mais de 1,6 milhão de metros quadrados, o Cecot tem oito pavilhões, cada um com 32 celas equipadas com grossas barras de ferro.

Vista aérea do Cecot (Centro de Confinamento do Terrorismo), em El Salvador
Vista aérea do Cecot (Centro de Confinamento do Terrorismo), em El Salvador Imagem: La Prensa Gráfica via Wikimedia Commons

Cercada por enormes muros de concreto, a prisão foi projetada para abrigar 40 mil detentos. Atualmente, o Cecot confina cerca de 15 mil pessoas. Segundo Belarmino García, diretor do complexo, os prisioneiros que cumprem pena no local são membros das gangues MS-13 e Barrio 18.

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No Cecot, os prisioneiros são submetidos a confinamento rigoroso. Sem a possibilidade de receber visitas ou fazer ligações para seus familiares, os detentos são vigiados 24 horas por dia por câmeras e extensas equipes de guardas: são 1.000 agentes penitenciários, 600 soldados e 250 policiais da tropa de choque fazendo a vigilância do local, encapuzados e portando armas pesadas como fuzis.

Com vista para as celas por meio de corredores localizados no alto, os responsáveis pela segurança são equipados com armas e capuzes
Com vista para as celas por meio de corredores localizados no alto, os responsáveis pela segurança são equipados com armas e capuzes Imagem: Reprodução/YouTube/El País

Para aqueles que vivem no Cecot, nunca está de noite. Segundo o jornal espanhol El País, luzes artificiais iluminam as celas e o pátio interior 24 horas por dia.

Nas refeições, o feijão e o macarrão predominam. Por ordem do governo, a carne não é oferecida no cardápio. Ainda de acordo com o jornal espanhol, os detentos comem com as mãos, já que talheres como garfos e facas poderiam "ser convertidos em armas mortais".

Funcionários na área de controle de acesso no Cecot ficam encapuzados, assim como os guardas no interior da prisão
Funcionários na área de controle de acesso no Cecot ficam encapuzados, assim como os guardas no interior da prisão Imagem: Reprodução/YouTube/El País

Como uniforme, detentos vestem camisa e bermuda ou calças brancas, sem demais acessórios que possam diferencia-los. Aos detentos, é oferecido um chuveiro alimentado pela água de uma grande pia dentro de cada cela, enquanto a água potável é disponibilizada em um grande barril de plástico. Segundo o El País, os detentos têm a cabeça raspada a cada cinco dias.

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Camas, empilhadas quase até o teto, são feitas de aço inoxidável e não há colchões. Os detentos têm um lençol fino e branco para que possam se cobrir. As paredes são totalmente lisas, impossibilitando uma eventual escalada em direção ao teto, onde há a abertura para a entrada de ar nas celas.

Detentos saem de suas celas apenas para comparecer a audiências judiciais e fazer exercícios. Para que os prisioneiros não deixem o complexo do Cecot, foram instaladas nos pavilhões seis salas especialmente preparadas para a realização de audiências. Já a prática de atividades físicas é limitada a meia hora diariamente.

Nos raros momentos em que deixam suas celas, os detentos são acompanhados pelos funcionários do Cecot
Nos raros momentos em que deixam suas celas, os detentos são acompanhados pelos funcionários do Cecot Imagem: Reprodução/YouTube/El País

*Com informações da AFP.

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