Tráfico humano atrai com falsas promessas de emprego; como se proteger?

Vítima de tráfico humano, brasileira de 22 anos foi resgatada após três meses em cárcere privado em Mianmar. Ela foi aliciada com promessa falsa de emprego no exterior e mantida em um hotel sob exploração sexual.

Como tráfico humano acontece?

Tráfico humano tem aparência legal e linguagem digital. De acordo com Vladimir Feijó, doutor em direito internacional pela PUC Minas e professor da disciplina na UniArnaldo Centro Universitário, grupos criminosos usam redes sociais, promessas vagas e perfis profissionais para recrutar vítimas com aparência de legalidade.

O traficante moderno veste terno, fala português e se apresenta como oportunidade nas redes sociais. Vladimir Feijó, doutor em direito internacional

Perfis mais visados incluem mulheres jovens e em vulnerabilidade social. A maioria das vítimas tem até 26 anos, baixa escolaridade e está em busca de oportunidades de trabalho, principalmente nos setores de entretenimento, serviços e plataformas digitais, segundo Feijó.

Traficantes usam afetividade e promessas de sucesso para aliciar. O especialista diz que casos de envolvimento emocional com aliciadores, passagens pagas e propostas sem clareza contratual são comuns nas rotas de migração forçada.

Nem sempre o tráfico começa com uma venda. Às vezes, começa com uma passagem paga e um abraço falso no aeroporto. Vladimir Feijó, doutor em direito internacional

Tráfico internacional tem rotas específicas e zonas de risco elevado. Mianmar, Camboja, Laos, Emirados Árabes, Líbano e partes da Europa Oriental concentram casos, muitas vezes ligados à baixa fiscalização e corrupção local.

Brasileiros são alvo de tráfico sexual e trabalho forçado em vários continentes. Na América e Europa, há predominância do tráfico sexual; já na Ásia e África, casos de trabalho análogo à escravidão são mais comuns, especialmente em agricultura, mineração e pecuária, explica Feijó.

A cidadania brasileira garante proteção consular no exterior. Feijó diz que o Itamaraty tem obrigação de prestar assistência a cidadãos em risco, incluindo localização, apoio jurídico e, em alguns casos, repatriação.

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Como evitar cair no golpe

Desconfie de propostas com salário alto e poucos detalhes;

Nunca entregue seu passaporte ou documentos a terceiros sem recibo;

Exija registro formal e evite perder o controle sobre sua identificação;

Exija contrato com tradução juramentada e assessoria jurídica;

Informe familiares sobre sua viagem antes de embarcar;

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Evite viajar sozinho para regiões de risco com promessas vagas;

Consulte canais oficiais, como o Itamaraty, antes de aceitar vagas no exterior.

Relembre o caso

Vítima foi submetida à exploração sexual por integrantes da organização criminosa. A pernambucana estava em cárcere privado em um hotel no sudeste asiático.

Brasileira foi localizada após PF receber uma denúncia. A vítima teve seu nome incluído na lista de difusão azul da Interpol, o que possibilitou sua localização e resgate.

Criminosos aliciavam jovens brasileiras com falsas promessas de emprego. As investigações da polícia apontam que o grupo criminoso é composto majoritariamente por cidadãos chineses legalmente estabelecidos no Brasil. Eles prometiam empregos no estado de Karen, onde estão sendo erguidos, nos últimos anos, empreendimentos comerciais como hotéis e cassinos.

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Mulher resgatada afirmou que tinha um "dono" enquanto esteve em Mianmar. "Falsas promessas de ganhos fáceis se transformam em pesadelo quando a vítima percebe que está, na prática, em situação de escravidão", diz Feijó.

Dois chineses e uma brasileira são suspeitos de integrar o grupo criminoso. Foram cumpridos dois mandados de prisão preventiva contra dois chineses, que foram detidos no momento em que desembarcavam no Aeroporto Internacional de Guarulhos, São Paulo, vindos do Camboja. Também foram cumpridas medidas cautelares contra uma brasileira, além de mandado de busca e apreensão em sua residência, na cidade de São Paulo.

Polícia Federal deflagrou a operação Double Key contra tráfico internacional de pessoas para exploração sexual. As investigações seguem em curso e os envolvidos responderão pelos crimes de organização criminosa e tráfico internacional de pessoas para fins de exploração sexual.

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