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Israel e Irã: brasileiros vivem dias de terror em meio à guerra

Do UOL, em São Paulo

21/06/2025 05h30

O conflito entre Israel e Irã escalou nos últimos dias com bombardeios que aterrorizaram as duas populações. O UOL ouviu brasileiros, israelenses e iranianos que contaram das mudanças na rotina e a nova realidade da vida sob guerra.

O que aconteceu

Comerciante brasileiro fugiu do Irã por terra. Mateus estava em Teerã no momento em que ocorreu um bombardeio israelense. Ele precisou fugir de táxi para cruzar a fronteira da Turquia.

Correndo para esconderijo. Uma brasileira residente em Israel, que não quis se identificar, estava amamentando seu filho de colo quando teve que correr para se esconder. "Não é a primeira guerra que passamos, não é o primeiro sufoco, não é a primeira vez que vemos mísseis no céu, mas a vida segue na medida do possível", diz ela.

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Mateus estava hospedado a 3 km de distância de uma das áreas que foram bombardeadas. "Nunca achei que teria uma guerra. Até agora eu não acredito. Eu estou chocado", declarou. O brasileiro estava a trabalho em Teerã há mais de um mês.

Com o espaço aéreo fechado, única opção para sair do Irã é por via terrestre. A princípio seu plano era seguir com seus colegas iranianos para o norte do país, na cidade de Qaem Shahr, em Mazandaran. Porém, um de seus amigos, Hebraim, o convenceu a deixar o país e o ajudou a conseguir um táxi até a fronteira com a Turquia.

O recado do amigo foi claro: "Sua família não está aqui, você precisa ir embora. Por mais que você ame o país, vá para sua terra", alertou.

Fuga levou 15 horas e passou por Tabriz, uma das cidades atacadas por Israel. Segundo Mateus, ele saiu de Teerã às 13h, com meio tanque de combustível. Nesse momento, o trânsito estava lento, pois muitos iranianos percorriam o mesmo trajeto para cruzar a fronteira. Foram 600 km percorridos.

Cota de combustível. Outro desafio foi a cota de combustível estabelecida pelo governo, pois a falta de gasolina era uma de suas preocupações do brasileiro. "O governo já tinha falado que cada pessoa só pode abastecer 20 litros", informou.

Súplica a frentista para abastecer mais que a cota permitida. "Tive que dar um dinheirinho para ele. Pedi por favor, explicando que eu precisava ir embora pra minha casa. Tenho três filhos. Comecei a chorar, e implorar", contou. Depois disso, ele conseguiu abastecer o veículo e seguiu o caminho até a fronteira.

Solidariedade em meio à guerra. O brasileiro contou que todos os iranianos conseguiram cruzar a fronteira sem burocracias e exaltou a solidariedade do povo em um momento de guerra. Ao chegar na Turquia foram recebidos por turcos que ofereciam corridas para levá-los a cidades próximas, como Van, que possui um terminal de ônibus, possibilitando a chegada dos fugitivos a locais que estão com o espaço aéreo aberto.

Conflito em tempo real

Brasileira em Israel ainda espera a paz. "Eu realmente sinto que estou vivendo em tempo real o conflito que pode mudar a geopolítica do Oriente Médio, diz Alexandra Briganti, que se mudou para Israel em 2020. "Torcendo muito para que o povo israelense e iraniano possam viver em paz e harmonia novamente", completa ela, que trabalha como padeira em Tel Aviv.

Tecnologia reduz riscos. Por conta do "Domo de Ferro", um sistema de proteção de guerra de Israel, mísseis atirados contra o país são imediatamente identificados por radares. Logo, inicia-se a tentativa de captura das munições antes que atinjam regiões povoadas. Quando há riscos de bombardeios, a população é avisada minutos antes, para que possa se esconder em bunkers.

Corrida aos bunkers. Em alguns casos, a quantidade de bombas é tão grande que o "Domo de Ferro" não consegue identificar. "A primeira sirene foi a mais marcante, pois não teve aviso prévio nos aplicativos do governo. Eu já estava acordada amamentando meu bebê, era por volta das três da manhã, e saímos correndo para o bunker do edifício junto com todos os vizinhos", disse a brasileira que preferiu não se identificar.

Mais segura em Israel do que no Brasil. Apesar do perigo, ela não pensa em voltar para o Brasil e muito menos se mudar para outro país. A mulher disse que tem medo do crescimento do antissemitismo e dos ataques contra judeus nos últimos anos. "Israel é a minha casa, é a terra do meu povo. Apesar de tudo, me sinto muito mais segura aqui do que em qualquer outro lugar".

Vida em bunkers em Israel

Mães temem pela vida dos filhos. Marina Mesri, israelense e mãe de dois filhos, disse que precisa correr três andares abaixo com eles toda vez que as sirenes tocam. "Eles estão acostumados, como se isso fosse a vida".

Eles foram com o pai para viajar um pouco, apenas para sair por meia hora para respirar. Um alarme tocou e eles precisaram encontrar um abrigo. Logo após o alarme, veio uma bomba. Eu expliquei que o alarme está salvando nossas vidas, mas é muito para crianças pequenas entenderem. Estou com medo e eu rezo por eles, não por mim. Marina Mesri

Perda de entes próximos para a guerra. Yosef, parente de Marina, perdeu a vida em campo. Ele tinha 22 anos, era do exército israelense e havia acabado de se casar. Ela também contou que chora há dias desde que foi ao funeral de vizinhos de uma vila árabe —uma mãe, tia e duas crianças— que foram assassinados em meio ao confronto."É realmente horrível", lamenta Marina.

Deixando a família para trás

Iraniana foi surpreendida com a guerra quando foi visitar a família. "Toda vez que começava [o bombardeio], eu entrava em pânico e apenas abraçava minha família", disse Delaram Azad, uma estudante de 25 anos que nasceu no Irã. Ela mora na Suécia e foi visitar a família no país natal, mas precisou fugir via Azerbaijão.

Delaram disse que viu explosões muito próximas às casas. A estudante gravou um bombardeio a poucos metros do próprio lar, e decidiu sair de Teerã após a terceira noite de explosões.

Sair e deixar a família no Irã. "É um sentimento nojento ter a possibilidade de sair enquanto toda a minha família e parentes ainda estão no Irã. Ainda estou preocupada com o que Israel é capaz de fazer", disse a jovem.

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