Arma nuclear do Irã é 'grande interrogação' e pode definir 'tudo ou nada'

Diante da escalada dos ataques entre Israel e Irã, que já matou centenas de pessoas, uma questão crucial segue incerta: se Teerã possui ou não armas nucleares. Para Roberto Uebel, professor de relações internacionais da ESPM, a resposta é capaz de definir o futuro do conflito.

O que aconteceu

Arma nuclear tem força para se tornar elemento de "barganha militar" iraniana, diz professor. Segundo Roberto Uebel, o Irã adotou até agora armas convencionais de guerra e mísseis balísticos de longo alcance capazes de gerar danos a Israel e demonstrar força interna. Mas, caso possua armas nucleares, o governo iraniano poderá rever sua estratégia militar diante da escalada do conflito.

O grande ponto de interrogação é: 'O Irã possui armas nucleares?' Se sim, irá utilizá-las ou não?' Essa é a grande incógnita que ninguém sabe responder ainda e pode vir a ser um elemento de barganha militar que os iranianos vão utilizar. (...) Ou seja, é um cenário de muita incerteza. Roberto Uebel, professor de Relações Internacionais da ESPM

Isolado regionalmente e impopular, governo iraniano poderá partir para "tudo ou nada". Uebel explica que o Irã, sob regime dos aiatolás, se vê enfraquecido diante de uma baixa popularidade interna e dos fortes adversários internacionais e regionais que apoiam Israel, como os Estados Unidos e a Arábia Saudita. Por isso, avalia que Teerã poderia apelar para medidas mais extremas "para provar sua hegemonia na região", mesmo que, para isso, fosse preciso violar tratados internacionais sobre o acordo nuclear.

O Irã pode partir para o tudo ou nada. (...) O regime dos aiatolás conta com poderosos adversários externos e não tem uma grande popularidade interna. A população do país hoje enfrenta desemprego elevado, cada vez mais censura, restrição às liberdades individuais, perseguições políticas (...). Enfim, não apoiam o regime, e isso é um elemento de desestabilização interna que pressiona o Irã a agir.

Altos níveis de enriquecimento de urânio pelo Irã dão sinais de armamento nuclear, mas Teerã diz que investimentos têm fins pacíficos e caráter exclusivamente civil. Já o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, diz que o programa nuclear iraniano representa uma "ameaça existencial" para Israel, ainda que especialistas e agências de inteligência ocidentais concordem que, atualmente, o Irã não está construindo uma arma nuclear.

Nos bastidores, Irã busca urgência no fim das hostilidades com Israel e retomada das negociações sobre programas nucleares com os EUA, segundo Wall Street Journal. O jornal noticiou ontem que, segundo autoridades do Oriente Médio e da Europa, representantes dos aiatolás enviaram mensagens a Israel e aos EUA por meio de intermediários árabes para tentar acordos e encerrar o conflito.

Tentativa de cessar-fogo pode indicar que Irã não possui arma nuclear, avalia professor. Para Uebel, o recente gesto iraniano pode significar que Teerã "estaria propenso a um diálogo" com os EUA para chegar a um acordo com Israel. "E isso nos dá um indicativo de que o Irã talvez não tenha de fato uma bomba nuclear", diz. Mas ressalta que cenário internacional ainda é de "muita incerteza" e há grandes chances de o conflito seguir escalando.

Existe possibilidade de o Irã sair vitorioso do conflito? Sem arma nuclear, derrota iraniana é certa, diz o especialista. "Se possuir arma nuclear, pode ser que sim. Se não, é um cenário de 'perde-perde'", afirma. Ou seja, mesmo que decida seguir com os ataques convencionais ou tente chegar a um acordo com os Estados Unidos e Israel para abrir mão do seu programa nuclear, Irã "deve sair derrotado" e com a soberania enfraquecida, explica.

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Já Israel deve seguir firme com objetivo de desestabilizar regime iraniano e tirar foco de Gaza, conclui professor. "Os ataques israelenses contra o Irã, da última semana até agora, parecem ter também uma finalidade política interna para o governo Netanyahu, que é tirar o foco das questões que envolvem a faixa de Gaza, além de demonstrar força e desestabilizar o regime iraniano. Por isso, Israel não parece estar tão interessado no diálogo com os iranianos".

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