Trump quer 'domo dourado' de nova geração; quais países têm antimísseis?

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O presidente Donald Trump anunciou ontem que os EUA construirão um sistema de defesa antimíssil inspirado no "Domo de Ferro" israelense. O projeto batizado de "Domo Dourado", que deverá estar operacional até o fim de seu mandato, terá participação do Canadá e custará cerca de US$ 175 bilhões (R$ 990,7 bilhões).
Trump já havia assinado, no fim de janeiro, o decreto para o desenvolvimento de um escudo antimíssil com capacidade para proteger totalmente o território do país, segundo a Casa Branca. Rússia e China criticaram o anúncio na época, com Moscou considerando o plano "comparável à 'Guerra nas Estrelas'" promovida por Ronald Reagan durante a Guerra Fria.
President Trump announced the Golden Dome missile defense shield to protect the homeland from advanced missile threats.
-- The White House (@WhiteHouse) May 21, 2025
Included in the One, Big, Beautiful Bill, this project aims to ensure American security. Congress must pass the bill and send it to the President's desk. pic.twitter.com/U0gwZ9DNnV
Como será o domo americano?
O "Domo Dourado" terá "tecnologias de nova geração em terra, mar e espaço, incluindo sensores e interceptores espaciais", segundo Trump. O Secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, ainda acrescentou que o sistema será capaz de proteger o território "de mísseis de cruzeiro, mísseis balísticos, mísseis hipersônicos e drones, sejam eles convencionais ou nucleares".
Até o momento, o National Missile Defense, programa antimísseis do país, tem objetivos mais humildes, relacionados a evitar que os EUA sejam ameaçados por chantagens atômicas por algum Estado-pária. O sistema está preparado para lidar com mísseis balísticos intercontinentais lançados por países menores, com pouca sofisticação militar.

Um dos principais componentes é o Ground-Based Midcourse Defense (GMD). Esses interceptadores, instalados no Alasca e na Califórnia, são projetados para atingir mísseis balísticos no meio de sua trajetória rumo ao alvo.
A taxa de sucesso nos testes de interceptação realizados não é das melhores. De 21 feitos entre 1999 e 2023, só 12 foram bem-sucedidos.

E o que outros países usam?
França, Itália e Reino Unido
Os três países desenvolveram o programa Principal Anti-Air Missile System (Paams) para equipar navios contratorpedeiros contra uma variedade de ameaças aéreas. O Reino Unido deixou a parceria nos anos 1990, mas seguiu com um programa próprio, nos mesmos moldes, chamado Sea Viper.
Ambos os sistemas entraram em ação na atual crise do Mar Vermelho. Em dezembro de 2023, um destróier francês interceptou dois drones direcionados a ele. Dias depois, derrubou um terceiro, que mirava um navio-tanque norueguês.
Na mesma semana, um destróier britânico salvou embarcações comerciais de um drone. Em janeiro, o mesmo contratorpedeiro derrubou "diversos" drones, segundo a marinha do país, no que foi o maior ataque até então desferido, acredita-se, pelos houtis do Iêmen.

Rússia
O A-135, sistema antibalístico da Rússia, está em funcionamento desde os anos 1990. Foi desenvolvido para proteger Moscou e áreas vizinhas, mas atualmente seria capaz de conter ameaças intercontinentais, segundo o think tank de relações internacionais americano Atlantic Council. O país ainda manteria 56 sistemas S-400, de interceptação de aeronaves, drones, mísseis cruzeiro e balísticos em um alcance de até 400 km.
China
O país investiu em um complexo sistema de baterias antiaéreas, com diversos modelos do míssil soviético S-300. Em 2010, a China se tornou o segundo país, atrás somente dos EUA, a conseguir interceptar um míssil acima da atmosfera. Em março, o país inaugurou o novo sistema HQ-19, um escudo contra armas hipersônicas e ameaças nucleares —tido como um competidor à altura do atual arsenal americano.

Taiwan
A ilha mantém desde os anos 1980 o programa Tien Kung, ou Arco do Céu, de defesa contra sua eterna inimiga, a China. No ano passado, o governo local anunciou planos para construir 12 novas bases da terceira geração, TK-III. Trata-se de uma série de mísseis superfície-ar antibalísticos, que operam em conjunto com outras classes de armamentos.
Em 2024, Taiwan também assinou um acordo bélico com os EUA e foi anunciado, em janeiro de 2025, que a primeira entrega de armas seria realizada ainda este ano. Entre os "pedidos" estão o Norwegian Advanced Surface-to-Air Missile Systems, um sistema antimíssil, além de novos radares.
Índia
Sob o argumento de se sentir ameaçada com o crescimento bélico do Paquistão, inimigo histórico e que também tem armas nucleares, a Índia mantém, desde 2000, o Programa de Defesa contra Mísseis Balísticos. O sistema, que já foi testado algumas vezes, tem duas camadas de proteção, em alta e baixa altitude.
Ele é capaz de interceptar mísseis lançados a até 5 mil quilômetros de distância. É o suficiente para cobrir a distância entre Nova Déli e Pequim - a China também tem problemas históricos de fronteira com a Índia. Nos últimos meses, o país vem testando mísseis AD-1 e AD-2, capaz de interceptar mísseis balísticos de alcance intermediário e intercontinentais.
Israel
O país tem um vasto e badalado sistema de defesa, com nomes para lá de inspirados. Arrow ("flecha") é uma família de mísseis antibalísticos capaz de derrubar até mesmo satélites.
A Funda de Davi intercepta aviões, drones e mísseis em um raio de 40 a 300 quilômetros. A inspiração veio da milenar funda, um tipo de estilingue, popular até hoje na região, usado pelo rei Davi para derrotar Golias na história bíblica.

O Domo de Ferro, bastante falado no atual conflito contra o Hamas, cobre ameaças mais próximas, de menor alcance. É um velho aliado dos israelenses: entrou em operação em março de 2011 e, apenas 11 dias depois, derrubou seu primeiro foguete, lançado de Gaza.
O Feixe de Ferro é uma arma a laser capaz de derrubar foguetes, morteiros ou drones a até 7 quilômetros. Ele pode entrar em operação, junto ao Domo de Ferro, no ano que vem. Em abril, os EUA anunciaram um investimento de US$ 1,2 bilhão na tecnologia israelense.

Irã
Em 2019, quando as relações entre Irã e Europa e EUA azedaram devido às acusações de que o país estava violando o acordo nuclear de 2015, Teerã apresentou seu sistema de defesa, o Khordad 15. Ele detecta drones, mísseis de cruzeiros e caças.

Em 2022, o país anunciou uma nova versão dos mísseis de longo alcance Bavar-373, que estariam à altura dos modernos S-400 russos. Esses mísseis superfície-ar seriam capazes de derrubar até caças de quinta geração, os mais modernos em atividade.
Japão
O país começou a desenvolver seu sistema de defesa, com apoio americano, após um míssil lançado pela Coreia do Norte passar pelo espaço aéreo japonês, em 1998. Nos anos 2000, o Japão realizou testes de comunicação em dois pontos de Tóquio. Em 2022, os contratorpedeiros Maya fizeram testes bem-sucedidos em uma base dos EUA no Havaí.
Desde maio de 2024, EUA e Japão trabalham juntos para o desenvolvimento de um interceptador de mísseis hipersônicos.
Escudo europeu vem aí
A corrida por sistemas de defesa cada vez mais sofisticados está ganhando novos participantes. A Coreia do Sul planeja apresentar o L-SAM, seu programa de mísseis antibalísticos de longo alcance, em 2026.
Em outubro de 2022, a Alemanha anunciou a Iniciativa Escudo do Céu Europeu. Quinze países do continente aderiram ao programa inicialmente, que buscará ações em conjunto para o desenvolvimento de sistemas de defesa antiaérea. Em 2025, este número já cresceu para 24, a maioria de membros da Otan (Aliança do Tratado do Atlântico Norte).
A iniciativa pretende fortalecer e modernizar a rede de defesa antiaérea da Otan, que entrou em operação nos anos 1960. Em 2023, o Parlamento alemão firmou uma compra de 4 bilhões de euros em mísseis Arrow 3, de Israel.
*Com informações da AFP e de matérias publicadas em 16/05/2024 e 29/01/2025.
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