No poder há 22 anos, Erdogan diz que não concorrerá novamente na Turquia

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Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia que está há 22 anos no poder, afirmou que não tem a intenção de tentar a reeleição no próximo pleito do país, previsto para 2028. A atual constituição também não permite sua continuidade.
O que aconteceu
''Não tenho interesse em ser reeleito ou concorrer a um cargo novamente'', afirmou. A declaração foi dada ontem a repórteres durante um voo de volta de uma cúpula em Budapaste. Erdogan já lidera a Turquia por 22 anos, como primeiro-ministro em 2003 e depois como presidente eleito desde 2014.
Ele não pode concorrer novamente a menos que as regras constitucionais sejam alteradas. Ou então, que convoque eleições antecipadas. A Turquia era uma democracia parlamentar desde sua criação, em 1923, mas Erdogan mudou isso em 2017, adotando o sistema presidencialista. Com isso, o presidente é o chefe de Estado e exerce o poder Executivo, com a possibilidade de dois mandatos consecutivos de cinco anos. Já o posto de primeiro-ministro foi abolido.
Erdogan segue argumentando que uma nova constituição é ''necessária'' para o país, ''não para ele''. "Queremos uma nova constituição não para nós, mas para o nosso país. Não quero ser reeleito ou concorrer novamente. O que nos preocupa é como fortalecer ainda mais a dignidade e a reputação do nosso país no cenário internacional", falou.
Oposição fala que não é ''nenhuma honra'' ele ter ''desistido'' do poder, já que - por lei - não pode continuar. ''Ao dizer 'Não serei mais candidato', você não está nos fazendo nenhum favor. De acordo com a constituição que você mesmo elaborou, você não tem mais o direito de concorrer. Então fica claro que você não será mais candidato e a nova constituição será elaborada pelos deputados da nova maioria que emergirá das próximas eleições'', respondeu Ali Mahir Basarir, vice-presidente do grupo parlamentar do CHP.
Erdogan colocou a Turquia na rota do autoritarismo
Para especialistas, a Turquia há muitos anos caminha rumo à autocracia. Depois que sobreviveu à tentativa de golpe militar de 2016, Erdogan ampliou seu poder no comando do Executivo e apertou o cerco contra rivais e dissidentes políticos.
Prisão de prefeito de Istambul, em março deste ano, reforçou trajetória controversa do presidente. A prisão em 19 de março de Ekrem Imamoglu, prefeito de Istambul e principal adversário do presidente turco Recep Tayyip Erdogan, provocou revolta no país e gerou uma onda de protestos contra o governo, os maiores desde as manifestações pró-democracia do Parque Gezi, em 2013.
Cresceram as prisões de oposicionistas de forma geral. Após a tentativa de golpe fracassada de 2016, milhares de adversários políticos e intelectuais foram detidos, a maioria acusada de apoiar organizações terroristas.
Outra mudança foi a restrição drástica da liberdade de imprensa. Veículos independentes foram fechados ou submetidos ao controle estatal, o trabalho de jornalistas críticos ao governo foi se tornando cada vez mais difícil - os que insistem estão expostos a intimidações e até mesmo à prisão. Nessa onda recente de protestos, ao menos 11 profissionais foram detidos.
* Com informações da Deutschewelle
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