Bomba perfuradora e explosão de bunkers: as estratégias de Irã e Israel

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Sob a justificativa de barrar o desenvolvimento do programa nuclear iraniano, Israel bombardeou o Irã na última sexta-feira. Teerã, mesmo sendo militarmente mais fraco, retaliou logo em seguida, alimentando temores de que esse seja um conflito sem precedentes.
Israel usa aviões de ponta, enquanto o Irã conta com um poderoso arsenal

Tel Aviv usou aviões F-35I, F-15I e F-16 para realizar ataques aéreos. Os três modelos de caças suprem necessidades distintas e dão a Israel a possibilidade de realizar missões em diferentes contextos. Por exemplo: enquanto o F-35I e o F-15I são usados para ataques ao solo, o F-16 também serve para combates no ar.
Israel também possui variedade de mísseis. Até o momento, já foram utilizados mísseis antibunker GBU-28, mísseis Rampage e munições de precisão.
Teerã, por outro lado, não possui aeronaves modernas e fáceis de operar, como seu rival. Porém, o país tem utilizado mísseis e foguetes difíceis de serem interceptados, como os mísseis hipersônicos Fattah e os mísseis balísticos Khorramshahr e Haj Qassem. As forças iranianas conseguirem perfurar o Domo de Ferro israelense e atingiram grandes cidades, como Tel Aviv e Haifa.

Acredita-se que o Irã tenha o maior programa de mísseis do Oriente Médio. O arsenal seria capaz de assegurar ataques iranianos por mais algum tempo e causar danos significativos a Israel.
Para acabar com o programa nuclear iraniano, Israel precisa dos EUA
Estruturas nucleares do Irã encontram-se em instalações subterrâneas. Esses bunkers, estariam localizados de 30 a 150 metros abaixo do solo, em regiões montanhosas e de difícil perfuração.
A usina de enriquecimento de combustível Fordow é uma delas. Ela fica em uma antiga base da Guarda Revolucionária Iraniana e está sob forte vigilância. Acredita-se que o Irã armazena no local grande parte do seu urânio, usado na fabricação de bomba atômica.
Israel quer bloquear acesso às usinas, segundo a mídia israelense. Para destruir as rochas que protegem os bunkers, Tel Aviv precisaria de bombas de artilharia massiva de precisão, que não possui, e espera obtê-las com os EUA.
Até o momento, danos causados por ataques israelenses parecem insuficientes para inviabilizar o programa nuclear iraniano. Na avaliação de Fernanda Brandão, coordenadora do curso de Relações Internacionais do Mackenzie Rio, a continuidade dos ataques, no entanto, poderia atrasar o desenvolvimento do programa nuclear do rival ao comprometer o enriquecimento de urânio e mesmo com o assassinato de cientistas do programa. Ela ponderou que o conflito ainda está em andamento e "não há conhecimento sobre a real gravidade dos estragos feitos pelos ataques israelenses".
Para a defesa, Tel Aviv já conseguiu apoio norte-americano. O Domo de Ferro de Israel passou a contar com a ajuda de equipamentos dos EUA na interceptação de bombas.
EUA também fizeram alerta ao Irã. O presidente Donald Trump disse que "todo mundo deve sair imediatamente de Teerã". Ele ainda criticou o país por não ter aceitado o acordo nuclear proposto por ele. Até o momento, porém, os sinais do governo dos EUA "não são muito claros", observou Brandão.
O envolvimento dos EUA vai depender das respostas do Irã, se o Irã irá atacar alvos americanos e a disposição do presidente americano de abandonar de vez a proposta de um acordo com o Irã para limitar o seu programa nuclear.
Fernanda Brandão, coordenadora do curso de Relações Internacionais do Mackenzie Rio
Relação dos ataques com o acordo nuclear entre Irã e EUA "ainda é dúbia", diz especialista
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que o objetivo dos ataques é pôr fim à "ameaça nuclear e de mísseis balísticos do regime islâmico". O seu país, portanto, tem atacado infraestruturas militares e nucleares do rival, e matado cientistas nucleares e militares do alto escalão da Guarda Revolucionária Iraniana.
No último domingo, surgiram rumores de que os israelenses planejavam matar o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. Segundo a agência de notícias Reuters, Trump teria vetado a ideia. Questionado pela emissora Fox News se a mudança de regime fazia parte do esforço militar de Israel, Netanyahu admitiu que esse "certamente poderia ser o resultado, porque o regime iraniano é muito fraco".
Para Brandão, o objetivo de Israel no conflito é "garantir sua sobrevivência diante da crescente ameaça do programa nuclear iraniano". Ela ressaltou haver "muitos questionamentos sobre em que medida os EUA esperavam que esse ataque, na verdade, incentivasse o Irã a aceitar o acordo". A profissional de Relações Internacionais citou que pode ser que o objetivo de Israel seja o contrário: enfraquecer o acordo.
Não se pode perder de perspectiva também que o governo Netanyahu vinha perdendo popularidade domesticamente pela continuidade do conflito em Gaza e que na véspera dos ataques o governo quase chegou ao fim. A questão do Irã reforça a união do povo israelense em torno do governo, uma vez que é um consenso na sociedade israelense o perigo que o Irã e seu acesso a uma arma nuclear seriam para a sobrevivência de Israel.
Fernanda Brandão, ao UOL
Netanyahu apela para os iranianos se rebelarem
Cidadãos iranianos sofrem com efeitos de sanções internacionais há anos. Protestos vinham se intensificando por causa da alta inflação, do desemprego e da escassez de água e eletricidade, além da repressão às liberdades, especialmente das mulheres.
Aproveitando-se desse cenário, o premiê israelense instou os iranianos a se rebelarem. Como parte de sua estratégia para enfraquecer o rival, Netanyahu fez um discurso em inglês na última sexta-feira.
Chegou o momento de o povo iraniano se unir em torno de sua bandeira e de seu legado histórico, defendendo sua liberdade frente ao regime maligno e opressor
Benjamin Netanyahu, em vídeo
Imagens de destruição e mortes acabaram por fortalecer a solidariedade nacional. Na opinião da especialista em Relações Internacionais, a estratégia de Netanyahu de instar a população contra Khamenei não parece ter rendido frutos significativos até agora. "Contudo, é importante ressaltar que a queda do regime não significa que necessariamente um governo menos radical vá assumir o poder e pode criar as condições para o fortalecimento de grupos ainda mais radicais", completou.
Irã tem carta na manga para encerrar o conflito
O fechamento do Estreito de Ormuz pelo Irã pode forçar o fim do conflito. Cerca de um terço do comércio global e mais de 20% do petróleo exportado no mundo passam pela via, que liga o Golfo Pérsico ao Golfo de Omã.
Seu bloqueio teria impacto sobre o preço do petróleo e aumentaria a pressão internacional para encerrar o conflito. "O fechamento do Estreito de Ormuz afeta não apenas interesses americanos, israelenses ou iranianos", disse Brandão. "Boa parte do petróleo exportado pela Arábia Saudita passa pelo estreito. A China também é uma potência que depende de recursos energéticos exportados via Estreito de Ormuz."
O fim ideal para esse conflito seria diplomático, não militar. Para Fernanda Brandão, isso "só seria viável diante do compromisso do Irã em abrir mão do seu programa nuclear".
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