Irã ataca centro do Mossad; Israel diz ter matado chefe militar iraniano

A Guarda Revolucionária (o exército ideológico do regime iraniano) reivindicou hoje um ataque ao centro do serviço de inteligência externa de Israel, o Mossad, em Tel Aviv. Israelenses e iranianos entram hoje no quinto dia de ofensivas.

O que aconteceu

TV estatal do Irã anunciou que o centro de inteligência militar de Israel foi atacado. "Este centro está atualmente em chamas", afirma um comunicado lido.

Nesta manhã, fortes explosões foram ouvidas em Tel Aviv e Jerusalém. Sirenes de alerta foram acionadas devido ao lançamento de mísseis iranianos.

No final da tarde (manhã, no horário de Brasília), o Irã voltou a lançar mísseis contra Israel e as sirenes voltaram a soar. Orientação das Forças de Defesa de Israel é que moradores devem se abrigar em lugares seguros. Ainda não há informação de feridos.

Israel declarou que derrubou a maioria dos mísseis iranianos. Apesar disso, o governo não informou se algum penetrou os sistemas de defesa e caiu no país. "Na última hora, vários mísseis foram lançados contra o Estado de Israel a partir do Irã, a maioria dos quais foi interceptada. As instruções do Comando da Frente Interna devem continuar sendo seguidas", disse a Força Aérea em um comunicado.

Arma nuclear tem força para se tornar elemento de "barganha militar" iraniana, diz professor. Segundo Roberto Uebel, o Irã adotou até agora armas convencionais de guerra e mísseis balísticos de longo alcance capazes de gerar danos a Israel e demonstrar força interna. Mas, caso possua armas nucleares, o governo iraniano poderá rever sua estratégia militar diante da escalada do conflito.

O grande ponto de interrogação é: 'O Irã possui armas nucleares?'Se sim, irá utilizá-las ou não?' Essa é a grande incógnita que ninguém sabe responder ainda e pode vir a ser um elemento de barganha militar que os iranianos vão utilizar. (...) Ou seja, é um cenário de muita incerteza. Roberto Uebel, professor de Relações Internacionais da ESPM

A Guarda Revolucionária anunciou a "nona salva de ataques combinados de drones e mísseis" nas primeiras horas de hoje. Segundo o exército, o bombardeio prosseguiria "sem interrupção até o amanhecer". "Diversos tipos de drones, equipados com capacidades de destruição e precisão no alvo, destruíram posições estratégicas do regime sionista em Tel Aviv e Haifa", no norte de Israel, afirmou o general Kiyumars Heidari, comandante das forças terrestres do Exército iraniano.

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Durante o ataque de hoje, o Irã afirmou ter usado um míssil inédito. Um porta-voz do Ministério da Defesa afirmou que o país utilizou um míssil totalmente novo, segundo informações da agência de notícias Fars.

Isolado regionalmente e impopular, governo iraniano poderá partir para "tudo ou nada". Uebel explica que o Irã, sob regime dos aiatolás, se vê enfraquecido diante de uma baixa popularidade interna e dos fortes adversários internacionais e regionais que apoiam Israel, como os Estados Unidos e a Arábia Saudita. Por isso, avalia que Teerã poderia apelar para medidas mais extremas "para provar sua hegemonia na região", mesmo que, para isso, fosse preciso violar tratados internacionais sobre o acordo nuclear.

O Irã pode partir para o tudo ou nada. (...) O regime dos aiatolás conta com poderosos adversários externos e não tem uma grande popularidade interna. A população do país hoje enfrenta desemprego elevado, cada vez mais censura, restrição às liberdades individuais, perseguições políticas (...). Enfim, não apoiam o regime, e isso é um elemento de desestabilização interna que pressiona o Irã a agir.

Novos ataques de Israel no Irã

17.jun.2025 - Membros das equipes de resgate do Crescente Vermelho Iraniano vasculham os escombros dentro de um prédio em Teerã, alvo de ataques israelenses
17.jun.2025 - Membros das equipes de resgate do Crescente Vermelho Iraniano vasculham os escombros dentro de um prédio em Teerã, alvo de ataques israelenses Imagem: AFP PHOTO / HO / Iranian Red Crescent

Israel também fez novos ataques ao Irã hoje. No início da noite (tarde em Brasília), fortes explosões foram registradas no norte de Teerã, segundo jornalistas da AFP.

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Desde o início do dia, o exército israelense atingiu "dezenas de infraestruturas de armazenamento e lançamento de mísseis terra-terra", assim como lançadores de mísseis terra-ar e depósitos de drones no oeste do Irã. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram fumaça subindo em várias áreas na província de Isfahan, logo após Israel anunciar os ataques.

Uma autoridade militar israelense disse à Reuters que Israel atingiu dezenas de alvos ligados aos programas nucleares e de mísseis balísticos do Irã entre ontem e hoje. Segundo ele, uma queda noturna no número de mísseis lançados mostrou que Israel havia conseguido prejudicar a capacidade do Irã de lançar mísseis.

O oficial confirmou que a aeronáutica israelense não teve como alvo a instalação nuclear subterrânea Fordow do Irã. Israel estaria tomando precauções para evitar o desencadeamento de um desastre nuclear, mas o militar afirmou que o ataque ainda pode acontecer.

O principal comandante militar do Irã, Ali Shadmani
O principal comandante militar do Irã, Ali Shadmani Imagem: AFP PHOTO / HO / KHAMENEI.IR

O Exército afirmou hoje que matou o principal comandante militar do Irã, Ali Shadmani, em um bombardeio durante a noite. Shadmani seria a figura mais próxima do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei.

Segundo o Exército, Shadmani comandou tanto a Guarda Revolucionária como as Forças Armadas iranianas. "Após oportunidade repentina à noite, [a Força Aérea israelense] atacou um centro de comando no coração de Teerã e eliminou Ali Shadmani, chefe do Estado-Maior em tempos de guerra, o comandante militar de maior alta patente e a figura mais próxima [a Khamenei]", diz o documento.

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Desde sexta-feira (13), 220 mortes foram registradas no lado iraniano e 24 no lado israelense. No Irã, os números incluem os comandantes da Guarda Revolucionária e do Estado-Maior do Exército, além de nove cientistas do programa nuclear.

Salas subterrâneas da usina de Natanz foram atingidas

Imagens de satélite mostram a usina de Natanz antes e depois dos ataques israelenses em 13 de junho de 2025
Imagens de satélite mostram a usina de Natanz antes e depois dos ataques israelenses em 13 de junho de 2025 Imagem: Stephen A. Wood / AFP PHOTO / Satellite image ©2021 Maxar Technologies

A AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) afirmou hoje que a parte subterrânea da usina nuclear iraniana de Natanz foi atingida por Israel. Segundo a agência, "novos elementos demonstram impactos diretos em salas subterrâneas".

A avaliação da agência foi revista após ela afirmar ontem que não haviam indícios de danos nas salas subterrâneas. Em uma publicação na rede social X, a AIEA afirmou que reavaliou com base em "uma análise contínua de imagens de satélite de alta resolução". A instalação possui duas construções, sendo uma delas subterrânea, para proteção contra esse tipo de ataque. No total, a usina de Natanz possui quase 70 cascatas de centrífugas, usadas para enriquecer urânio.

Anteontem, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que seu exército destruiu a principal instalação em Natanz. A AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) e o governo iraniano confirmaram na sexta-feira (13) que parte dessa instalação havia sido destruída pelos ataques israelenses. A usina de Natanz, no centro do país, é a mais conhecida das instalações nucleares iranianas, e sua existência foi revelada em 2002.

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Trump deseja 'um verdadeiro final' para o conflito

Líderes do G7, que estão reunidos no Canadá, pediram uma "desescalada" no conflito. "Exortamos para que a resolução da crise iraniana leve a uma desescalada mais ampla das hostilidades no Oriente Médio, incluindo um cessar-fogo em Gaza", afirma a declaração conjunta assinada ontem pelos países e publicada pelo Canadá.

16.jun.2025 - Líderes do G7 reunidos no Canadá
16.jun.2025 - Líderes do G7 reunidos no Canadá Imagem: Ludovic MARIN / POOL / AFP

A nota também afirma que Israel "tem o direito de se defender" e destaca "a importância da proteção dos civis". Os líderes das sete economias mais avançadas do mundo - Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Estados Unidos - também expressaram a convicção de que o Irã "nunca poderá ter uma arma nuclear".

Pouco depois de assinar a declaração conjunta, o presidente dos EUA, Donald Trump, deixou a reunião e voltou para os EUA. "Vocês provavelmente estão vendo o que eu vejo, porque preciso voltar [a Washington] o quanto antes", afirmou Trump. "Eles querem fazer um acordo e, assim que eu sair daqui, faremos alguma coisa. Mas tenho que sair daqui."

O presidente francês, Emmanuel Macron, sugeriu que Washington estava disposto a fazer uma aproximação diplomática. "Uma proposta foi apresentada para uma reunião", disse. Trump afirmou durante semanas que era favorável à diplomacia sobre a questão nuclear e seu representante, Steve Witkoff, se reuniu em cinco ocasiões com funcionários do governo iranianos.

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Em sua rede social, Trump afirmou que não teve nenhuma "negociação de paz" com o Irã. "Isso é apenas mais uma NOTÍCIA FALSA COMPLETAMENTE INVENTADA! Se eles quiserem conversar, sabem como me encontrar. Deveriam ter aceitado o acordo que estava sobre a mesa", afirmou o presidente norte-americano no Truth Social.

Enquanto embarcava de volta aos EUA, Trump afirmou que deseja "um verdadeiro final" para o conflito. "Não estou buscando um cessar-fogo, estamos buscando algo melhor do que um cessar-fogo", disse Trump à imprensa a bordo do Air Force One. Ele enfatizou que deseja que o Irã "ceda completamente" e que busca um "fim real, não um cessar-fogo".

Embaixador compara Trump a Truman

Mike Huckabee, embaixador dos EUA em Israel, teria comparado Donald Trump ao ex-presidente Harry S. Truman, que comandou os EUA entre 1945 e 1953. Truman esteve na Casa Branca em eventos cruciais da Segunda Guerra e início da Guerra Fria. Foi ele quem autorizou os bombardeios atômicos a Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945.

Huckabee, em conversa suposta mensagem enviada a Trump, afirmou que "nenhum presidente esteve numa posição como a sua desde Truman, em 1945". O embaixador também disse que Trump é "o presidente mais impactante de um século — talvez de toda a história" e afirmou que "as decisões que estão sobre seus ombros eu não gostaria que fossem tomadas por mais ninguém."

A conversa privada entre ambos foi compartilhada por Trump em sua rede social. Huckabee afirmou que será o "último a sair" de Israel. "Não abandonarei este posto. Nossa bandeira NÃO será arriada! O senhor não buscou este momento. Este momento buscou o SENHOR! É uma honra servi-lo!"

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Estrangeiros fogem para o Azerbaijão

Mais de 600 estrangeiros já fugiram do Irã e entraram no Azerbaijão desde sexta-feira. "Desde o início da escalada militar entre Israel e Irã, mais de 600 cidadãos de 17 países deixaram o Irã e entraram no Azerbaijão", afirmou uma fonte do governo iraniano à AFP.

Entre eles, há cidadãos da Rússia, Alemanha, Espanha, Itália, Estados Unidos, Portugal, China, Vietnã e Emirados Árabes Unidos. "As pessoas são transportadas da fronteira até o Aeroporto Internacional de Baku, de onde viajam para seus países em voos internacionais", acrescentou a fonte.

As fronteiras terrestres do Azerbaijão estão fechadas desde 2020, devido à pandemia da covid-19. A fonte governamental destacou, no entanto, que "o Azerbaijão abriu temporariamente sua fronteira para aqueles que estão saindo do Irã, considerando as necessidades de evacuação".

Conflito deve escalar, mas 3ª Guerra Mundial é improvável

Cientistas políticos analisam que a possibilidade dos ataques resultarem em uma 3º Guerra Mundial ainda é remota. Não se pode subestimar a força militar do Irã, mas Israel tem vantagens, dizem analistas. Segundo Fernando Brancoli, professor de Segurança Internacional e Geopolítica da UFRJ, evidências mostram que o Irã "já sofreu com limitações na eficácia de retaliações anteriores", como em abril e outubro de 2024, quando usou drones e mísseis que foram interceptados pela Defesa israelense.

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Acredito que falar em 3ª Guerra agora é muito precipitado. Devemos ter uma escalada maior do conflito que pode, sim, levar a uma guerra entre Israel e Irã. Mas não acredito que uma guerra mundial, agora, é algo que os Estados Unidos ou outras potências, como a Rússia, querem agora, apesar de toda retórica bélica dos países. E sabemos que, para haver uma guerra mundial, é preciso envolver as grandes potências mundiais, não apenas as locais. Karina Stange Calandrin, pesquisadora e professora de relações internacionais do Ibmec

Os riscos globais aumentaram, mas as chances de uma guerra mundial ainda são bastante remotas. O que vemos é uma escalada regional que pode engatilhar conflitos em áreas críticas, como Golfo e Oriente Médio, e até uma interferência naval ou atentados terroristas internacionais. Já se fala em risco de ampliações regionais, porém, nenhuma das grandes potências (China, Rússia, OTAN) declarou intenções de confronto direto. Fernando Brancoli, professor de Segurança Internacional e Geopolítica da UFRJ

Ainda não dá para saber o quanto essa escalada vai levar a uma generalização do conflito. A curto prazo, ela gera uma grande instabilidade regional. A médio prazo, é possível que haja o envolvimento de outros países, mas ainda é preciso entender o quanto a China, Rússia, Turquia e países europeus vão se envolver no conflito e em qual grau isso vai acontecer para se ter uma melhor percepção se essa escalada vai gerar uma ampliação global do conflito. Denilde Holzhacker, Cientista Política e professora de relações internacionais da ESPM

Acho que, dificilmente, teremos uma grande guerra convencional entre esses dois países, até porque a distância entre os dois é de mais de mil quilômetros. (...) Mas que haverá muitas tensões, muitos conflitos localizados, regionais e muitas transformações da ordem internacional, como nós conhecemos há décadas, isso sim, podemos esperar. E essa transformação pode envolver conflitos militares internacionais, com certeza. Kai Enno Lehmann, professor do IRI (Instituto de Relações Internacionais, da USP

(Com AFP e Reuters)

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