Como são as usinas nucleares do Irã e por que elas são simbólicas na guerra
Tiago Minervino
Colaboração para o UOL, em São Paulo
21/06/2025 05h30
Israel tem feito uma série de ataques para destruir as usinas nucleares de Fordow e Natanz, principais centros de enriquecimento de urânio do Irã, por acreditar que Teerã usar os complexos para produzir armas nucleares —o que considera um perigo para sua existência. O regime iraniano nega veementemente possuir armamento nuclear e diz que produz energia.
Usina de Fordow
Usina opera no subterrâneo e é composta por cinco túneis escavados dentro das montanhas. Nos arredores da cidade sagrada de Qom, no centro do país, o complexo está a uma profundidade de 90 metros.
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Local torna sua destruição praticamente impossível. A construção fica protegida por uma estrutura que suporta ataques aéreos e possui amplo perímetro de segurança na parte externa para impedir a entrada ou aproximação de pessoas não autorizadas pelo regime.
Fordow tem capacidade para operar 3.000 centrífugas para enriquecer urânio, mas atualmente funciona com 2.700. As estimativas são da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), programa da ONU para questões nucleares.
Usina supostamente pode produzir graus mais puros de urânio que Natanz. Embora seja um complexo menor comparado com Natanz, essa capacidade o torna militarmente mais significativo. Para as principais potências ocidentais, quem consegue enriquecer urânio a 60% de pureza pode enriquecer a 90% —nível usado para a produção de armas nucleares mais potentes.
Únicas imagens da usina foram feitas por satélites. As fotografias revelam a existência de estruturas brancas, que seriam as entradas que levam até a parte subterrânea, onde o maquinário opera no enriquecimento de urânio. Construída desde o começa dos anos 2000, a usina só foi revelada oficialmente em 2009.
Usina de Natanz
A usina de Natanz é considerada o "coração" do programa nuclear iraniano. Erguida na província de Isfahan, ao sul de Teerã, o complexo é dividido em duas partes: uma subterrânea, protegida de ataques aéreos, e outra acima do solo, que ficou seriamente danificada nos recentes bombardeios israelenses, segundo o chefe da AIEA, Rafael Grossi.
Parte subterrânea abriga 16 mil centrífugas, pelo menos 13 mil em funcionamento. Não há detalhes precisos das dimensões da instalação, mas as estimativas é de que o local comporte até 50 mil máquinas. Nessa unidade, o urânio é enriquecido a 5% de pureza, grau considerado baixo para armas nucleares.
A usina acima do solo tem maior poder de enriquecimento de urânio, mas opera com menos máquinas. A parte superior de Natanz trabalha com menos de mil centrífugas e consegue enriquecer o minério com grau de 60% de pureza.
Ao contrário de Fordow, Natanz já foi inspecionada por órgãos de segurança. A medida fez parte do Acordo Nuclear firmado pelo Irã em 2015, mas desde 2018, após a saída dos EUA do pacto, as inspeções na usina ficaram limitadas.
Irã possui muito urânio?
Relatório da AIEA estima que o país possui 142 kg de urânio enriquecido a 60%. Para a ONU, o país tem conseguido avanços significativos em seu programa nuclear, o que elevou a preocupação internacional.
Israel afirma que o Irã possui urânio suficiente para produzir nove bombas nucleares. Oficialmente, Teerã nega que possua armas nucleares, mas como o regime não é transparente sobre seu poderio bélico, não se sabe a real dimensão da força de seu arsenal.
Trunfo de Trump contra Fordow
Apenas os EUA possuem a bomba capaz de destruir Fordow. O país já produziu uma bomba de 13.600 kg, conhecida como "bunker buster", ou GBU-57, que tem a capacidade de destruir bunkers subterrâneos profundos, como Fordow.
Até o momento, EUA não demonstraram que vão conceder esse armamento à Israel. Apesar de o presidente Donald Trump ser aliado do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e ter dado indícios de que apoiará as forças israelenses no conflito, não houve sinal sobre essa arma. Segundo o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, o Pentágono forneceu alternativas ao governo americano sobre os próximos passos a serem tomados em relação ao Irã, incluindo a utilização da GBU-57.
Fordow estaria situada em uma profundidade que a bomba não alcança. Não há consenso se a GBU-57 conseguiria alcançar o complexo, fora isso a instalação também possui uma estrutura interna reforçada com concreto armado.
O uso do explosivo exigiria uma mega operação. A GBU-57 precisaria ser lançada a 12 km de altitude por um bombardeiro B-2, o único capaz de transportá-la. Seriam necessários vários disparos precisos, com chances limitadas de sucesso, já que estruturas de concreto podem barrar seu avanço, mesmo com GPS.
Intervenção traria forte impacto político para os EUA e exigiria invasão do espaço aéreo iraniano. A intervenção colocaria as tropas americanas na região como alvo de retaliações e poderia causar ampla contaminação nuclear na região. Segundo Behnam Ben Taleblu, diretor da FDD (Fundação para a Defesa das Democracias), até agora, Trump tem priorizado a diplomacia.
Embaixador de Israel em Washington diz que seu país tem "várias opções" para lidar com Fordow. No último domingo, Yechiel Leiter, afirmou ao canal de TV americano ABC a possibilidade de enviar tropas ao local, tomar a instalação e destruí-la por completo.