Fim do conflito próximo? Em que pé estão negociações entre Israel e Irã?

Com a escalada do conflito entre Israel e Irã nos últimos dias, as negociações entre os países, mediadas pelos Estados Unidos, têm recuado. Apesar disso, o governo iraniano sinalizou recentemente que busca o fim das hostilidades com urgência.

O que aconteceu

Irã buscava, nos bastidores, avançar rapidamente em acordo pelo fim das hostilidades com Israel, segundo Wall Street Journal. O jornal norte-americano noticiou no último dia 16 que apurou junto a autoridades do Oriente Médio e da Europa que representantes dos aiatolás enviaram mensagens a Israel e aos EUA por meio de intermediários árabes para encerrar o conflito urgentemente e retomar as negociações sobre programas nucleares com os EUA.

Em meio a uma feroz campanha aérea israelense, Teerã informou às autoridades árabes que estaria aberta a retornar à mesa de negociações, desde que os EUA não se juntassem ao ataque, disseram as autoridades. O Irã também enviou mensagens a Israel afirmando que é do interesse de ambos os lados manter a violência contida. Wall Street Journal, em reportagem publicada no último dia 16

Mas, diante da escalada de ataques israelenses e declarações de apoio dos EUA a Israel, governo iraniano recuou. Ainda no último dia 16, no quarto dia de conflito, o Irã acusou o governo Trump de estar por trás dos ataques de Israel e suspendeu as negociações com Washington sobre o programa nuclear do país persa. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmail Baqaei, disse que "não faz sentido negociar com o principal cúmplice da agressão contra Teerã".

Temos evidências sólidas de que forças e bases americanas na região auxiliaram os ataques do regime sionista. Monitoramos de perto e possuímos provas substanciais de como as forças americanas auxiliaram o regime sionista, mas mais reveladoras do que nossas evidências são as declarações explícitas do presidente dos EUA expressando apoio. Portanto, consideramos os EUA cúmplices desses ataques e exigimos que assumam a responsabilidade. Ministro das relações exteriores do Irã, Seyyed Abbas Araghchi, em comunicado publicado no último dia 16

A missão iraniana na ONU afirmou hoje que o país não negociará sob coação. "O Irã não negocia sob coação, não aceitará a paz sob coação e certamente não com um belicista decadente que se apega à relevância. O Irã responderá a qualquer ameaça com uma contra ameaça e a qualquer ação com medidas recíprocas", diz o post no X.

Mais cedo, Donald Trump disse que deu o ultimato definitivo ao Irã. Ele também afirmou que encorajou o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, a seguir com os ataques. "Eu disse: 'continue' [...] Falo com ele todos os dias. Ele é um bom homem, está fazendo muita coisa."

Apesar de negar o envolvimento, Casa Branca foi avisada dos planos israelenses. Em entrevista à Fox News, Trump afirmou que sabia que Israel atacaria o Irã e ressaltou que o país islâmico "não pode ter uma bomba nuclear". Ele disse ainda que o espaço aéreo do Irã já está sob total controle, após os EUA enviarem dois porta-aviões ao Oriente Médio, em um recado direto de que está com Israel no conflito.

Com aviões de guerra israelenses podendo circular livremente sobre Teerã, Israel tem pouco incentivo para interromper ataques e aceitar acordo com Irã. O objetivo do governo Netanyahu, portanto, deve seguir sendo a destruição de instalações nucleares do Irã e o enfraquecimento interno ainda maior do regime dos aiatolás.

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Ontem, após novos ataques iranianos, Trump deu ultimato a Líder Supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. O presidente norte-americano afirmou que, "por enquanto" não vão matá-lo, como considerou Israel, mas que a "paciência está se esgotando". Pela rede social Truth Social, Trump divulgou que sabe exatamente onde está Khamenei e o ameaçou, dizendo que o iraniano é um alvo fácil. Na sequência, o republicano acrescentou que o aiatolá ainda está seguro e pediu sua "rendição incondicional".

Ministro da Defesa israelense, Israel Katz, afirmou no mesmo dia, porém, que líder supremo do Irã, pode enfrentar "o mesmo destino de Saddam Hussein". O presidente iraquiano foi deposto em uma invasão liderada pelos EUA e enforcado após julgamento. "Alerto o ditador iraniano para que não continue cometendo crimes de guerra e disparando mísseis contra cidadãos israelenses", disse Katz a altos oficiais militares israelenses.

No mesmo dia, Trump afirmou que deseja "fim real" para o conflito entre Israel e Irã, e não apenas cessar-fogo. Ele fez os comentários durante sua partida à meia-noite do Canadá, onde participou da cúpula do Grupo dos Sete na segunda-feira, conforme comentários publicados por um repórter da CBS News na plataforma X.

Presidente dos EUA afirmou, porém, que Israel não diminuirá ataques ao Irã. "Vocês vão descobrir isso nos próximos dois dias. Vocês vão descobrir. Ninguém diminuiu o ritmo até agora", afirmou Trump na mesma ocasião, ainda segundo o jornalista da CBS.

Republicano ainda não descartou mandar enviado dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff, ou o vice-presidente JD Vance, para se reunir com representantes do Irã. Segundo apuração do portal Político, Trump está buscando uma "desistência completa" das hostilidades por parte do Irã, mas ainda acredita em um acordo nuclear com o país, apesar da escalada do confronto nos últimos dias.

Hoje, porém, Trump deixou em aberto se EUA se juntarão aos ataques israelenses contra o Irã. "Talvez sim, talvez não. Quer dizer, ninguém sabe o que vou fazer", disse o presidente republicano a repórteres na Casa Branca mais cedo.

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É improvável que Irã consiga resistir ainda por muito tempo neste conflito com Israel, diz analista. Segundo afirmou Paulo Velasco, professor de Política Internacional da Uerj, em entrevista recente ao Mercado Aberto, "parece improvável que o Irã consiga resistir por muito tempo nas bases em que o conflito está se dando nesses primeiros dias de ofensiva".

A partir do momento em que Israel consegue controlar uma parte importante do espaço aéreo iraniano, especialmente no oeste do Irã, incluindo a capital, isso é uma vulnerabilidade talvez decisiva e definitiva para o Irã. (...) Israel já tem seus aviões sobrevoando uma parte importante do espaço aéreo iraniano no oeste do país, o que é, claro, uma vulnerabilidade talvez decisiva para o Irã, que não terá condições de continuar nesse conflito por um longo tempo. Paulo Velasco

*Com AFP, Agência Brasil e Reuters

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