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Restrição dos EUA preocupa estrangeiros no Brasil: 'Vidas em sério perigo'

Donald Trump proibiu e restringiu cidadãos de diversos países de entrarem nos Estados Unidos Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

17/06/2025 05h30

A proibição e restrição da entrada de pessoas de 19 países nos Estados Unidos levanta preocupação de migrantes ao redor do mundo, incluindo no Brasil. A medida foi decretada pelo presidente Donald Trump no início desse mês. Segundo ele, a justificativa seria a permanência irregular de cidadãos que entraram no país com vistos e não deixaram os EUA quando o documento determinava.

No Brasil, migrantes com família ou que atuam para empresas nos Estados Unidos já sentem apreensão sobre o futuro. O afegão Shabir Ahmad Niazi, 24, é um deles. Ele vive no Brasil há dois anos e atualmente trabalha como presidente da ARRO, uma organização de resgate e acolhida de refugiados afegãos.

Meu irmão vive lá nos Estados Unidos. A nova decisão de Trump causou muito medo e incerteza -- não apenas para a minha família, mas para muitos afegãos que viajaram pelo Brasil e por outros países da América do Sul para tentar chegar aos EUA. Agora, muitos deles estão enfrentando a ameaça de deportação, o que pode colocar suas vidas e futuros em sério perigo.
Shabir Ahmad Niazi, 24, afegão

O Afeganistão passa por uma crise humanitária há alguns anos. Após a retirada das tropas estadunidenses do país, o grupo ultraconservador Talibã tomou o controle total do governo. Organizações internacionais alertam para violação de direitos humanos no país após a retomada do grupo, especialmente no que diz respeito às mulheres. Elas tiveram o direito ao trabalho e ao estudo restringido desde então.

Com o novo decreto, Trump proibiu totalmente a entrada de cidadãos afegãos no país. A restrição vem em um momento em que eles já estão passando por pressões de deportações em países vizinhos, como o Irã e o Paquistão, que acolheram a maioria dos refugiados e solicitantes de asilo.

"Acredito que essa decisão é injusta, desumana e profundamente preocupante. O povo afegão tem sofrido há décadas devido à guerra, à instabilidade e à perseguição. Muitos estão apenas buscando segurança e dignidade. Ao fechar as portas para o asilo legal, os EUA estão empurrando pessoas vulneráveis para rotas migratórias perigosas e agravando a crise humanitária", opina Niazi.

Países como os Estados Unidos deveriam agir com responsabilidade e compaixão, e não virar as costas para aqueles que estão em situação desesperadora e precisam de proteção.
Shabir Ahmad Niazi, 24

Além do Afeganistão, cidadãos de outros países também foram proibidos de entrar nos Estados Unidos. São eles: Birmânia, Chade, República do Congo, Guiné Equatorial, Eritreia, Haiti, Irã, Líbia, Somália, Sudão e Iêmen.

Apesar de não proibir a entrada, outros cidadãos também estão impactados pela medida de Trump. Na medida, o presidente restringe a entrada de pessoas de Burundi, Cuba, Laos, Serra Leoa, Togo, Turcomenistão e Venezuela.

Maria*, 29, nasceu na Venezuela, mas mora no Brasil há 22 anos, tendo conseguindo cidadania brasileira somente em 2023. Ela trabalha em uma empresa norte-americana com sede no Brasil e tem que fazer viagens frequentes para os Estados Unidos por exigência do trabalho. Ela tem visto, mas com a medida, a profissional vive o receio de que isso impeça as suas atividades.

"Apesar de ter me tornado cidadã brasileira recentemente, tenho meu visto americano válido há muitos anos no passaporte venezuelano, e por isso, quando vou para os EUA, viajo com o passaporte venezuelano. Já tive experiências controversas no aeroporto. Então, tenho sim muito receio de viajar novamente com esse passaporte e agora ser barrada por conta dessa nova medida", diz ela.

Para ela, as medidas contra os venezuelanos é estritamente discriminatória.

Com essa nova medida de banimento, Trump discrimina venezuelanos de forma arbitrária. Dizem que a medida tem suas exceções, mas, na prática, nós venezuelanos sabemos que isso não é verdade. Temos motivos para ter medo de não sermos mais permitidos de entrar nos Estados Unidos, independente das exceções. Digo que temos motivos para ter medo não só por conta das inúmeras deportações vistas nesses últimos meses do segundo mandato de Trump, mas também com base no seu mandato anterior.
Maria*, 29, venezuelana e brasileira

Banimento também para moradores

Além da proibição e restrição de cidadãos de diversos países à entrada nos Estados Unidos, Trump também sugeriu que migrantes que já residem no país se "autodeportem". O presidente anunciou que o visto de permanência temporária de mais de meio milhão de imigrantes de Cuba, Haiti, Nicarágua e Venezuela seria cancelado.

A medida vem após um parole humanitário do governo democrata de Joe Biden, em 2022, que permitiu que um número limitado de venezuelanos pudessem entrar legalmente nos Estados Unidos.

No ano seguinte, a medida foi ampliada para incluir cidadãos do Haiti, Cuba e Nicarágua. A permissão exigia requisitos como verificação de antecedentes criminais, ter um patrocinador no país que oferecesse apoio financeiro e estar com a vacinação em dia.

As medidas contra imigração de Trump estão levantando protestos no país. Há quase uma semana, manifestantes ocuparam as ruas de diferentes cidades, como Los Angeles, Nova Iorque e Chicago. As demonstrações foram reprimidas pelas autoridades locais. Em Los Angeles, foi decretado toque de recolher após as movimentações.

*Nome alterado para preservar a identidade da entrevistada

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