Brasileiro na Flotilha prepara nova missão: 'Israel foi inferno na Terra'

Ler resumo da notícia
O ativista brasileiro Thiago Ávila, preso ao levar ajuda humanitária em um barco à Faixa de Gaza, afirmou que a detenção em Israel foi um ''inferno na terra'' —com ameaças, condições insalubres e cela solitária. Apesar disso, o grupo ativista planeja nova missão.
O que aconteceu
Israel monitorou a embarcação com drones por cinco dias, segundo ele. O veleiro da Coalizão da Flotilha da Liberdade, um movimento internacional não violento de solidariedade aos palestinos, partiu da Itália em 1º de junho. Após uma escala no Egito, se aproximou da costa de Gaza, mas foi interceptado no dia 8.
Thiago, 38, contou ao UOL que temeu um ataque com bombas. ''Eles mandavam os drones em cima da gente, podia ser só vigilância, mas podia ser por terror psicológico também, essa operação psicológica de guerra. Um mês atrás, dois drones jogaram bombas em um barco nosso e não morreu ninguém por um milagre'', diz.
Se esse drone jogasse uma bomba, a gente tinha somente três segundos para estar na água e ter maior chance de sobrevivência. Por isso, as pessoas iam para a lateral do barco, passavam para o lado de fora da grade e se preparavam. Thiago Ávila
No dia 8 de junho, Israel enviou lanchas e barcos para cercá-los. ''Drones começaram a vir em cima do barco mesmo. Eram drones com luzes, com áudio, que jogavam elementos químicos. Eles já estavam interceptando a nossa comunicação, o sistema de navegação, a ponto que estávamos nos guiando pelas estrelas'', relembra.
Eles estavam com rifles apontados para a gente, com uma luz muito forte, com um megafone e tentando tomar o controle do barco. Foi uma interceptação muito violenta. Thiago Ávila
Segundo o ativista, ele, Greta Thunberg e os outros dez foram levados no próprio barco até o porto de Ashdod. Em terra firme, Thiago relata que foram coagidos a assinar um documento que alegava entrada ilegal em Israel e deportação como consequência. O grupo se recusou a assinar: ''A gente nunca teve intenção de ir para Israel, mas sim para Palestina. Fomos sequestrados numa missão humanitária''.
Ativistas decidiram aceitar a deportação de quatro deles, conta. De acordo com ele, a ideia era que os deportados pudessem voltar para casa e relatar ao público o que estava acontecendo. Greta foi uma das escolhidas a voltar devido à sua visibilidade midiática, apesar de ter manifestado seu desejo de ficar.
Ratos, insetos e gritos em prisão
Os seis homensdo grupo foram colocados em celas separadas e as duas mulheres, juntas. ''Lá tinha acesso à luz do sol, eles ofereciam comida às pessoas. Eu recusei comer, estava em greve de fome e de sede, mas as outras pessoas comiam e não tinham queixa sobre a comida. Mas a água era a água da pia, numa coloração, num gosto e um cheiro estranho'', contou.
Depois de dois dias, Thiago foi mandado para outra unidade prisional em confinamento solitário. Ele classificou o local, onde passou outros dois dias, de ''inferno na terra''. Segundo Thiago, a decisão da transferência foi tomada após uma juíza, durante a audiência de custódia, dizer que greve de fome era um delito em Israel.
Ali não havia só insetos, mas também ratos, baratas na cela e sem acesso à luz do sol. A gente não sabia quando era noite ou quando era dia. Eu estava na última cela, no fim do corredor, e ouvia o dia inteiro gritos e barulho de agressão, coisas horríveis estavam acontecendo. Thiago Ávila
Brasileiro escreveu carta para a filha de 1 ano e cinco meses. ''Não sabia quando e como ela ia receber. Eu queria que, independente do que acontecesse, ela soubesse que eu não esqueci dela, que a gente também tava fazendo isso por outras crianças, como ela.''
Após acordo, ativistas decidiram voltar para casa. Thiago embarcou em voo comercial em direção a Madri, na Espanha, às 16h05 da quinta-feira, e chegou no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, na sexta-feira.
Ativista diz que uma nova missão deve ocorrer nos próximos meses. Para ele, a próxima deve ser maior do que a anterior, com um ou dois outros barcos para acompanhar. ''Eu já estou com a cabeça na próxima missão também, porque as crianças ainda estão morrendo de fome em Gaza. Então, não dá para parar.''
Nossa ideia é que no próximo vá mais de um barco, mais gente, até que a gente alcance esse patamar de que fiquem tão desgastados pra manter esse cerco e continuar matando essas crianças de fome, que não possam mais atacar quem está indo lá prestar assistência. Thiago Ávila
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.