Israel sustenta guerras em Gaza e Irã com 'tranquilidade', diz analista

Ler resumo da notícia
Além da guerra na Faixa de Gaza, desde outubro de 2023, Israel agora trava um conflito com o Irã, em uma troca de ofensivas após instalações nucleares iranianas serem bombardeadas na sexta-feira. Para especialistas, o exército israelense consegue manter as duas frentes de combate com ''tranquilidade'' devido ao enfraquecimento do Hamas, a alianças estratégicas e a tecnologias de ponta.
O que aconteceu
Apesar da escalada de tensão com o Irã, Israel mantém suas operações no enclave. Mais de 50 pessoas que estavam reunidas perto de um centro de distribuição de alimentos em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, foram mortas durante ataques hoje. Outras 200 ficaram feridas.
Ações em Gaza permanecem, mas com menor intensidade. Segundo Fernando Brancoli, professor de Segurança Internacional e Geopolítica da UFRJ, as Forças de Defesa de Israel realizaram uma reconfiguração de tropas, com uma redução do efetivo terrestre. Os ataques aéreos em Gaza e no Irã, no entanto, favorecem a continuidade operacional, já que não exigem grande contingente humano.
Hamas está enfraquecido e quase ''inoperante'', dizem especialistas. ''Em termos militares, Israel pode agir de uma forma muito tranquila por não ter um adversário muito poderoso nesse momento, não existe uma defesa antiaérea na Faixa de Gaza. E a mesma coisa no Irã'', avalia Kai Enno Lehmann, professor de Relações Internacionais da USP.
Israel aposta em uso de inteligência artificial e tecnologia de ponta para se manter. Caças F?35I e drones são usados para ataques de longo alcance ao Irã, viabilizados por sabotagens prévias das defesas iranianas. Brancoli conta que sistemas de IA também automatizam a seleção de até 100 alvos por dia, assegurando campanhas intensas mesmo com menos militares trabalhando.
Além disso, Israel conta com apoio logístico externo para continuar. Os Estados Unidos têm fornecido informações cruciais, orientação diplomática e cobertura militar ao país amigo. Hoje mesmo, o governo americano está enviando aviões de combate para o Oriente Médio, entre eles os caças F-16, F-22 e F-35.
Essa convergência entre AI, operações secretas, tecnologia de ponta e alianças estratégicas tem permitido que Israel prossiga ambas as campanhas sem colapso operacional. A estratégia de guerra em duas frentes só é possível graças a uma combinação sofisticada de fatores. Fernando Brancoli
Poucas chances de uma operação conjunta entre Hamas e Irã, dizem professores
Brancoli entende que é plausível uma intensificação de cooperação entre as duas forças. O Irã, por meio da Guarda Revolucionária, fornece armas, treinamento e financiamento ao Hamas desde os anos 1990. Além do grupo extremista palestino, os Houthis e o Hezbollah formam uma aliança militar e ideológica prolongada com o país iraniano.
Apesar disso, anda não há evidências de uma operação orquestrada entre eles. ''O Hamas enfrenta capacidades operacionais reduzidas depois dos confrontos de 2023, e o Irã continua cauteloso para não provocar uma escalada direta com potências ocidentais'', argumenta o professor da UFRJ.
Guerra entre Irã e Israel desviou olhar internacional de Gaza
''Não se fala mais sobre Gaza'', pontua Brancoli. Conferências da ONU sobre o reconhecimento da Palestina foram adiadas porque algumas delegações do Oriente Médio não poderiam comparecer devido aos últimos acontecimentos. Protestos que pressionam por acordos humanitários também foram suspensos.
Para Lehmann, deslocamento de foco contribui para o ''objetivo de destruição em Gaza''. ''Enquanto isso, Israel pode continuar as suas ações, causar mais destruição por lá. Alguns partidos que fazem parte do governo têm esse objetivo, para basicamente deixar a Faixa de Gaza inabitável, o que obrigaria os palestinos a buscar abrigo em outras áreas, em outros países.''
Brancoli diz ainda que Israel realinhou o discurso ocidental frente a ''ameaça iraniana''. Segundo o especialista, os ataques recentes fizeram com que países líderes do G7 e da União Europeia defendessem a ''autodefesa preventiva'' e recalibrassem suas críticas em relação ao conflito em Gaza.
O efeito conjunto dessas dinâmicas resultou no congelamento de agendas da ONU, suspensão da pressão por fim imediato de Gaza e revitalização da imagem de Netanyahu como líder de segurança — benefícios claros, ainda que não explicitamente expostos. Brancoli
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.