Cinco pontos-chave para entender a guerra entre Israel e Irã

No sétimo dia do conflito iniciado pela ofensiva de Israel contra o Irã na sexta-feira (quinta à noite no Brasil), os dois países continuam se atacando mutuamente, mas a vantagem militar israelense é incontestável.

Qual é o balanço do confronto no momento?

  • Israel conseguiu destruir bases e aeroportos militares, defesas antiaéreas e linhas de produção de mísseis iranianos. Apesar de alguns dos bombardeios iranianos terem conseguido superar as defesa áreas israelenses, os danos às forças de Netanyahu são bem menores.
  • Israel também conseguiu eliminar boa parte da cúpula militar iraniana, incluindo chefes do Exército regular e da Guarda Revolucionária. Não há registro de nenhuma vítima entre as autoridades israelenses.
  • O assassinato dos líderes iranianos também significa que o serviço de inteligência de Israel é capaz de obter informações precisas sobre o paradeiro e a rotina das principais autoridades do país.
  • Israel afirma ter obtido a supremacia aérea sobre Teerã e, embora o Irã ainda possua armas capazes de derrubar aeronaves inimigas, a Força Aérea israelense sofre pouca oposição. O Irã tem se limitado a atacar Israel com mísseis de longo alcance, de menor precisão.
  • A vantagem aérea é fundamental nesse conflito, já que a distância entre os dois países reduz muito a viabilidade de ataques terrestres.
  • Além dos ataques atuais, a capacidade ofensiva e de defesa do Irã foi reduzida também pela série de bombardeios realizados por Israel contra suas instalações militares em outubro do ano passado.
  • O enfraquecimento se estende aos principais aliados do Irã na região. Hamas e Hezbollah foram quase aniquilados como força militar por Israel, e Bashar al-Assad foi derrubado na Síria.

Isso significa que Israel está vencendo a guerra?

  • Depende. Israel ampliou sua vantagem militar em relação ao Irã, seu principal adversário no Oriente Médio. Em si, isso já pode ser considerado uma vitória.
  • Mas ainda não está claro se o país conseguirá atingir os dois objetivos da ofensiva: destruir o programa nuclear iraniano e provocar a queda do regime do aiatolá Ali Khamenei.
  • Apesar dos danos causados pelos bombardeios israelenses às instalações nucleares iranianas, a estratégica planta de enriquecimento de urânio de Fordow continua intacta.
  • A unidade fica embaixo de uma montanha, entre 80 e 90 metros de profundidade - a salvo da Força Aérea israelense. Netanyahu pressiona os EUA a usarem sua bomba antibunker GBU-57, a única arma não nuclear capaz de atingir o centro da unidade.
  • Ainda assim, não há certeza de que o ataque provocaria o fim do programa nuclear iraniano. Em entrevista à CNN na segunda-feira, o ex-primeiro-ministro israelense Ehud Barak disse acreditar que, mesmo com a ajuda dos EUA, Israel conseguiria, no máximo, atrasar o programa nuclear iraniano em "alguns meses, talvez um ano".
  • Embora não declarado oficialmente, outro objetivo da ofensiva que aparece com frequência em declarações de autoridades israelenses é facilitar a queda do regime iraniano.
  • No domingo, Netanyahu chegou a dizer que o assassinato de Khamenei seria "o fim da guerra". O raciocínio é que, ao enfraquecer ou eliminar o aiatolá Khamenei e suas forças de segurança, a população iraniana e a oposição se encarregariam de derrubar o governo.
  • Por ora, porém, não há nenhuma indicação de mobilização no Irã. Também nada garante que, em uma eventual queda do regime, o poder seja tomado por grupos mais simpáticos ou menos hostis a Israel e aos EUA.

Qual a situação do programa nuclear iraniano? O Irã já tem a bomba atômica?

  • O consenso dos serviços de inteligência dos países aliados dos EUA, incluindo Israel, e da comunidade internacional de cientistas que acompanham o assunto é que o Irã não possui a bomba atômica. A partir daí, porém, não há mais consenso.
  • Para justificar os ataques de sexta-feira, Netanyahu disse que o Irã "estaria prestes a produzir uma arma nuclear em um período muito curto", sem especificar o que seria esse "período muito curto".
  • Nos últimos dias, Trump também passou a adotar um discurso mais alarmista e a dizer que os iranianos estão "muito perto" da bomba.
  • Por outro lado, em março, a diretora do serviço de inteligência americano, Tulsi Gabbard, disse ao Congresso que, na avaliação do seu departamento, "o supremo líder Khamenei ainda não autorizou [retomar] o programa de armas nucleares que ele suspendeu em 2003".
  • Nos últimos dias, jornais americanos têm dito que integrantes dos serviços de inteligência estimam que o Irã está a entre 1 e 3 anos de conseguir a bomba.
  • O que se sabe é que, de acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica, o Irã possuía, no mês passado, 400 quilos de urânio enriquecido a 60%, suficientes para cerca de 10 bombas nucleares caso fossem enriquecidos a 90% -o que pode ser feito em dias ou semanas.
  • Analistas, porém, acreditam que, entre obter o urânio a 90% e construir a bomba, o país precisaria de meses, talvez mais de um ano.

De onde vem a rivalidade entre Israel e Irã?

  • O Irã é visto por Israel como seu principal adversário no Oriente Médio. O governo israelense diz que o Irã representa uma "ameaça existencial" e acusa o regime iraniano de antissemitismo e de ter como objetivo a destruição do Estado de Israel.
  • O regime iraniano também financia e apoia grupos islâmicos classificados como "terroristas" por Israel, como o Hamas e o Hezbollah, que surgiram da reação à ocupação israelense do sul do Líbano (Hezbollah) e da Faixa de Gaza (Hamas) e são responsáveis por vários ataques a Israel.
  • O Irã vê Israel como uma potência colonial apoiada pelos Estados Unidos, ocupando militarmente um território que pertence aos palestinos e abriga locais sagrados para o Islã.
  • O aiatolá Khamenei não nega a defesa da "abolição do Estado de Israel", mas diz que isso significa o fim do que chama de regime sionista, não do povo judeu. Em um discurso histórico, em 2019, ele afirmou que "o povo da Palestina, incluindo muçulmanos, cristãos e judeus, deve poder determinar seu destino".
  • A rivalidade entre os dois remonta à Revolução Islâmica de 1979 no Irã, quando uma revolta popular derrubou a monarquia do xá Reza Pahlevi e o aiatolá Ruhollah Khomeini chegou ao poder.
  • Desde então, o Irã é uma república islâmica, com eleições diretas para presidente, mas cujo principal líder é um aiatolá - título usado pelos clérigos xiitas mais graduados.

Qual o risco de o conflito escalar para um conflito global?

  • No momento, é difícil vislumbrar uma ampliação do conflito para além de uma eventual participação americana. O governo Netanyahu está pressionando os EUA a se juntar a suas forças e bombardear as instalações nucleares do Irã.
  • O Irã alertou que, caso isso ocorra, atacará alvos americanos. As opções iranianas para atingir o território americano com um ataque militar convencional são poucas, quase nulas. O Irã pode, porém, atacar tropas americanas estacionadas na região. Há cerca de 40 mil soldados americanos no Oriente Médio, a maioria deles em bases no Bahrein, Qatar e Kuwait.
  • Outras opções do Irã seriam tentar interromper o trânsito de navios no Estreito de Ormuz, por onde passa um quinto do petróleo comercializado no mundo.
  • Além da eventual entrada dos EUA no conflito, a chance de participação de outras potências é muito baixa.
  • O Irã - um país persa de maioria xiita, visto com desconfiança pelos vizinhos árabes, majoritariamente sunitas - não tem muitos aliados na região. A exceção são os houthis, que controlam parte do Iêmen e já travam uma guerra não declarada com os EUA e com Israel.
  • Aliados do Irã, China e Rússia não têm interesse em se envolver no confronto. As forças russas estão concentradas em uma guerra de atrito na Ucrânia, e Putin tem conseguido manter uma boa relação com Trump. Para a China, a região, apesar de importante, não é prioridade.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.