Israel bombardeia áreas nucleares do Irã; Khamenei rebate ameaças de Trump
Rafael Leite
Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte*
18/06/2025 08h24
Israel bombardeou hoje centros de produção de centrífugas de urânio no Irã, no sexto dia de ofensivas. O líder supremo iraniano afirmou, em pronunciamento, que o país não irá se render sob pressão.
O que aconteceu
Exército iraniano alertou a população sobre ataques "punitivos" iminentes em Israel e pediu a evacuação de Tel Aviv e Haifa. Pouco tempo depois, a Guarda Revolucionária (o exército ideológico iraniano) anunciou um bombardeio contra o território israelense utilizando mísseis balísticos hipersônicos Fattah-1.
Durante a noite, Israel ativou as sirenes aéreas após detectar 10 mísseis balísticos iranianos. Segundo uma autoridade militar, a maioria foi interceptada.
Dois drones foram derrubados pelo exército israelense nas primeiras horas de hoje, na região do Mar Morto. Um míssil terra-ar iraniano derrubou um drone de Israel que estava operando no Irã.
Israel atacou um centro de produção de centrífugas de urânio em Teerã e várias unidades de fabricação de armas. "Mais de 50 aviões" foram usadas na ofensiva, segundo o exército israelense.
A AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) confirmou o ataque e informou que dois edifícios foram destruídos. Os ataques também atingiram um edifício do Centro de Pesquisa de Teerã, onde "rotores para centrífugas avançadas eram fabricados e testados", informou a AIEA na rede social X.
Khamenei x Trump
Na tarde de ontem, o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. "Sabemos exatamente onde se esconde o chamado 'Líder Supremo'. É um alvo fácil, mas está seguro lá. Não vamos tirá-lo (matá-lo!), pelo menos por enquanto", escreveu Trump em sua rede Truth Social, pouco tempo depois de pedir a "rendição incondicional" do Irã.
Hoje, Khamenei respondeu Trump, afirmando que qualquer intervenção dos EUA "terá consequências séries e irreparáveis". Durante um pronunciamento à nação, o líder supremo disse que "iranianos não respondem bem à linguagem da ameaça" e afirmou que Israel será "punido pelos seus erros".
Paciência de Trump "se esgotou"
No final da manhã de hoje, Trump se recusou a dizer se os EUA vão atacar o Irã. "Há uma grande diferença entre agora e uma semana atrás", disse Trump aos repórteres do lado de fora da Casa Branca. "Posso fazer isso, posso não fazer isso. Quer dizer, ninguém sabe o que eu vou fazer."
O presidente dos EUA afirmou, sem entrar em detalhes, que o Irã havia proposto ir à Casa Branca conversar. Ele descreveu o Irã como totalmente indefeso e sem qualquer tipo de defesa aérea.
Após dizer ontem que sua paciência estava se esgotando, Trump disse hoje que ela "já se esgotou". Depois, quando questionado se era tarde demais para negociar, o presidente norte-americano afirmou que "nada é tarde demais".
Entenda o conflito
Israel e Irã estão em conflito bélico desde sexta-feira. Israel bombardeou Teerã, capital do Irã, e anunciou ataques a dezenas de instalações de mísseis no oeste do país alegando que queria "prevenir um holocausto nuclear". Israel, porém, é o único país que possui bombas nucleares no Oriente Médio.
Desde sexta-feira, 585 mortes foram registradas no lado iraniano e 24 no lado israelense. No Irã, os números incluem os comandantes da Guarda Revolucionária e do Estado-Maior do Exército, além de nove cientistas do programa nuclear. Os dados são da ONG americana Human Rights Activists.
Na manhã de ontem, fortes explosões foram ouvidas em Tel Aviv e Jerusalém. Sirenes de alerta foram acionadas devido ao lançamento de mísseis iranianos. A Guarda Revolucionária anunciou a "nona salva de ataques combinados de drones e mísseis".
Durante o ataque de ontem, o Irã afirmou ter usado um míssil inédito. Um porta-voz do Ministério da Defesa afirmou que o país utilizou um míssil totalmente novo, segundo informações da agência de notícias Fars.
Israel também fez novos ataques ao Irã. Segundo o exército, foram atingidas "dezenas de infraestruturas de armazenamento e lançamento de mísseis terra-terra", assim como lançadores de mísseis terra-ar e depósitos de drones no oeste do Irã.
Estados Unidos mobilizaram caças e porta-aviões para o Oriente Médio. O envio do material bélico aconteceu no dia em que Donald Trump pediu a rendição incondicional de Khamenei e afirmou que sabia o paradeiro dele.
Conflito deve escalar, mas 3ª Guerra Mundial é improvável
Cientistas políticos analisam que a possibilidade dos ataques resultarem em uma 3º Guerra Mundial ainda é remota. Não se pode subestimar a força militar do Irã, mas Israel tem vantagens, dizem analistas. Segundo Fernando Brancoli, professor de Segurança Internacional e Geopolítica da UFRJ, evidências mostram que o Irã "já sofreu com limitações na eficácia de retaliações anteriores", como em abril e outubro de 2024, quando usou drones e mísseis que foram interceptados pela Defesa israelense.
Acredito que falar em 3ª Guerra agora é muito precipitado. Devemos ter uma escalada maior do conflito que pode, sim, levar a uma guerra entre Israel e Irã. Mas não acredito que uma guerra mundial, agora, é algo que os Estados Unidos ou outras potências, como a Rússia, querem agora, apesar de toda retórica bélica dos países. E sabemos que, para haver uma guerra mundial, é preciso envolver as grandes potências mundiais, não apenas as locais. Karina Stange Calandrin, pesquisadora e professora de relações internacionais do Ibmec
Os riscos globais aumentaram, mas as chances de uma guerra mundial ainda são bastante remotas. O que vemos é uma escalada regional que pode engatilhar conflitos em áreas críticas, como Golfo e Oriente Médio, e até uma interferência naval ou atentados terroristas internacionais. Já se fala em risco de ampliações regionais, porém, nenhuma das grandes potências (China, Rússia, OTAN) declarou intenções de confronto direto. Fernando Brancoli, professor de Segurança Internacional e Geopolítica da UFRJ
Ainda não dá para saber o quanto essa escalada vai levar a uma generalização do conflito. A curto prazo, ela gera uma grande instabilidade regional. A médio prazo, é possível que haja o envolvimento de outros países, mas ainda é preciso entender o quanto a China, Rússia, Turquia e países europeus vão se envolver no conflito e em qual grau isso vai acontecer para se ter uma melhor percepção se essa escalada vai gerar uma ampliação global do conflito. Denilde Holzhacker, Cientista Política e professora de relações internacionais da ESPM
Acho que, dificilmente, teremos uma grande guerra convencional entre esses dois países, até porque a distância entre os dois é de mais de mil quilômetros. (...) Mas que haverá muitas tensões, muitos conflitos localizados, regionais e muitas transformações da ordem internacional, como nós conhecemos há décadas, isso sim, podemos esperar. E essa transformação pode envolver conflitos militares internacionais, com certeza. Kai Enno Lehmann, professor do IRI (Instituto de Relações Internacionais), da USP
(Com AFP e Reuters)