Professor: Israel usa discurso como estratégia para derrubar governo do Irã

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, usou o seu discurso como estratégia para motivar a população local a lutar contra o governo do Irã, afirmou hoje o professor de Relações Internacionais Gunther Rudzit em entrevista ao UOL News, do Canal UOL.

Ontem à noite, o governo de Netanyahu disse que essas ações durariam dias ou, talvez, semanas. Disse isso porque o objetivo é acabar com o programa nuclear iraniano. Portanto, esse governo israelense não vai recuar enquanto não destruir [as usinas, que estariam em montanhas].

Por outro lado, o governo iraniano não pode parecer fraco, porque, senão, cai. Esse discurso do Netanyahu para a população iraniana foi justamente isso, para tentar jogar de novo o povo iraniano —que tem uma parcela muito grande reprimida— para se levantar. E o governo iraniano sabe disso. Gunther Rudzit, professor de Relações Internacionais

Netanyahu declarou em um vídeo publicado nas redes sociais que o objetivo dos recentes ataques israelenses ao Irã é "frustrar a ameaça nuclear e de mísseis balísticos do regime islâmico contra nós". Ele frisou ainda que a luta de Israel não é contra o povo iraniano, mas contra o regime do país.

Em uma das falas, o primeiro-ministro israelense diz que "o regime islâmico, que oprime vocês há quase 50 anos, ameaça destruir nosso país".

O novo comandante da Guarda Revolucionária, força ideológica das Forças Armadas do Irã, Mohammad Pakpour, reagiu prometendo abrir "as portas do inferno" para Israel.

Ataques de Israel contra Teerã

Na madrugada de hoje, Israel fez uma série de ataques conta o Teerã, capital do Irã. A ação foi classificada por autoridades israelenses como "ataque preventivo" contra a "ameaça iminente". O bombardeio atingiu usinas nucleares e instalações de mísseis e matou dois líderes militares do Irã. O país respondeu com o envio de mais de cem drones.

O Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) se reunirá na tarde de hoje, em caráter de emergência, após receber uma carta oficial do governo iraniano denunciando o ato e alertando que irá retaliar.

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Atualmente, Israel está conduzindo vários ataques simultâneos na região. Além de dezenas de alvos no Irã, outros alvos israelenses são: ataques navais e aéreos ao Iêmen; ataques contra grupos armados do Hamas na parte sul de Gaza e operações em Rafah, Nablus e Jenin (Cisjordânia).

Pesquisadora: 'Eu ficaria atenta à ação da Arábia Saudita'

Ao UOL News, a professora Isabelle Somma de Castro disse que, apesar de toda a instabilidade na região, ficaria atenta à reação da Arábia Saudita.

Após o bombardeio, vários países da região condenaram severamente a ofensiva israelense, até mesmo a Arábia Saudita, que até há pouco tempo era inimiga declarada do Irã.

Eu ficaria atenta à ação da Arábia Saudita, que é parceiro dos EUA, mas está se reaproximando do Irã. Eles condenaram [os ataques de Israel]. O país é um ator muito importantes e se mostrou contrário, com pronunciamento bastante claro, em relação a esse bombardeio. Talvez, o governo local esteja procurando alternativa para desescalar junto ao Trump. Isabelle Somma de Castro, professora de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo)

Oficialmente, Irã não possui armas nucleares

O programa nuclear do Irã é uma iniciativa científica para o uso da energia nuclear iniciada na década de 1950. Segundo o país, ele é voltado para fins pacíficos e segue os princípios do Tratado de Não Proliferação Nuclear. No entanto, a comunidade internacional teme que o país esteja tentando construir uma bomba atômica

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A Arms Control Association, organização norte-americana que monitora os arsenais nucleares pelo mundo desde 1971, divulga que apenas nove países possuem bombas nucleares. São eles: EUA, Rússia, China, França, Reino Unido, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte.

O país é o único estado não nuclear que enriquece urânio a 60%, segundo a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). O país defende o direito ao desenvolvimento nuclear com fins civis, como a geração de energia, e afirma que não aceitará limites nesse aspecto.

Em 2015, após anos de negociação, um acordo foi firmado entre o Irã e a comunidade internacional. Na época, o país concordou em diminuir as atividades nucleares em troca do alívio das sanções econômica impostas contra a República Islâmica

Jamil: Após ofensiva, diplomatas acreditam que Irã foi vítima de emboscada

Ainda durante o UOL News, o colunista Jamil Chade apurou que, horas após o bombardeio de Israel contra o Irã, diplomatas disseram acreditar que o país islâmico pode ter sido enganado com falsa promessa e, com isso, vítima de uma emboscada.

O que aconteceu? Por semanas o governo de Donald Trump negociou com o Irã. É verdade que ele tinha colocado esse prazo, mas os prazos de Donald Trump mudam conforme, obviamente, o percurso dessa negociação acontece. Isso acontece no comércio, isso acontece na questão migratória, isso acontece em absolutamente todas as esferas de atuação de Donald Trump.

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Portanto, não era um prazo fixo, no sentido de que depois disso não haveria negociação, e o que aconteceu é que nessa semana inclusive foi proposto, e foi, na verdade, organizada uma reunião para o próximo domingo entre as diplomacias americanas.

Isso seria no próximo domingo. E nós tivemos ontem essa, entre aspas, já hoje, na sexta-feira, no horário iraniano, esse ataque. Uma emboscada para muitos diplomatas, mostrando que talvez o Irã tenha sido enganado com a promessa de uma negociação.

Uma emboscada que talvez seja até histórica em termos diplomáticos, mostrando, claro, que a intenção negociadora dos americanos talvez não tenha sido feita de tão boa-fé. É aquele princípio que nós já vimos em outros lugares do mundo com o governo de Donald Trump. É a paz, mas a paz pela força, é a paz imposta, é a paz de uma proposta específica, se não for dessa forma, é pela via militar. Jamil Chade, colunista do UOL

Brasil reage a ataque

O governo brasileiro chamou a ofensiva de "uma clara violação à soberania desse país e ao direito internacional". "Os ataques ameaçam mergulhar toda a região em conflito de ampla dimensão, com elevado risco para a paz, a segurança e a economia mundial", diz a nota.

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O Estado brasileiro diz ainda acompanhar a ofensiva "com forte preocupação". Os ataques foram feitos de madrugada, em ação que Israel chamou de "ataque preventivo" contra a "ameaça iminente", e matou dois líderes militares do Irã. O país respondeu com o envio de mais de cem drones.

O UOL News vai ao ar de segunda a sexta-feira em duas edições: às 10h, com apresentação de Fabíola Cidral, e às 17h, com Diego Sarza. Aos sábados, o programa é exibido às 11h e 17h, e aos domingos, às 17h.

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Veja a íntegra do programa:

Opinião

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